Este animal come seu próprio cérebro e isso pode ser bom para sua saúde!
Durante os longos meses de inverno, a maioria dos animais que enfrentam uma escassez de alimentos diminui o ritmo e hiberna ou migra para regiões mais quentes. Mas o musaranho adota uma estratégia diferente, que despertou o interesse da ciência.
O musaranho-pigmeu (também conhecido como megera) mede, em média, 52 milímetros e pesa entre 1,2 e 2,7 gramas! Geralmente, estes minúsculos animais vivem sozinhos e possuem como característica marcante um focinho comprido.
Seu habitat natural fica na Europa central e do norte e também em grande parte da Ásia. No Brasil, não há nenhuma espécie de musaranho.
Foto: Unsplash - Aren Nagulyan
Mas a característica que mais chama a atenção dos cientistas é sua estratégia de sobrevivência, baseada na eficiência energética.
Para reduzir suas calorias e sobreviver aos meses de inverno, o musaranho consome seu próprio cérebro, reduzindo seu tamanho em até um quarto. Mas, quando chega a primavera, recupera grande parte do órgão perdido!
Esse processo de autocanibalização é conhecido como fenômeno de Dehnel e foi descoberto por August Dehnel, em 1949, depois que ele percebeu que os crânios de musaranhos coletados na Polônia e na Bielorrússia contraíam e expandiam, dependendo das estações do ano.
“É um animal maluco, mas podemos aprender muito com eles”, disse Dina Dechmann, ecologista comportamental do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha.
Através do musaranho, podemos aprender como funciona o processo de regeneração do material cerebral, algo que antes acreditava-se ser impossível em mamíferos.
Compreender como regenerar o tecido cerebral pode ajudar médicos e pesquisadores a tratar o Alzheimer ou a esclerose múltipla. Isto porque um dos sintomas de doenças neurodegenerativas é justamente a diminuição do tamanho do cérebro.
“No começo, eu não conseguia entender direito como funcionava o processo”, disse John Dirk Nieland, professor associado de ciência e tecnologia da saúde, na Universidade de Aalborg, que trabalha com Dina Dechmann.
De acordo com Dino Gandoni, jornalista do Washington Post, Nieland trabalha atualmente na pesquisa de medicamentos que possam imitar a química cerebral encontrada em cérebros de musaranhos.
“É realmente incrível a maneira como eles reagem e respondem”, acrescentou Nieland. Por outro lado, a capacidade de reduzir o tamanho do cérebro tem um alto custo.
Em um experimento feito para testar sua capacidade de localizar comida, a equipe de Dina Dechmann descobriu que musaranhos de cérebro maior tiveram um desempenho melhor do que seus equivalentes de cérebro menor.
"É um compromisso", afirmou Dechmann, e acrescentou: “Você dimunui seu cérebro e economiza energia, mas torna-se menos capaz de resolver certas tarefas de aprendizado”.
A verdadeira mágica, no entanto, está em que a redução e o crescimento do cérebro do musaranho parece não afetar sua inteligência a longo prazo.
No experimento, à medida que os musaranhos de cérebro menor regeneraram seu material cerebral, ficou evidente que sua capacidade de resolver problemas retornou.
O resultado do experimento sugere que pode ser possível regenerar o material cerebral em humanos, chegando a seu estado de cognição original.
O próximo passo para Dechmann e sua equipe é descobrir como funciona exatamente o processo de redução do cérebro do musaranho.
De acordo com Dechmann, o crescimento do cérebro do musaranho não parece ser uniforme, o que significa que possivelmente algumas áreas do cérebro não se recuparam completamente.
“Estamos longe de chegar a resultados aplicados”, alertou Dechmann. Mesmo assim, a equipe está otimista!
John Dirk Nieland, que trabalha no desenvolvimento de um possível medicamento, observou: “Talvez possamos usar esses caminhos também para tratar doenças cerebrais”.