Cirurgia sob efeito da hipnose pode ser benéfica, diz estudo
Você já ouviu falar em hipnose cirúrgica? Esta técnica começou a ser gradualmente adotada nas salas de operação de alguns países. A ideia é substituir a anestesia geral por uma sessão de hipnose aliada à anestesia local. Mas isso funciona realmente?
Vários estudos e ensaios clínicos sobre hipnose cirúrgica, também chamada de hipnosedação, foram conduzidos na França, Bélgica e Estados Unidos. Os resultados são bastante conclusivos e demonstram benefícios significativos para o paciente.
Os primeiros vestígios da hipnose médica datam do século XVIII, com os escritos do médico alemão Dr. Franz-Anton Mesmer. Mas a primeira operação feita nestas condições foi realizada em 1829, pelo cirurgião francês Jules-Germain Cloquet, que fez uma mastectomia.
Com a invenção da anestesia "química", no século XIX, o interesse pela hipnose médica diminuiu. No entanto, em 1992, a médica belga Marie-Elisabeth Faymonville (foto) desenvolveu uma técnica de hipnosedação.
Então, dois anos depois, a médica a ensinou a técnica pela primeira vez a seus alunos, na Universidade de Liège.
A hipnose pode ser definida como um estado alterado de consciência. “Você se desliga e fica dissociado do que acontece na periferia de sua consciência, num estado de flexibilidade cognitiva", explica David Spiegel, professor do departamento de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade de Stanford (Estados Unidos), à BBC.
"Você está mais aberto a experimentar novas ideias e experiências e a abandonar sua maneira habitual de fazer as coisas", acrescenta o professor.
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Sem perceber, entramos em estado de hipnose diariamente. É o que Elizabeth Rebello, professora do departamento de anestesiologia e medicina perioperatória do MD Anderson Cancer Center (Texas), descreveu à BBC: "É como pegar o carro para ir a algum lugar e, enquanto dirige, pensar na lista do supermercado ou em sua família. De repente, percebe que já chegou. Assim funciona a hipnose."
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Como você pode imaginar, a hipnose cirúrgica não substitui a anestesia geral em todos os casos. Ela não é utilizada para cirurgias de grande porte, como as realizadas em órgãos internos, por exemplo.
Christine Watremez, anestesiologista e especialista em hipnose médica na Bélgica, explica: "Nós a aplicamos em intervenções 'superficiais': tireóide, reparação de cicatrizes, cirurgia umbilical, hérnias inguinais e cirurgia plástica. Também pode ser usada em mastectomias, no contexto do câncer de m a m a."
Em um estudo, a Dra. Marie-Elisabeth Faymonville usou ressonância magnética (MRI) para analisar regiões cerebrais de pacientes, hipnotizados ou não, submetidos a estímulos dolorosos. Seus resultados mostram que, quando o paciente está hipnotizado, ele tem menos áreas cerebrais ativadas pela dor.
Em 2000, uma pesquisa científica publicada na revista médica The Lancet demonstrou os efeitos benéficos da hipnose.
O experimento foi realizado em Boston, pelo professor Lang, em 241 pacientes voluntários. O resultado foi extremamente positivo, pois mostrou redução na sensação de dor, no nível de estresse, na quantidade de medicação necessária e até mesmo na duração da intervenção.
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A hipnosedação é conhecida por aliviar a mente do paciente e, assim, reduzir a ansiedade associada à cirurgia. Seus efeitos positivos ajudam a proporcionar uma experiência mais agradável.
Após uma operação sob hipnosedação, os pacientes sentem-se menos cansados do que quando saem de uma anestesia geral. Assim, podem retomar sua vida diária com mais facilidade.
Além disso, os pacientes também têm menos efeitos colaterais (náuseas, vômitos, dores musculares). Estes resultados foram citados em um estudo intitulado "Um ensaio clínico randomizado de uma breve intervenção hipnótica para controlar os efeitos colaterais em pacientes com cirurgia de m a m a", realizado em 2007, pelo Dr. Montgomery, nos EUA.
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De fato, no pós-operatório, os pacientes necessitam de uma dose reduzida de analgésicos durante sua recuperação, em comparação com aqueles submetidos à anestesia geral.
Por outro lado, a hipnosedação tem seus limites: nem todos os pacientes podem ser hipnotizados. "A maioria das pessoas é suscetível à hipnose, mas 25% dos adultos, não", disse o professor da Universidade de Stanford, David Spiegel, à BBC.
Antes da cirurgia, esta abordagem requer um preparo teórico e prático entre o paciente e seu anestesista. Normalmente, é necessário mais tempo do que a anestesia convencional, o que pode ser um empecilho para os médicos.
Para que a técnica da hipnose cirúrgica funcione, o paciente deve consenti-la e sentir-se confiante, deixando-se guiar pela voz de seu anestesista. Ao longo da intervenção, o paciente tem a possibilidade de solicitar anestesia geral, caso sinta necessidade.