Barreiras de metal são instaladas em Xangai para manter população confinada

As autoridades chinesas levaram sua política "Zero-Covid" um passo adiante, nos últimos dias. Barreiras de metal foram instaladas do lado de fora dos prédios da cidade de Xangai, para impedir que os moradores saiam às ruas.

A rígida medida foi mostrada em muitos vídeos e fotos compartilhados nas redes sociais, nos quais as pessoas expressam seu descontentamento.

Estas imagens mostram como a cidade encheu-se de enormes "jaulas".

De acordo com o Caixin, um meio de comunicação empresarial chinês, edifícios onde há casos positivos, no distrito financeiro de Pudong, as barreiras chegam a dois metros de altura.

A cidade de Xangai usa, no momento, um sistema que divide os bairros em três categorias, com base no risco de transmissão. Os que fazem parte da primeira estão sob os mais rígidos controles de covid-19. É onde a maioria das barreiras foram erguidas.

Já aqueles que moram em uma área da terceira categoria podem sair de suas casas e visitar lugares públicos. Esses moradores sortudos, inclusive, desfrutam do serviço de corte de cabelo gratuito, oferecido por voluntários.

Mesmo que em um edifício exista apenas um indivíduo que testou positivo, de acordo com a BBC, todos que moram nele têm que ficar trancados.

Os 25 milhões de habitantes de Xangai estão confinados há semanas, e muitos esperavam que, até o início de maio, as restrições fossem aliviadas. No entanto, essas últimas medidas colocam em questão quando a vida voltará ao normal na cidade.

Enquanto a maioria dos países começa a aceitar que devemos simplesmente aprender a conviver com a covid-19, a China quer manter sua política de zero contágios.

Os moradores estão desesperados e ansiosos para que isso acabe. Muitos são os desafios encontrados no dia a dia de cada um.

A CBC News Canada conversou com alguns canadenses presos em Xangai. Entre eles, Racelle Luo, uma mãe de 35 anos que está confinada com seu marido e seus três filhos.

As cinco pessoas estão, desde 10 de março, em seu apartamento em Xangai, e só podem sair para levar o lixo às lixeiras e pegar entregas de supermercado.

A saúde mental da família está afetada. Racelle disse à CBC News: "Ocasionalmente, começo a me sentir como um fardo muito pesado, como se estivesse prestes a ter um colapso".

Racelle continuou: "É realmente difícil não poder deixar nossos filhos sairem e correrem. Estamos preocupados com a saúde mental deles".

Em alguns distritos de Xangai, as medidas diminuíram um pouco, no entanto, após dois anos em uma cidade bloqueada, os moradores estão estressados e chegam a seus limites.

Racelle Luo disse também à CBC News: "A crença de que a China pode ser o lugar de covid zero do mundo é definitivamente inatingível. É um sonho impossível e, mesmo que chegássemos, definitivamente a doença voltaria."

A escassez de alimentos é outra questão urgente. Quando as medidas foram estendidas para toda a cidade, em abril, os moradores tiveram muito pouco tempo para se prepararem.

Como resultado das restrições, há problemas na cadeia de suprimentos e os comitês de bairro, responsáveis por cuidar das necessidades básicas dos moradores, estão sob considerável pressão.

O governo chinês afirma que caixas de comida como as da imagem estão sendo entregues, gratuitamente, aos residentes confinados. No entanto, de acordo com o testemunho de alguns deles, o que realmente recebem de provisões é bem diferente.

De acordo com a CBC News, uma família de cinco pessoas recebeu duas cebolas, uma abobrinha, uma cenoura e um pouco de raiz de gengibre. Isso para uma semana. Em outros casos, a comida recebida foi mais abundante, mas parte dela veio podre.

Comprar online é possível, mas as lojas costumam esgotar muitos itens essenciais. Ruth Chua, originalmente de Toronto, vive em Xangai com o marido e dois filhos adolescentes. Ela também falou para a CBC News sobre as dificuldades de obter provisões.

"Na primeira vez que fizemos compras online, conseguimos colocar cerca de 20 coisas no carrinho. Acabamos com três: cenoura, coentro e uma jarra de água. E ficamos emocionados com isso", disse Chua .

Na foto: um entregador de supermercado em Xangai, em 16 de abril.

Muitos moradores recorreram à troca de produtos entre si. O Washington Post conversou com Ashley Chi, um gerente de 28 anos de uma empresa de tecnologia. Ele disse ao jornal que deixar suprimentos extras nas áreas comuns para outros moradores virou uma prática comum, assim como a troca.

Chi disse ao Washington Post como, recentemente, trocou cerca de uma xícara de molho de soja por cinco litros de água engarrafada. “No começo, queriam me pagar, mas quem precisa de dinheiro agora? Eu preciso de água!", contou.

E se ficar trancado e enfrentar a escassez de alimentos já não é estressante o suficiente, a ideia de ser enviado para um centro covid-19 é aterrorizante para muitos moradores da cidade.

Na foto: um homem que testou positivo é direcionado para um ônibus que o levará a um centro covid isolamento.

De acordo com as regras do governo chinês, qualquer pessoa que tenha testado positivo para coronavírus, é enviada, assim como seus contatos próximos, para um centro de quarentena em massa ou hospital, dependendo da gravidade dos sintomas.

Esses centros são hospitais de campanha temporários, que foram construídos rapidamente e não são muito confortáveis. Alguns são canteiros de obras ou escolas que foram reaproveitados.

Eles carecem de serviços essenciais, como áreas privativas para dormir ou tomar banho e, muitas vezes, nem médicos ou enfermeiros estão no local. Compreensivelmente, os moradores de Xangai têm mais medo de ir a esses centros do que de pegar o próprio vírus.

É claro que os moradores de Xangai estão frustrados. Embora algumas áreas tenham visto as restrições parcialmente levantadas, muitas continuam com o bloqueio estrito. As pessoas tentaram levar suas queixas às autoridades.

O Washington Post informou que, quando o chefe do Partido Comunista de Xangai, Li Qiang (foto), visitou moradores, recentemente, uma idosa o confrontou e reclamou da falta de provisões. O vídeo do momento viralizou nas mídias sociais.

Além disso, os vizinhos podiam ser ouvidos, ao fundo, gritando de seus apartamentos: “Salve-nos! Não temos o suficiente para comer."

Muitos concordam que a política estrita de zero covid do governo chinês está prejudicando os cidadãos comuns do país. Os moradores de Xangai estão esperançosos de que, em maio, o bloqueio termine. No entanto, a menos que a China esteja disposta a desistir de seu objetivo, poderia ser apenas uma questão de tempo até o início de um seguinte bloqueio.