A queda de Putin: desejo do Ocidente ou realidade iminente?
Passaram-se mais de seis meses desde o início da guerra na Ucrânia e Putin não pode cantar vitória. A Ucrânia recuperou terreno, contra todas as probabilidades e, agora, a liderança de ferro do presidente da Rússia começa a ser questionada.
Quanto às críticas externas, Putin teve que ouvir de um líder mundial próximo à Rússia, Narendra Modi (primeiro-ministro da Índia), sobre a inconveniência do conflito militar em andamento.
Aconteceu em uma cúpula realizada em Samarcanda, no dia 16 de setembro. Segundo The New York Times, Modi disse a Putin: "Sei que a era de hoje não é de guerra (...) pode avançar no caminho da paz nos próximos dias".
Neste mesmo evento, houve uma reunião entre Putin e Xi Jinping, o presidente da China. Foi a própria Rússia, segundo a BBC, que admitiu a "preocupação" de Xi com o progresso da guerra.
Mas não é só seu apoio internacional que está enfraquecido. Existe também uma onda de fortes críticas internas que, até agora, não havia ocorrido em tal escala.
Dezenas de políticos em cidades como Moscou e São Petersburgo apoiam uma iniciativa que pede a renúncia de Putin por "traição à pátria". Eles argumentam que a "operação especial" na Ucrânia "prejudica a segurança da Rússia e de seus cidadãos".
Mesmo em seu ambiente ideológico, Putin está encontrando resistência. Ramzan Kadyrov, chefe da República da Chechênia (e pró-Rússia), falou no Telegram (de acordo com o The New York Times) de "erros" nesta guerra. Participantes de programas da televisão russa ousaram, inclusive, repetir sua opinião, algo não muito comum.
Por sua vez, Gennady Zyuganov, presidente do Partido Comunista Russo, até agora sempre fiel a Putin, pediu uma declaração oficial de guerra e um apelo à "mobilização geral".
Passar de "operação especial" para uma declaração oficial de guerra à Ucrânia significaria convocar civis e enviar recrutas para as linhas de frente. Algo que afetaria milhares de lares e poderia mudar os critérios de quem apoia Putin.
Assim, a Putin só resta-lhe esperar pelo chamado "Inverno Geral", uma mudança de estação que o favorece, especialmente quando a Europa sofre cortes no fornecimento de gás russo e tem que enfrentar uma séria crise.
No entanto, já existem alguns analistas que desmistificam a relação com aquele inverno russo que esmagou Napoleão e Hitler. A neve no país de Putin parou as invasões da França e da Alemanha, mas, desta vez, a Rússia atua como país invasor.
Uma longa análise do The New York Times cita a sempre comentada possibilidade de um golpe palaciano que desloque Putin. Para Abbas Gallyamov, conselheiro político que escreveu discursos para Putin antes de estabelecer-se em Israel, se as derrotas continuarem, pode haver uma reação das elites na Rússia.
Abbas Gallyamov argumentou no The New York Times: “A força é a única fonte de legitimidade de Putin. E em uma situação em que isso se esgote, sua legitimidade começará a cair para zero”.
A questão é que não há um sucessor claro para Putin no horizonte. Sergei Shoigu (foto) foi cogitado por muito tempo, mas sua posição como Ministro da Defesa o coloca em uma situação delicada, na opinião pública, devido ao atual rumo da guerra.
Embora haja muito desejo por parte do Ocidente na solidão e fraqueza de Putin, de acordo com todas as pesquisas disponíveis, seu apoio popular na Rússia continua alto.
Embora as notícias sejam realmente ruins, o Kremlin permanece firme, alegando que nada de substancial foi perdido na batalha e chamando as acusações de crimes de guerra de "mentiras". Putin ainda está de pé.