A pandemia do COVID-19 eliminou uma perigosa linhagem de gripe?
A cepa Yamagata, um patógeno da gripe que já circulou pelo mundo, conhecida por causar doenças e mortes a cada ano, desapareceu. Desde março de 2020, os cientistas não conseguem sequenciar uma amostra compatível com esta cepa.
O SARS-CoV-2 começou a espalhar-se pelo mundo juatemente em 2020. Enquanto ainda vivíamos restrições, com distanciamento social e uso constante de máscaras, parece que o mundo microscópico dos vírus também sofreu uma profunda alteração.
Com todas essas medidas de proteção, os casos de gripe caíram impressionantes 99%, em abril de 2020, em comparação com abril de 2019 (com níveis semelhantes de testes), de acordo com um artigo publicado na National Review of Microbiology. Com isso, a diversidade genética dos vírus da gripe diminuiu drasticamente.
Os vírus da gripe mais comuns se enquadram nos grupos A e B. O grupo B circula entre os humanos há mais de 80 anos e são classificados como de linhagem Victoria e linhagem Yamagata.
Imagem: Vírus Influenza B, Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), via Wikimedia
Os subtipos associados ao grupo A recebem nomes como, por exemplo, A(H1N1) e A(H3N2), que circulam atualmente entre os humanos e são mais frequentes que os do grupo B.
No entanto, desde 2015, a gripe tipo B demonstrou uma atividade epidêmica incomumente alta. A cada ano, são registrados cerca de 290 a 650 mil mortes por gripe. Destas, segundo o Atlantic, a gripe do tipo B corresponde a aproximadamente de um quarto dos casos.
O Yamagata e seu homólogo da linhagem B, o Victoria, geralmente evoluem mais lentamente do que os vírus da linhagem A, principalmente porque infectam apenas seres humanos, p o r c o s e focas. Em contrapartida, o grupo A atinge uma gama mais ampla de mamíferos e aves.
Os vírus do grupo A são tipicamente mais perigosos, devido, em parte, à sua rápida evolução. A exemplo disto, estão a gripe espanhola de 1918, H1N1 e a gripe aviária.
Mesmo antes da pandemia de COVID-19, Victoria quase ultrapassava a Yamagata. As duas competem como irmãos pela última fatia do bolo.
Yamagata continua entre as quatro linhagens que compõem a vacina sazonal, ao lado de A(H1), A(H3) e B(Victoria).
A questão está em debate, mas os cientistas não querem removê-la da vacina, pois ainda é cedo para afirmar que desapareceu completamente. “Se continuar ausente por mais dois ou três anos, será mais convincente”, disse Jayna Raghwani, bióloga computacional da Universidade de Oxford, ao Atlantic, em 2023.
De acordo com o estudo de 2022, publicado na National Review of Microbiology, casos de Yamagata foram relatados em vários países. No entanto, não foram nem sequenciados, nem registrados no banco de dados da Global Initiative on Sharing All Influenza Data.
Os cientistas por trás do estudo sugerem que as evidências não foram registradas no banco de dados, porque podem ser derivadas de vacinas, já que tinham cargas virais superbaixas. Cassos assim foram relatados algumas vezes nos Estados Unidos e na Escócia.
Até mesmo os cientistas mais convencidos de sua extinção dizem que ainda é cedo para confirmar isso. De acordo com o Atlantic, o vírus poderia estar escondido, sendo uma potencial ameaça para pessoas imunocomprometidas ou com uma infecção crônica.
Se os cientistas confirmarem sua extinção, como é esperado, as vacinas contra a gripe podem voltar a ser como eram no início dos anos 2010, quando eram trivalentes (com dois vírus A e um B).
Os cientistas especulam que, se Yamagata realmente estiver exinta, Victoria pode começar a evoluir mais lentamente, pois não tem mais seu parente viral para trocar material genético.
Certamente, a vacina que contém Yamagata forneceu “proteção substancial” na temporada de gripe de 2022-2023, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Nos EUA, a vacina contra a gripe reduziu a hospitalização em quase 75% e, na Europa, diminuiu as infecções por influenza A em 27% e, por influenza B, em 50%.