Como a ciência explica a psicografia?
A psicografia é a capacidade atribuída a certas pessoas de escrever mensagens ditadas por espíritos. A palavra, do grego, significa escrita da mente ou da alma.
Na religião espírita, o médium é uma pessoa que serve de instrumento de comunicação entre os espíritos e os indivíduos.
Em outras palavras, médiuns seriam seres intuitivos e sensitivos, capazes de receber um espírito em seu corpo e permitir que este se expresse através de suas mãos.
Durante o processo, os espíritas acreditam que o impulso de escrita do médium é mais forte do que sua vontade para conduzir voluntariamente o feito.
Um experimento feito por cientistas da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Thomas Jefferson, nos EUA, mediram as atividades cerebrais de 10 médiuns brasileiros, enquanto psicografavam.
Eles compararam o resultado das atividades cerebrais dos médiuns durante a ação de psicografar com sua atividade cerebral enquanto escreviam, fora do estado de transe.
Segundo o portal G1, os cientistas usaram métodos da neurociência moderna para acompanhar a atividade cerebral dos médiuns. Assim, checaram a intensidade do fluxo sanguíneo em diferentes áreas do cérebro, por meio de tomografia.
O experimento revelou que os médiuns apresentaram níveis mais baixos de atividade durante a psicografia, em comparação à escrita normal, mostrando que poderiam estar inconscientes, alheios ao que escreviam.
Os cientistas explicaram que havia pouca atividade em áreas frontais do cérebro, associadas ao planejamento, raciocínio, geração de linguagem e solução de problemas.
Além disso, os textos psicografados resultaram mais complexos que os produzidos em estado normal de vigília, contrariando ainda mais a expectativa, já que seria necessária uma alta atividade cerebral para produzir mensagens tão elaboradas.
De acordo com Julio Peres, do Instituto de Psiquiatria da USP, citado pelo portal G1, não há uma explicação exata para este fenômeno, mas mereceria um aprofundamento.
O pesquisador Carlos Augusto Perandréa, da Universidade Estadual de Londrina, publicou um artigo na Revista Semina, no qual analisou textos psicografados pelo médium brasileiro Chico Xavier.
Durante 10 anos, o pesquisador estudou as características gráficas das mensagens psicografadas, com a finalidade de verificar se são autênticas e determinar sua autoria. Este recurso é o mesmo usado por bancos, policiais e pelo Poder Judiciário.
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Depois de comparar a letra padrão dos supostos autores espirituais, Perandréa concluiu que todas as psicografias estudadas, feitas por Chico Xavier, possuíam autenticidade gráfica dos referidos autores.
Depois disso, alguns advogados tentaram usar cartas psicografadas como provas judiciais para inocentar réus em tribunais. Mas o texto teria de ser considerado um documento particular, já que não tem autoria legal.
A ciência ainda não é capaz de responder a esta pergunta de forma difinitiva. A pesquisadora brasileira, Cintia Alves da Silva, que estudou os textos de Chico Xavier na esfera editorial, disse à revista Exame: "Não acredito que trabalhos de temática espírita sejam utilizados pelos adeptos do espiritismo como comprovação de autenticidade do fenômeno. A fé independe de provas."