A triste situação das crianças vulneráveis que integram gangues no Haiti
Além de estar sob o controle de grupos violentos, um terço dos integrantes das gangues no Haiti são crianças, uma realidade alarmante destacada no relatório da Human Rights Watch, em outubro de 2024.
Impulsionadas pela fome, crianças de até 10 anos juntam-se às gangues que controlam 80% da capital do país, Porto Príncipe. Estima-se que 30% dos membros sejam menores de idade.
Segundo o relatório, os meninos manuseiam armas pesadas e participam de sequestros, saques e extorsões, enquanto as meninas são forçadas a realizar tarefas domésticas e, frequentemente, sofrem a b u s o s.
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O relatório menciona o caso de um jovem de 16 anos que se uniu a uma gangue aos 14 anos, devido à falta de alimentos: “Antes, eu morava com minha mãe e não havia comida em casa. Mas quando estava com o grupo, conseguia comer.”
Segundo a Al Jazeera, as gangues multiplicaram-se em um ambiente de conflito político e econômico, agravado pela escassez de alimentos, moradia e educação.
“O Haiti está preso em uma armadilha de fome: o crime impulsiona a pobreza e a pobreza impulsiona o crime. No momento, a situação parece piorar”, afirmou o Relatório da Human Rights Watch.
As redes sociais são uma das principais ferramentas de recrutamento de menores. Uma das gangues, a Village de Dieu, é liderada por um rapper que publica vídeos de rap com seus membros armados e opera uma unidade especializada em treinar menores no manuseio de armas e na montagem de postos de controle.
O relatório explicou que o recrutamento de crianças parece ter aumentado em resposta à intensificação das operações de segurança implementadas pela nova presença internacional, a Missão Multinacional de Apoio à Segurança, em colaboração com a Polícia Nacional do Haiti.
O envio dessa missão para combater as gangues foi aprovado pelas Nações Unidas há um ano, mas, segundo a Reuters, ainda não foi totalmente implementado.
A Scientific Research relatou que o Haiti é o país mais pobre do Hemisfério Ocidental, sofrendo com corrupção generalizada, violência, tráfico e crime organizado.
Além disso, um fator importante que agrava a pobreza no Haiti é sua vulnerabilidade a desastres naturais, como furacões e inundações, intensificados pelo desmatamento em larga escala.
Com o colapso das instituições políticas do país, o vácuo de poder foi ocupado pelas gangues, mantendo o Haiti em uma crise prolongada. Segundo a Al Jazeera, líderes de gangues chegaram a alertar, em algumas ocasiões, sobre o risco de uma "guerra civil."
Das 200 gangues que operam no país, metade atua em Porto Príncipe, onde há duas coalizões principais, de acordo com a Al Jazeera.
O G9 é liderado por Jimmy 'Barbecue' Cherizier, ex-policial haitiano sancionado pelos EUA e pela ONU por seu envolvimento na violência do Haiti.
O GPep, liderado por Gabriel Jean-Pierre, ou Ti Gabriel, surgiu do distrito marginalizado de Cite Soleil, em Porto Príncipe.
Rivais há anos, eles formaram um pacto em setembro de 2023 para enfrentar a presença da missão de apoio da ONU e destituir o ex-primeiro-ministro Ariel Henry, que renunciou em março.
“Não temos certeza de quanto tempo essa dinâmica [aliada] vai durar”, disse Mariano de Alba, consultor sênior do International Crisis Group.
Atualmente, o país está em estado de emergência, enquanto um novo governo de transição, liderado pelo autor e agente de desenvolvimento Garry Conille, tenta controlar das gangues.
Há muito trabalho pela frente. As gangues não se limitam a atacar instituições políticas e delegacias de polícia. Em março, invadiram as duas principais prisões do país, libertando 3.700 detentos.
O estado de emergência foi decretado pouco antes do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, visitar o país caribenho para conversar com o primeiro-ministro, Garry Conille, sobre os próximos passos na transição democrática do Haiti, informou a BBC.
Enquanto isso, quase 580 mil pessoas foram deslocadas internamente pela violência, com quase cinco milhões enfrentando fome severa, informou a ONU.
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