A queda do Silicon Valley Bank: um novo crash mundial?
A economia mundial está em alerta diante da onda de choque causada pela inesperada falência do banco estadunidense, Silicon Valley Bank, no último dia 10 de março.
O acontecimento poderia representar a fragilidade de todo o sistema bancário e atingiu duramente Wall Street, Londres, além de outros mercados de ações europeus.
Imagem: Roberto Júnior / Unsplash
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, concedeu uma entrevista coletiva e foi firme em suas declarações: “Fiquem tranquilos: o sistema bancário é sólido, seus depósitos estão seguros”.
Há preocupação em se a falência do Silicon Valley Bank poderia provocar uma espécie de efeito de contágio. O fato é que outra entidade norte-americana, o Signature Bank, viu como os seus clientes sacaram grandes somas de dinheiro. Assim, também foi condenada à falência, no dia 12 de março. Mas são dois casos muito específicos.
Em meio a essa tempestade, no dia 15 de março, veio a notícia de que o Credit Suisse, outra grande instituição financeira, também tinha problemas.
Quando se soube que o Saudi National Bank parou de injetar dinheiro no Credit Suisse, o valor dessa instituição despencou.
Na realidade, a falência do Silicon Valley Bank e a má situação do Credit Suisse têm origens complexas e diversas. Mas tudo piora muito rapidamente quando a credibilidade da solvência das instituições bancárias é questionada. E isso está a acontecer agora.
Joe Reninson e Jason Karaian explicaram ao The New York Times como a Standard & Poor's Global Ratings (uma das maiores agências de classificação do mundo) admitiu, por um lado, que os bancos europeus estavam seguros. Entretanto, ao mesmo tempo, acrescentaram: "Dito isso, estamos cientes de que a falência do Silicon Valley Bank abalou a confiança.”
Sheila Bair, ex-presidente da US Federal Deposit Insurance Corporation observou, também para o The New York Times, como a perda de confiança pode levar à falência de uma instituição bancária e citou o "problema de Jimmy Stewart", referindo-se ao filme 'A Felicidade Não Se Compra' ('Do Céu Caiu uma Estrela', em Portugal).
"É o clássico problema de Jimmy Stewart (...) Se todo mundo começar a sacar dinheiro de uma vez, o banco terá que começar a vender alguns de seus ativos para devolver o dinheiro aos depositantes", disse.
Experiências do passado servem para entender ou prever o que pode acontecer. Uma delas, foi quando, em 15 de setembro de 2008, o banco de investimentos Lehman Brothers declarou falência. Esse foi o início de uma grande crise global.
A crise de 2008 teve várias causas mas, sobretudo, pesou muito a existência de uma imensa quantidade de ativos tóxicos que inundaram o sistema bancário: basicamente empréstimos que não iam ser pagos. Esse elemento de risco, em princípio, não ocorre hoje, mas... e outros?
Linette López, em um artigo contundente publicado no Business Insider explica a falência do Silicon Valley Bank (SVB) da seguinte forma: "O SVB ajudou a impulsionar a bolha tecnológica, e a bolha tecnológica ajudou a impulsionar o SVB, mas agora tudo isso estourou."
Se o que aconteceu no Silicon Valley Bank tem uma explicação concreta (a crise tecnológica), sua falência não deve afetar outros bancos cujas atividades são mais diversificadas.
O mais lógico seria que o pânico econômico desencadeado desaparecesse nos próximos dias e a calma voltasse. Mas o dinheiro é temeroso e temos a lembrança de como, algumas horas antes do crash de 2008, analistas de prestígio argumentaram que não haveria crise. Em quem confiar?
Em situações críticas, os investidores tendem a debandar. Um deles, que retirou seu dinheiro do Silicon Valley Bank e ajudou a provocar sua falência, disse ao The New York Times: "Tanto amor e desejo que tínhamos pelo SVB, a primeira coisa (diante da crise) foi o medo". Veremos se o medo não cria mais problemas econômicos globais.