A infância de Vladimir Putin: tragédia, pobreza e esportes
Vladimir Putin nasceu em Leningrado (agora São Petersburgo) no dia 7 de outubro de 1952, em um ambiente pobre, na ex-União Soviética. Sua mãe trabalhava em uma fábrica e seu pai era um soldado da Marinha Soviética, que foi gravemente ferido em combate na Segunda Guerra Mundial.
Imagem: De Kremlin.ru, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5389243
Seus dois irmãos morreram após adoecerem, um deles de difteria, durante a guerra. Sua avó materna e dois de seus tios também morreram na Segunda Guerra Mundial.
Na foto, Vladimir Putin e sua mãe.
Imagem: De Kremlin.ru, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5389243
Em entrevista à BBC, o jornalista Steven Lee Myers (correspondente em Moscou do The New York Times e autor de uma biografia intitulada 'The New Tsar') definiu como crucial, na infância de Putin, aquele trágico vestígio de uma guerra, cujas consequências viu sua família sofrer. "Acho que essa experiência, essa mitologia em torno da guerra, é algo com o qual Putin cresceu e é fundamental para seu personagem", disse.
Putin cresceu em um bairro humilde de Leningrado e sua principal diversão era caçar ratos, como ele mesmo contou e se reflete em uma espécie de autobiografia intitulada 'First Person: An Astonishingly Frank Self-Portrait by Russia's President Vladimir Putin' ('Primeira pessoa: um auto-retrato surpreendentemente franco do presidente da Rússia, Vladimir Putin', em tradução livre).
A história do rato que atacou Putin é famosa e já foi contada várias vezes. Segundo o Daily Mirror, o presidente diz no livro mencionado anteriormente: “Uma vez eu vi um rato enorme e o persegui pelo corredor até encurralá-lo em um canto. De repente, ele se virou e se jogou em mim. Fiquei surpreso e assustado. Agora era o rato que estava me perseguindo."
Naquela Leningrado que foi palco da infância de Putin, abundavam os apartamentos comunitários, onde várias famílias viviam juntas, e Putin cresceu em um deles. Vera Dmitrievna Gurevich, professora do atual presidente russo, descreveu da seguinte forma essas casas ao Daily Mirror: “Não havia água quente, nem banheira. O banheiro era horrível. E estava tão frio...”
Outro detalhe revelador sobre as origens da família de Putin é a profissão de seu avô paterno: ele era cozinheiro de Stalin, segundo perfil biográfico assinado por Roger Cohen no The New York Times.
Assim, Putin cresceu, embora pobre, com histórias de família sobre a grandeza do Império Soviético e como, com grande sacrifício, a região venceu a guerra contra os alemães. Já adulto, ele sempre insistiu em recuperar esta grandeza para seu país.
De fato, a União Soviética deu a Putin a oportunidade de estudar e ele a aproveitou bem. Aprendeu alemão no colégio e é fluente no idioma. Depois, formou-se em Direito, mas seu destino não era ser um homem da lei. De fato, em 1975, juntou-se à temida KGB, os serviços secretos soviéticos.
Imagem: De Kremlin.ru, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4970161
Outro determinante da personalidade de Putin, forjada na infância, foi sua vontade de lutar, de nunca dar as costas ao confronto se a ocasião assim exigisse. Por isso, desde muito jovem, praticou artes marciais. Ele é faixa preta de judô.
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Se Putin sonhou, em sua infância, em virar um herói da União Soviética, sua carreira na KGB deve tê-lo frustrado. Ele não foi designado para Berlim O r i e n t a l, o paraíso dos grandes espiões soviéticos, e sim para Dresden, onde se dedicou mais à papelada do que a qualquer outra coisa.
Em Dresden, Putin testemunhou o colapso do comunismo em toda a Europa. Ele renunciou ao socialismo soviético para se adaptar aos novos tempos e retornou à sua Leningrado natal, já prestes a virar São Petersburgo novamente, como no tempo dos czares.
O poder atraiu Putin muito cedo, e é por isso que, depois que ele deixou a KGB (enquanto começava a formar sua própria biografia familiar), entrou na política local em São Petersburgo. Assim, aproximou-se de Boris Yelstin, um homem forte da Rússia em transição do socialismo para um novo regime.
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Todas as biografias de Putin concordam que ele teve uma infância difícil, abundante em brigas de rua e bastante negligenciada na família. Isso, certamente, contribuiu a moldar seu caráter.
Masha Gessen, autora de 'The Man Without A Face: The Unlikely Rise Of Vladimir Putin' ('O homem sem rosto: a improvável ascensão de Vladimir Putin', em tradução livre) argumenta que Putin era uma criança "abandonada à própria sorte". E que sua experiência o levou a pensar que, na vida, você sempre tem que acertar primeiro. Certamente isso o guiou em seu trabalho de governar e lutar. Mas agora ele é um adulto e suas decisões vão além de um rato morrer ou outra criança voltar para casa com o rosto machucado.
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