O perigo dos vírus milenários no gelo do Ártico: "Caixa de Pandora"
Cientistas reviveram várias cepas de vírus antigos retirados de amostras do permafrost (superfície congelado) siberiano, na Rússia, de acordo com um estudo publicado, na revista Viruses, no começo de 2023.
Jean-Michel Claverie, professor emérito de medicina e genômica na Universidade de Aix-Marseille, caça, há décadas, patógenos antigos.
Foto do YouTube @NASEM_Health
Seu objetivo é entender os riscos apresentados por vírus congelados, chamados "zumbis", porque não estão realmente mortos, apenas "inativos".
O professor de Aix-Marseille estuda um tipo muito particular de vírus, que ele descobriu, pela primeira vez, em 2003.
Foto do YouTube @NASEM_Health
Segundo o artigo da CNN, tratam-se de vírus muito maiores do que a variedade típica. Podem ser vistos, inclusive, de um microscópio de luz comum, o que facilita sua exploração.
Foi uma experiência de uma equipe de cientistas russos, em 2012, que reviveu uma flor silvestre de um tecido de semente de 30 mil anos, o que inspirou os estudos de Aix-Marseille.
Foto de Maria Khoreva, trabalho próprio, https://en.wikipedia.org/wiki/Silene_stenophylla#/media/File:Silene_stenophylla_115390032.jpg
Em 2014, Claverie e sua equipe de cientistas conseguiram fazer o mesmo com um vírus que descobriram no permafrost, inserindo-o em uma cultura de células.
Foto do YouTube @NASEM_Health
Claverie ativou um segundo vírus antigo em 2015 e, agora, várias cepas de vírus pré-históricos.
Desta vez, as amostras foram retiradas de sete lugares diferentes na Sibéria e mostraram que cada uma delas ainda poderia infectar células de amebas cultivadas.
As cepas encontradas representam cinco novas famílias de vírus.
O professor acredita que seu trabalho revelou um perigo real para o futuro da humanidade.
“Vemos esses vírus que infectam amebas como substitutos de todos os outros vírus possíveis que possam estar no permafrost”, disse Claverie à CNN.
“Vemos vestígios de muitos, muitos outros vírus, então sabemos que eles estão lá. Não sabemos ao certo se eles ainda estão vivos", continuou Claverie.
“Se os vírus da ameba ainda estão vivos, não há razão para que os outros vírus não continuem vivos", explica.
Neste caso, segundo o professor, seriam capazes de infectar seus próprios hospedeiros.
Os vírus ressuscitados por Claverie e sua equipe têm aproximadamente 48.800 anos. Os anteriores tinham 27 mil anos.
A Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI) reconheceu a ameaça potencial representada pelo degelo do permafrost da Terra.
Segundo a GAVI, o fenômeno poderia abrir uma "Caixa de Pandora de patógenos”.
A teoria de que o derretimento do permafrost poderia liberar vírus antigos em novos hospedeiros não é tão estranha quanto pode parecer à primeira vista.
Em 2022, um estudo publicado na One Earth apontou que grande parte do permafrost do mundo abriga microorganismos e vírus não caracterizados. Destes, muitos podem ser "viáveis".
Ainda mais preocupante do que a ideia de que o derretimento do permafrost pode liberar vírus antigos capazes de infectar humanos, é o fato de saber que isso aconteceu.
Em 2016, um misterioso surto de antraz na Sibéria foi causado pelo degelo do permafrost, de acordo com Michaeleen Doucleff, da NPR.
Segundo a reportagem, não se sabe exatamente como tudo começou.
Foto do Twitter @siberian_times
Entretanto, uma onda de calor poderia ter derretido o o chão congelado, onde havia carcaças de rena infectadas com antraz, décadas atrás.
Assim, os esporos dos esqueletos acabaram por infectar as renas que pastavam nas proximidades, segundo a NPR.
O incidente poderia ser um exemplo das consequências do aquecimento global, cada vez mais perigoso.
Foto do Twitter @siberian_times