Giorgia Meloni, a líder de extrema-direita que governará a Itália
O partido de extrema-direita, Irmãos da Itália, assumirá o poder no país, após ganhar as últimas eleições. Giorgia Meloni, sua líder, que, em sua juventude, foi militante do Movimento Social Italiano, herdeiro do fascismo, nunca escondeu suas ideias ultraconservadoras. Na galeria, contamos sua história.
Giorgia Meloni nasceu no dia 15 de janeiro de 1977, em Roma, no histórico bairro popular de Garbatella (foto), onde, anos depois, ainda adolescente, iniciou sua carreira política. A sua infância foi marcada pela ausência do pai, que abandonou a família para ir às Ilhas Canárias, na Espanha, pouco depois do nascimento da filha.
Giorgia Meloni disse à Vanity Fair: "Meu pai nunca esteve conosco". Até que um dia, por volta dos 11 anos, ela decidiu romper os laços: "Nunca mais quero vê-lo". E confessou: "Quando ele morreu, eu não conseguia sentir realmente uma emoção, ele era um estranho".
Em 1992, aos 15 anos, Meloni entrou na Fronte della Gioventù (Frente Juvenil), pertencente ao Movimento Social Italiano, um partido de evidente inclinação fascista. A imagem é de 1971, durante uma concentração do mesmo, em Roma.
Enquanto estudava no Liceu Américo Vespúcio, Giorgia Meloni fundou o grupo estudantil Gli Antenati (que significa 'Os Antepassados') para lutar contra a reforma educacional da ministra Rosa Russo Iervolino (foto).
Depois de terminar os estudos escolares, Giorgia Meloni decidiu não matricular-se na universidade. Em 1996, aos 22 anos, tornou-se a diretora nacional da Ação Estudantil, movimento ligado à Aliança Nacional, antigo Movimento Social Italiano que, nos anos 1990, quis parecer mais moderado.
Ela concorreu pela primeira vez a um cargo político, em 1998, como candidata da Aliança Nacional ao Conselho da Província de Roma para a área de Garbatella, seu bairro natal. Conseguiu ser eleita e nomeada membro da Comissão de Política de Cultura, Escola e Juventude, onde permaneceu até 2003.
Foi então que Gianfranco Fini (foto), o líder indiscutível da Aliança Nacional, na época, sugeriu Giorgia Meloni como coordenadora nacional do movimento juvenil do partido. Ela tornou-se a primeira m u l h e r presidente da organização nacional de jovens de direita e, em abril de 2006, foi eleita deputada pelo partido.
Em 2008, Giorgia Meloni voltou ao parlamento italiano e obteve de Berlusconi o cargo de Ministra de Políticas da Juventude, que mais tarde transformou-se em Ministério da Juventude. Tinha, então, 31 anos.
Em 2012, Berlusconi promove a unificação de toda a direita italiana no chamado Polo delle Libertá, mas Giorgia Meloni tem sérias discrepâncias, abandona o navio e cria um novo partido: Irmãos da Itália.
Em 2013, ela manifestou-se abertamente contra as adoções de crianças por h o m o s s e x u a i s e, em 2014, divulgou nas redes sociais uma propaganda dos Irmãos da Itália onde dizia: "Uma criança deve ter um pai e mãe". A imagem escolhida foi uma fotografia feita por Oliviero Toscani, para uma campanha publicitária. O profissional não gostou nada da iniciativa e disse que iria fazer a respectiva denúncia.
Foto: Twitter @OToscani
Em 2014, nas eleições europeias, o partido de Meloni não conseguiu ultrapassar o limite de 4% dos votos, obtendo apenas 3,7%. Para sobreviver na Itália, aliou-se à Liga Norte de Salvini. Os dois líderes de direita lançaram uma campanha virulenta contra o governo de Matteo Renzi, reafirmando a posição eurocética dos Irmãos da Itália.
Em 2016, discutia-se, no país, o projeto de lei Cirinnà, sobre a legalização de uniões entre pessoas do mesmo s e x o. Meloni foi contra: “Seria uma despesa enorme para o estado e uma abertura inaceitável para adoções. Para nós, as prioridades são outras: apoiar a família tradicional (...)"
Em entrevista exclusiva à ProVita, Giorgia Meloni atacou o que ela define como "lobbies LGBT": "Uma coisa é lutar contra todas as formas de discriminação, outra é banir os contos de fadas tradicionais ou modificá-los para se encaixar com os ditames dos lobbies LGBT."
Para Giorgia Meloni, política e vida pessoal são inseparáveis em sua vida, e, talvez por isso, durante uma manifestação massiva pelo Dia da Família, ela decidiu anunciar para milhares de pessoas que iria ser mãe.
Giorgia Meloni (na foto, durante a gravidez) conheceu o pai de sua filha Ginevra, o jornalista Andrea Giambruno, em um programa de televisão e ambos dizem que foi uma verdadeira paixão. Curiosamente, eles nunca se casaram.
Mais tarde, Meloni disse à revista Verissimo: "Sofri quando anunciei que estava esperando minha filha Ginevra, no Dia da Família. Muitos haters queriam que eu fizesse um aborto. Eu me sentia culpada, como se não pudesse passar no teste da maternidade".
Em maio de 2016, foi aprovada, na Itália, a lei que estabelece o direito de registro civil de união estável para casais homossexuais. Meloni definiu a lei da seguinte forma: “Uma lei hipócrita, porque é só para os ricos e permite que casais h o m o s s e x u a i s vão para o exterior comprar um filho. É uma lei para Elton John."
No mesmo ano, Giorgia Meloni foi apresentada como candidata à prefeitura de Roma (com o apoio de Matteo Salvini). Ela não obteve um resultado ruim (20,64% dos votos), mas seus votos foram insuficientes para ir ao segundo turno. Virginia Raggi, do Movimento 5 Estrelas, foi a vencedora.
Nas eleições italianas de 2018, Giorgia Meloni não hesitou em fotografar-se com Viktor Orbán, o controverso presidente húngaro de extrema-direita. Irmãos da Itália, partido de Meloni, obteve míseros 4%, embora suficientes para garantir representação parlamentar.
Foto: Facebook @Giorgia Meloni
No ano seguinte, os Irmãos da Itália registraram um aumento na porcentagem de votos nas eleições europeias: 6,5%. A ascensão de Giorgia Meloni na centro-direita italiana e no exterior era inegável, tanto que, em 2020, foi eleita presidenta do Partido Conservador e Reformista Europeu.
Nas eleições de 2022, seu partido ultrapassou a Liga Salvini em toda a Itália, consolidando-se como líder da direita nacional. Giorgia Meloni declarou-se pronta para governar em 2023, informou o La Repubblica. "Não somos mais filhos de um deus menor", disse Ignazio La Russa, um dos fundadores do partido.
Em 2021, Meloni publicou sua autobiografia: “Io sono Giorgia. Le mie radici le mie idee" ("Eu sou Giorgia. Minhas raízes, minhas ideias", em tradução livre). Parte do título é o mesmo de uma música de Mem & J ('Io sono Giorgia') que, na verdade, criticava Meloni. No videoclipe, partes do comício do Dia da Família foram remixadas, transformando-o em um hino da comunidade LGBTQIAP+.
Giorgia Meloni será primeira-ministra da Itália. Durante sua campanha, ele moderou sua mensagem (nega o fascismo em um vídeo), mas suas convicções com relação à imigração, direitos LGBT ou aborto permanecem intactas.