Ocidente ou Rússia: quem realmente iniciou alertas sobre o uso russo de armas nucleares?
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fez um alerta preocupante ao Ocidente, durante uma entrevista no programa '60 Minutes', do canal Rossiya-1.
Lavrov, que é um aliado próximo de Vladimir Putin, disse que os inimigos do país não deveriam desafiar a disposição do Kremlin de usar armas nucleares se a segurança do Estado russo for ameaçada.
Lavrov reafirmou o comprometimento da Rússia "em salvaguardar os legítimos interesses nacionais por quaisquer meios necessários".
No entanto, ele observou: "Não pretendemos aumentar os riscos do uso de armas nucleares, pois defendemos firmemente o princípio de que não há vencedores em um conflito nuclear", de acordo com uma tradução de seus comentários publicada pela TASS.
Lavrov explicou que não foi a Rússia quem iniciou discussões sobre o uso de armas nucleares e, sim, o Ocidente.
"Todas as outras propostas, incluindo conceitos para uma guerra nuclear ou declarações semelhantes, originaram-se exclusivamente de capitais ocidentais", foram suas palavras.
O Ministro das Relações Exteriores da Rússia acusou vários estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de fazer declarações ameaçadoras sobre os estoques nucleares da Rússia e a possibilidade de Moscou usar uma arma nuclear no futuro.
O fato é que, há apenas dois meses, a Rússia reformulou sua doutrina nuclear com o objetivo de facilitar sua resposta às ameaças modernas que diz enfrentar.
De acordo com a BBC News, segundo as mudanças aprovadas por Putin em 19 de novembro, qualquer ataque em larga escala à Rússia com armas convencionais, drones ou aeronaves poderia atender às condições necessárias para uma resposta nuclear de Moscou.
Além disso, qualquer ataque desse tipo à Belarus ou qualquer ameaça crítica à soberania da Rússia também justificariam uma retaliação nuclear.
A nova doutrina nuclear da Rússia define ainda que qualquer agressão à Rússia por um estado-membro de um bloco, ou uma potência não nuclear apoiada por uma potência nuclear, seria vista como agressão vinda de todo o grupo, informou a BBC.
A Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (The International Campaign to Abolish Nuclear Weapons) explicou que as atualizações da doutrina nuclear da Rússia “eram perigosamente ambíguas”. E acrescentou que elas “confundem a linha entre ataque convencional e nuclear e prejudicam a previsibilidade, aumentando o risco de guerra nuclear”.
Apesar da afirmação de Lavrov de que o Ocidente era responsável por toda a retórica da guerra nuclear, muitos líderes políticos na Rússia fizeram declarações preocupantes e ameaças sobre o uso de armas nucleares por Moscou.
A Reuters lembrou que Vladimir Putin emitiu pelo menos 11 alertas nucleares abertos entre 24 de fevereiro de 2022 e 13 de março de 2024.
“O presidente Putin tem usado cada vez mais a ameaça do arsenal nuclear russo para pressionar o Ocidente sobre seu apoio militar e diplomático à Ucrânia após a invasão da Rússia em fevereiro de 2022”, explicou Claire Mills, da House of Commons Library, do Parlamento britânico.
“Como parte desta campanha de pressão nuclear, a Rússia colocou suas armas em alerta máximo, testou e implantou novas capacidades nucleares, ameaçou retomar os testes nucleares e suspendeu a participação em um importante tratado de controle de armas nucleares com os EUA”, acrescentou Mills.
Siga-nos aqui e verá, a cada dia, conteúdos que lhe interessam!