A covid-19 tirou seu olfato? Um nariz biônico pode ser a solução
Anosmia é a incapacidade de cheirar, condição que tornou-se mais comum, desde a pandemia de covid-19.
No entanto, outras doenças, como Alzheimer, tumores e lesões cerebrais também podem fazer com que as pessoas percam o olfato.
De acordo com o The Washington Post, entre 1 e 2% da população dos EUA tem dificuldades com o olfato, uma condição que piora com a idade.
Os jornais também apontam que, mundialmente, 15 milhões de adultos sofrem com a perda do olfato, após terem tido covid-19.
O tratamento atual para pessoas que sofrem de anosmia é limitado, com apenas três opções disponíveis:
- Esperar e torcer para que o olfato volte por si só.
- Medicação esteroide prescrita para reduzir a inflamação e acelerar a recuperação.
- Praticar a reabilitação do olfato, onde os pacientes são expostos a odores familiares diariamente, na esperança de restaurar os nervos do nariz e do cérebro.
Recentemente, dois pesquisadores parecem ter encontrado uma solução definitiva para quem deseja recuperar o olfato.
Dr. Richard Costanzo, professor de fisiologia e biofísica da Universidade da Virgínia Commonwealth, e o Dr. Daniel Coelho, especialista em otorrinolaringologia, trabalham na criação de uma nova neuroprótese, apelidada de "nariz biônico", capaz de ajudar pessoas a recuperar o olfato.
Foto: Genia Brodsky e Noam Sobel (The Weizmann Institute) - (2010) PLoS Computational Biology Issue Image, vol. 6(4) abril de 2010. PLoS Comput Biol 6(4): ev06.i04. doi:10.1371/image.pcbi.v06.i04, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16938376
O Dr. Costanzo (foto) foi o co-fundador do Centro de Distúrbios do Olfato e Paladar da Virginia Commonwealth University, o primeiro nos Estados Unidos, aberto na década de 1980.
Foto: Virginia Commonwealth University
De acordo com o IEEE Spectrum, após muitos anos de pesquisa sobre a perda de olfato, Dr. Costanzo decidiu explorar uma solução de hardware, para ajudar pacientes, na década de 1990.
Costanzo decidiu trabalhar em colaboração com o Dr. Coelho (foto), que tinha experiência em implantes coclear, próprio para pacientes com dificiência auditiva.
Foto: Virginia Commonwealth University
Costanzo disse ao Washington Post que o implante olfativo é baseado no mesmo conceito do implante coclear, que permite a pacientes surdos ouvirem.
O IEEE Spectrum informou que os dois especialistas começaram a falar sobre o projeto em 2011, quando revelaram que uma prótese para o olfato poderia ser muito semelhante a um implante coclear.
Coelho disse à publicação: "O implante capta algo do mundo físico e o transforma em sinais elétricos, que vão diretamente a partes estratégicas do cérebro".
Em 2016, Coelho e Costanzo finalmente obtiveram uma patente para seu sistema de implante olfativo, nos EUA. Eles têm trabalhado com outros talentosos colaboradores para tornar o projeto real a acessível.
De acordo com o IEE Spectrum, a equipe inclui "um especialista em nariz eletrônico, da Inglaterra, vários médicos, de Boston, e um empresário, de Indiana (EUA)".
Apesar de contar com um "time dos sonhos", Costanzo alerta que o aparelho ainda tem um longo caminho a percorrer, já que o processo de cheirar é complexo. Será necessário muito tempo até que funcione corretamente.
Costanzo explicou ao Washington Post como funciona nosso olfato. Segundo ele, temos a capacidade de cheirar devido a células olfativas receptoras. Estas estão na parte superior do nariz e detectam vapores químicos no ar.
Essa informação olfativa é então enviada pelas células através de fibras nervosas, que passam por aberturas na base do nosso crânio. Depois, se conectam ao bulbo olfativo, localizado em nosso cérebro.
Foto: Por Patrick J. Lynch, ilustrador médico - Patrick J. Lynch, ilustrador médicoFile:Head_olfactory_nerve.jpg, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=68370471
“O bulbo olfativo compartilha essas informações com o resto do cérebro e é justamente esse processo que resulta na percepção do cheiro, como o aroma de uma laranja ou a fragrância de uma rosa”, disse Costanzo ao Washington Post.
Costanzo reconheceu que duplicar esse processo sensorial é particularmente desafiador: "O problema é que não sabemos quais propriedades físicas dos odores químicos são importantes para codificar os diferentes cheiros que existem".
Um detector de monóxido de carbono, por exemplo, funciona como um nariz eletrônico simples.
No entanto, esses dispositivos não conseguem distinguir ou detectar uma grande variação de odores, como fazem os seres humanos.
Assim, Costanzo e Coelho decidiram contornar completamente as células olfativas danificadas em seu protótipo e, em vez disso, simplesmente estimular o cérebro de maneira direta, com um conjunto de eletrodos implantados.
A dupla desenvolveu seu nariz biônico através de uma combinação de microeletrônica, processamento de dados e inteligência artificial.
Costanzo explicou ao Washington Post que uma pequena peça externa de detecção de odor enviará sinais para um chip, gerando "impressões digitais únicas para diferentes cheiros".
Em seguida, as informações serão enviadas pelo chip, por meio de ondas de rádio, para um receptor no cérebro do indivíduo, que estimulará as áreas responsáveis pela percepção do cheiro.
Apesar do projeto já ter resultados positivos, Costanzo não quer que as pessoas pensem que será algo a que terão acesso num futuro próximo, pois o dispositivo levará tempo para ser aperfeiçoado.
Já existem planos para construir uma versão de protótipo clínico, em breve. No entanto, Dr. Coelho disse ao Washington Post: "Existem algumas coisas importantes que ainda precisam ser postas em prática, mas há muito poucos motivos para pensar que este dispositivo não funcionará."