A derrota militar da qual a Rússia se envergonha
Embora a Rússia tenha uma história repleta de vitórias militares, a Batalha de Tsushima, com o Japão, em 1904, não trouxe o resultado esperado aos governantes do país.
Naquele ano, os dois países estavam em guerra, devido a ambições imperiais. Um dos principais pontos de discórdia era o Port Arthur, uma base naval alugada à Rússia, no nordeste da China, a oeste da Península Coreana.
O porto de Vladivostok, no Oceano Pacífico, congela durante os meses de inverno, ficando inútil para o comércio marítimo ou para a defesa naval. Assim, Port Arthur, que fica mais próximo do Japão do que da Rússia, foi o primeiro alvo da disputa, já que pode ser usado todo o ano.
Logo nas batalhas iniciais, a Frota Russa do Pacífico foi dizimada, mas o czar Nicolau II não aceitou a derrota e decidiu enviar a Frota do Báltico, numa viagem de 28 mil quilômetros de distância, para quebrar o bloqueio de Port Arthur.
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O almirante Zinovy Petrovich Rozhestvensky foi o escolhido para liderar a expedição de São Petersburgo a Port Arthur. Ele era conhecido por ser autoritário e sofrer com acessos frequentes de raiva.
A Frota do Báltico passou a ser chamada de Segunda Frota do Pacífico e deixou o porto de São Petesburgo em 16 de outubro de 1904. Embora o almirante fosse experiente, a maior parte da tripulação era composta por recrutas do interior da Rússia, com pouca ou nenhuma experiência marítima.
Os problemas não foram poucos. Logo depois de partir, um navio encalhou, outro perdeu a âncora e dois colidiram, inutilizando um deles.
A paranoia logo tomou conta da tripulação. Quando estavam entre a Dinamarca e a Suécia, parte da frota começou a atirar contra os próprios navios russos, pensando que fossem japoneses à espera deles.
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A Marinha Imperial Russa era composta por navios frágeis, incapazes até mesmo de atingir pequenos navios civis.
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Quando encontraram com uma frota de traineiras britânicas, em Dogger Bank, a leste da costa da Inglaterra, cometeram o outro erro, atacando o inimigo errado.
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O incidente do Dogger Bank, como ficou conhecido, quase desencadeou uma guerra entre a Rússia e o Império Britânico, depois que a Frota do Báltico disparou contra barcos de pesca, durante 20 minutos.
A falta de experiência da tripulação fez com que perdessem munição: o navio de guerra chamado Oryol disparou 500 tiros, sem alvo certo.
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Como resposta, o governo britânico decidiu revogar o acesso ao Canal de Suez (foto), no Egito. Então, Rozhestvensky e sua frota tiveram que seguir a rota panorâmica, ao redor do Chifre da África, para chegar ao Oceano Índico.
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Como a Frota do Báltico dependia de carvão, Rozhestvensky optou por manter grandes cargas deste mineral no convés. No entanto, a consequência foi devastadora, matando vários marinheiros com excesso de fuligem.
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Ao ancorar na ilha de Madagascar, os oficiais permitiram que a tripulação levasse animais exóticos para a viagem, como lêmures, cobras e crocodilos. O problema é que muitos deles escaparam e esconderam-se nos confinamentos dos navios.
Outro oficial da alta patente achou que seria uma boa ideia comprar toneladas de cigarros com ópio. Mas o resultado foi trágico: muitos marinheiros acabaram viciados.
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Para piorar, o sistema de refrigeração de um dos navios quebrou, obrigando-os a jogar carne podre ao mar. A carne atraiu tubarões, preocupando toda a tripulação.
Quando o Czar Nicolau II enviou um barco de suprimentos à Frota do Báltico, em vez de comida e munição, havia apenas casacos de pele e botas.
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As más notícias não pararam tão cedo. Em 2 de janeiro de 1905, Port Arthur foi dominado pelos japoneses. Em terra, as forças russas recuavam e, como se nao bastasse, Rozhestvensky apresentou uma carta de renúncia, que foi recusada pelo czar Nicolau II.
Depois de perder o Port Arthur, o plano era chegar ao porto de Vladivostok, evitando ser detectado pela Marinha Imperial Japonesa. Mas esta furtiva missão chegou ao fim no Estreito de Tsushima, entre o Japão e a Coreia.
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Na noite de 27 de maio de 1905, depois de uma longuíssima viagem, a Frota do Báltico finalmente deparou-se com um navio de guerra japonês. A ironia é que o confundiram com outro navio russo, até serem fortemente atingidos.
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Depois de tantos percalços, Rozhestvensky, finalmente, enfrentaria o verdadeiro inimigo. O confronto resultou na morte de mais de 4 mil soldados russos. Seis navios de guerra foram afundados e outros dois foram capturados, pondo fim à Frota do Báltico. Rozhestvensky sobreviveu à luta, mas ficou inconsciente durante a maior parte do conflito.
A batalha naval foi tão acirrada que o czar foi forçado a se render, assinando o Tratado de Portsmouth, em setembro de 1905. O presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, foi fundamental nas negociações.
Durante seu período de recuperação, em um hospital japonês, Rozhestvensky recebeu a visita do almirante Tojo, seu colega no conflito.
Tojo disse a Rozhestvensky que ele havia cumprido com seu dever, assim como os outros soldados envolvidos na batalha.