Fugas em massa, prisões e protestos na Rússia, após anúncio de Putin
Após Vladimir Putin anunciar, no dia em 21 de setembro, que 300 mil reservistas seriam chamados para lutar na Ucrânia, a população do país assustou-se. Afinal, é o primeiro projeto de mobilização russa deste tipo, desde a Segunda Guerra Mundial.
Os recentes resultados do Google Trends, uma ferramenta de medição de buscas na internet, deixaram claro que milhões de cidadãos russos pensam ou querem fugir do país o mais rápido possível.
Termos de pesquisa como "passagens", "avião", "como sair da Rússia", "mudança para o Cazaquistão", "como quebrar um braço" e "como desertar" aumentaram, na última quarta-feira (22).
Enquanto isso, o site Aviasales, um dos mais conhecidos na Rússia, anunciou que os voos para países ex-soviéticos próximos, como Geórgia, Uzbequistão, Azerbaijão, Cazaquistão e Armênia, estavam esgotados.
De acordo com The Moscow Times, os voos para Tbilisi (Geórgia), Istambul (Turquia) e Erevã (Armênia) foram vendidos em questão de minutos, após o discurso de Putin.
Imagens proporcionadas pela flightradar24 mostram como o tráfico aéreo dos aeroportos de Moscou e São Petersburgo aumentou consideravelmente. Segundo o jornal El Mundo, os principais destinos eram Istambul (Turquia) e Erevã (Armênia).
O site da Turkish Airlines afirma que todos os voos de e para Minsk, na Belarus, Sochi, Rostov, Yekaterinburg e Moscou, na Rússia, foram cancelados até 31 de outubro.
E quem quiser viajar para Belgrado, na Sérvia, também terá que esperar até outubro, pois não há voos disponíveis, no momento, conforme comunicado da Air Serbia.
A alta demanda fez com que os preços das passagens disparassem exageradamente, segundo meios de comunicação como a CNBC.
O jornal espanhol El País coletou exemplos da subida de valores. Voar de Moscou para a região sul de Vladikavkaz passou de US$ 70 para US$ 750.
O custo dos voos com a Siberian Airlines de Moscou a Yerevan aumentou até quatro vezes a taxa média: US$ 2.954,05. Ainda mais surpreendente é o preço da viagem de Moscou a Belgrado, com saída em 25 de setembro: $ 8.862,15!
Foto: Web Aviasales
Além disso, voos fechados entre a Rússia e os países da União Europeia complicam ainda mais os planos de fuga de milhões de russos. Isto se Putin não fechar as fronteiras primeiro.
Questionado em entrevista coletiva, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, não quis confirmar (ou negar) se há planos para fechar as fronteiras. Independentemente disso, os reservistas convocados para o front estão proibidos de deixar o país.
Por outro lado, alguns países, como Polônia e Letônia, fecharam suas fronteiras aos russos como punição pelo ataque à Ucrânia. A Finlândia, no momento, não é um deles.
No entanto, as fronteiras da Finlândia podem não estar abertas aos russos por muito mais tempo. O ministro das Relações Exteriores, Pekka Haavisto, disse que o país procura "uma solução nacional para limitar ou impedir completamente o turismo da Rússia, após a invasão da Ucrânia", conforme relatado pelo The Daily Sabah.
Alguns cidadãos russos foram corajosos o suficiente para falar com a mídia ocidental sobre a convocação de Putin. Um homem chamado Alexander, de 33 anos, disse ao The Guardian: "Prefiro sair do que lutar nesta guerra. Se eles me ligarem, eu gostaria de deixar [o país]".
No entanto, a Rússia aprovou, recentemente, uma nova lei estrita que criminaliza a deserção com 15 anos de prisão, de acordo com a CNN.
Alexander é realista sobre o que aconteceria se ele fosse convocado: teria que ir. No entanto, indicou ao The Guardian que espera encontrar uma saída.
Uma mãe, preocupada que seu filho possa ser convocado para lutar na Ucrânia, disse ao The Guardian: "Esta é a coisa que todos temiam quando a guerra começou".
Enquanto isso, há registros de protestos contra a guerra em 38 cidades da Rússia, no dia 21 de setembro. O fato é que são praticamente ineficazes, devido a sua ilegalidade.
A CNN informou que mais de 1.300 pessoas foram presas no país, na última quarta-feira (21), por sairem às ruas para mostrar sua indignação.
O The Guardian reproduziu o que um homem gritou, enquanto a polícia o levava embora: "Eu não quero morrer por Putin e por você!"
A CNN também informou que vídeos, nas redes sociais, de protestos no leste da Sibéria mostraram pessoas com cartazes que diziam: "Não à guerra! Não à mobilização!" e "Nossos maridos, pais e irmãos não querem matar outros maridos e pais!"
Outro manifestante nos vídeos disse: "Queremos que nossos pais, maridos e irmãos permaneçam vivos... e não deixem seus filhos órfãos. Parem com a guerra e não levem nosso povo!"
Para piorar a situação, a porta-voz do grupo de monitoramento independente OVD-Info, Maria Kuznetsova, disse à CNN, por telefone, que muitos manifestantes presos estão sendo convocados diretamente para as forças armadas da Rússia.
No entanto, nem todos são contra a mobilização ou temem ser convocados. Um homem disse ao The Guardian que acreditava ser "seu dever patriótico ir para o exército". E completou: "Quero estar com meu país".