A hora mais sombria de Zelensky
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vive um dos seus piores momentos. Seu apoio internacional enfraquece, mas também surgem sintomas de desgaste dentro do seu próprio país.
Depois de resistir heroicamente aos russos e até ganhar terreno sobre o inimigo, a contraofensiva que Zelensky promoveu não tem dado os resultados esperados.
O general Valery Zaluzhn (na imagem, um grafite com seu rosto) garantiu, recentemente, ao The Economist, que o conflito estava em um “impasse” e que não estava previsto nenhum “avanço profundo” na linha de frente.
Zelensky repreendeu o general e o incidente aumentou a sensação de que a unidade foi quebrada dentro das forças militares e políticas ucranianas. De fato, já em julho, Zelensky demitiu Gregori Galaga, comandante das forças especiais, e, em setembro, fezx o mesmo com Oleksiy Reznikov, ministro da Defesa (foto).
Ainda mais impressionante é o ataque frontal que Zelensky recebeu do carismático prefeito de Kiev, o ex-boxeador Vitali Klitschko.
Vitali Klitschko ousou dizer, numa entrevista ao Der Spiegel (reportada pelo The Independent) que Zelensky estava a pagar pelos seus erros e que havia se tornado um autocrata. “Em algum momento não seremos mais diferentes da Rússia, onde tudo depende do capricho de um homem”, afirmou.
Zelensky parece estar a perder o crédito que lhe foi dado como imagem de um Davi corajoso enfrentando o Golias russo. Os analistas percebem até mesmo fadiga entre pessoas de sua equipe.
O The New York Times publicou uma reportagem, por ocasião da visita de Zelensky a Biden, em 12 de dezembro, na qual fala da “contraofensiva fracassada” da Ucrânia. O fato é que o inverno tem sido muito rigoroso, paralisando as operações e complicando a vida no front e na retaguarda.
O The New York Times também usa o termo “momento crítico” para se referir a esta hora sombria que Zelensky atravessa. Tanto a nível interno como no estrangeiro.
Muitos membros republicanos do Congresso estão relutantes em continuar a gastar dinheiro na guerra da Ucrânia. Neste mês de dezembro, o Senado bloqueou fundos destinados a ajudar o país invadido. E este cenário pode piorar.
Se Trump conseguir concorrer ao cargo de presidente e derrotar Joe Biden, presume-se que o apoio à Ucrânia cessará. E isso seria um golpe muito duro para Zelensky.
Além disso, há a atenção atraída pela guerra de Israel contra o Hamas. O mundo não pode ficar à espera de duas guerras cruciais, especialmente quando o conflito na Ucrânia parece tornar-se crônico e sem solução, num futuro próximo.
À medida que a guerra avança, Zelensky tem de enfrentar o tédio do seu povo. Há notícias sobre jovens que tentam fugir da Ucrânia para não serem obrigados a lutar na linha de frente, cujo número de vítimas só aumenta.
Zelensky, por enquanto, continua demonstrando uma atividade incansável: participando de todos os eventos internacionais que possam lhe fornecer apoio. Um dos últimos foi a posse do polêmico Javier Milei, já presidente da Argentina.
Resistir é o único caminho rumo à vitória da Ucrânia. Ou, pelo menos, estabelecer uma negociação com a Rússia que permita uma saída digna.
Por enquanto, Zelensky permanece para uma parte significativa do mundo aquele herói inesperado que conseguiu liderar um povo para infrentar a invasão de um gigante. Mas será que essa imagem durará sempre?