Consumo de álcool cresce entre as brasileiras: saiba causas e consequências!
O aumento do consumo de álcool entre mulheres brasileiras aumentou na última década, atingindo seu pico em 2020, durante a pandemia da covid-19.
O fenômeno, na verdade, já havia sido apontado em dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), coletados nos anos de 2013 e 2019, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foto: Pixabay
Segundo o levantamento da PNS, 17% das mulheres adultas disseram ter bebido, em média, uma ou mais vezes por semana, em 2019. O número é maior do que o de 2013, que foi de 12,9%.
Entre os homens, embora o percentual seja bem maior, o crescimento não foi tão alto.
Por que será que as mulheres estão bebendo mais?
Por um lado, elas vêm conquistando uma emancipação social e têm maior liberdade de fazer suas escolhas, sendo menos estigmatizadas que antes.
Por outra parte, há o acúmulo de funções e o consequente aumento de pressão sobre elas, fazendo com que se sintam sobrecarregadas.
Informações do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) também revelaram um quadro preocupante. Mais de 23% dos óbitos atribuíveis ao álcool, em 2020, foram femininos. Destes, 71% foram de de mulheres com 55 anos ou mais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), 1,6% das mulheres brasileiras praticam o uso abusivo do álcool ou são dependentes.
Conforme estipulado pela própria OMS, o consumo abusivo significa tomar quatro ou mais doses em um único episódio.
Já o consumo moderado equivale a uma dose em um único dia ou 7 doses por semana, para as mulheres, e 2 doses em um único dia ou 14 doses semanais, para os homens.
De acordo com o CISA, "no Brasil, 1 dose de
bebida equivale a 14g de álcool puro, o que corresponde a 350 ml de cerveja (5% de álcool), 150 ml de vinho (12% de álcool) ou 45 ml de destilado (vodca, uísque, cachaça, gin, tequila, com 40% de álcool)".
A revista Marie Claire citou a pesquisa do CISA, revelando que, no Brasil, apesar de ainda estar abaixo do índice dos homens, o consumo feminino exagerado de álcool cresce ano a ano. No total, 25% dos homens e 12,7% das mulheres, acima de 18 anos, disseram ter abusado da substância.
O fato é que o organismo das mulheres é mais vulnerável aos efeitos do álcool, de acordo com o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, presidente da CISA, citado pela revista Galileu.
Foto: Unsplash / sydney sims
Isto porque o corpo das mulheres e sua composição biológica é diferente da dos homens. Como elas possuem menos água corporal e menos enzimas no fígado, responsáveis por fazer o metabolismo do álcool, o nível da substância no sangue fica mais concentrado, levando a possíveis problemas de saúde de forma precoce.
Além disso, o alto consumo de álcool entre as mulheres pode aumentar o risco de câncer de m a m a e alterar negativamente a fertilidade. Segundo o CISA, também há risco de desenvolver efeitos colaterais na menopausa, se houver algum tipo de tratamento com a terapia hormonal.
Mas o ato de beber é um fenômeno cultural, socialmente aceito e ligado a atividades corriqueiras. Cada cultura adota regras e significados diferentes para o consumo do álcool, a depender de como funciona aquela sociedade.
Por isso, quando avaliamos o ato de beber, é importante levar em consideração fatores como o tipo de bebida, a frequência e a situação em que é consumida, com quem o indivíduo compartilha o momento e que significado aquele brinde tem para a ocasião.
Segundo o CISA, a análise das características contextuais é muito importante, sobretudo para a formulação de políticas públicas.
Em 2022, a pedido do CISA, o IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) fez um relatório sobre as motivações que levam os brasileiros a beberem. Para isso, os pesquisadores ouviram homens e mulheres (acima de 18 anos), das classes A, B e C, considerados "bebedores moderados ou abusivos", das cidades de São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre.
Uma das entrevistadas, moradora de São Paulo, entre 35 e 45 anos, disse à IPEC como consegue parar ou diminuir o consumo: “Eu controlo quando percebo que estou chegando ao meu limite. Eu falo: ‘Opa’. Eu bebo água, às vezes dou uma paradinha de leve ou tomo água tônica com limão. Dou uma segurada e, depois, continuo de leve”.
Na maioria dos casos, as pessoas relataram que o primeiro gole de álcool aconteceu com amigos, na adolescência, ou em festas familiares, em casa. Uma moradora de São Paulo, entre 18 e 25 anos, revelou: “Eu acho que comecei com 14, 15 anos. Foi num churrasco com uns amigos da escola. Eu tomava vodka com sabor, algo sempre com sabor, que não tinha muito gosto de álcool, inicialmente.”
De acordo com um panorama feito pelo CISA, entitulado "O álcool e a saúde dos brasileiros", o uso da substância passa a ser prejudicial quando o padrão de consumo está ligado a um maior risco de propiciar comportamentos sociais negativos ou causar danos à saúde, tanto para quem consome quanto para quem está próximo.
Já o alcoolismo é uma doença crônica gerada por múltiplos fatores. Trata-se de um um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de álcool.
Foto: Unsplash/ annie spratt
Devido à gravidade da situação, a OMS estipulou uma meta de redução de 10% do consumo de álcool, até 2025.
A estratégia mundial pretende reduzir a os danos e a mortalidade causadas pelo uso nocivo de álcool, bem como suas consequências sociais. Para isso, serão feitas ações comunitárias, conscientização, medidas políticas sobre o ato de dirigir sob efeito do álcool e controle do marketing de bebidas alcoólicas.
Foto: Unsplash/ helena lopes