Assim é o sangue "artificial" que poderia salvar milhares de vidas
Há anos e anos a ciência busca uma alternativa para estabilizar um paciente com hemorragia, sem a necessidade de transfusão de sangue. Na verdade, no início, receber o sangue de outra pessoa era, provavelmente, uma sentença de morte. É por isso que até o leite foi testado como substituto.
Agora, parece que, finalmente, uma solução viável foi alcançada. Conforme relatado pela Science, o ErythroMer é um produto feito de hemoglobina humana "reciclada" dentro de uma membrana que emula nossas células originais e é compatível com qualquer tipo sanguíneo. A ideia foi desenvolvida por Allan Doctor, da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, e outros colegas.
Nosso sangue é basicamente feito de plasma e células. O plasma é um líquido amarelado com água, proteínas e sal. Depois temos: plaquetas, que atuam na coagulação depois de sofrermos um corte ou ferimento; glóbulos brancos, que combatem infecções; e glóbulos vermelhos, onde está a hemoglobina. Esta é a proteína responsável por transportar o oxigênio dos pulmões para o resto do corpo.
Os glóbulos vermelhos são o tipo de célula mais abundante em nosso corpo. Conforme apontado pela Science, esta partícula em forma de disco é produzida, constantemente, pela medula óssea a uma taxa de 2 milhões por segundo e se regenera a cada 4 meses. Isto significa que, neste momento, existem 30 bilhões (em escala americana) destas células percorrendo os 20.000 quilômetros de vasos sanguíneos do seu corpo.
De acordo com um artigo publicado na National Library of Medicine por Sen Gupta Anirban, “em lesões traumáticas e hemorragias, a oxigenação dos tecidos fica gravemente comprometida e isso pode resultar em danos drásticos aos tecidos e órgãos vitais". E continua: "Por isso, um controle rápido da hemorragia e o reestabelecimento oxigênio nos tecidos são essenciais para aumentar a chance de sobrevivência".
A transfusão de sangue com todos os componentes sanguíneos é o padrão clínico atual, principalmente porque pode suprir essa necessidade de oxigênio. No entanto, transportar sangue doado acarreta sérios desafios logísticos, uma vez que ele tem um prazo de validade de apenas 42 dias e requer condições específicas de armazenamento. Isto desempenha um papel importante quando se trata de campos de batalha ou situações de traumas em ambientes pré-hospitalares.
Como relata a Science, no século XIX, o ginecologista Theodore Gaillard Thomas foi o defensor mais declarado da transfusão de leite no corpo como substituto do sangue. Ele realizou pelo menos sete. Uma de suas pacientes apresentou forte dor de cabeça, febre alta e frequência cardíaca elevada, mas sobreviveu. O leite ficou para trás. Mais tarde, as soluções salinas (ainda utilizadas hoje em dia) tornaram-se uma medida menos perigosa na ausência de sangue.
De acordo com o site da ErythroMer, a perda de sangue após lesão é responsável por mais de 25.000 vidas perdidas a cada ano somente nos EUA e cada minuto de atraso na reposição do sangue perdido aumenta a mortalidade em 5%. "Uma vez aprovado, o ErythroMer será fornecido como um pó liofilizado, estável em armazenamento sem refrigeração e embalado em uma unidade equivalente a uma unidade de glóbulos vermelhos - basta adicionar água para uso rápido no local de atendimento ou no caminho para o hospital", informa o site.
No momento, não há um substituto artificial para o sangue. O ErythroMer ainda está sendo testado em animais. “Há uma lacuna real aqui onde não temos acesso a sangue para pessoas que sangram até a morte fora do hospital”, diz Allan Doctor à Science. Doctor é cofundador e diretor científico da KaloCyte, uma empresa que quer transformar o ErythroMer em um produto comercial.
De acordo com a Science, em 2023, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa dos Estados Unidos (DARPA) anunciou uma doação de 46 milhões dólares (aproximadamente 250 milhões de reais) a um consórcio liderado pela Universidade de Maryland para desenvolver um substituto de sangue durável e implantável em campo, com ErythroMer como elemento central. Agora é necessário esperar para ver o que as próximas fases de testes trarão.
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