Pandemia fez cérebro de meninas envelhecer mais rápido
Os cérebros de meninas adolescentes envelheceram mais rápido durante a pandemia. Foi o que concluiu um novo estudo, publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences.
Em 2018, pesquisadores da Universidade de Washington começaram a escanear cérebros de adolescentes como parte de um estudo sobre desenvolvimento. Depois de testar 160 indivíduos, a pesquisa foi interrompida, devido à pandemia de covid-19.
Isso possibilitou que os pesquisadores coletassem exames cerebrais de adolescentes tanto antes quanto depois do lockdown. Neva Corrigan, autora principal do estudo, descreveu o fenômeno ao New York Times como "um experimento natural".
Após o confinamento da pandemia, mais de 130 adolescentes foram ao laboratório para realizar novos exames cerebrais. Então, a equipe descobriu que o córtex cerebral dos participantes havia afinado mais rápido do que o índice médio para a idade.
O afinamento cortical é um processo normal que ocorre durante a transição da adolescência para a idade adulta. Ele começa no final da infância, quando o cérebro reduz a espessura de sua camada externa para eliminar conexões redundantes.
Foto: Mart Production / Pexels
Segundo o New York Times, alguns especialistas interpretam esse processo como uma reestruturação do cérebro, visando aumentar sua eficiência à medida que amadurece. Trata-se, portanto, de uma etapa natural do desenvolvimento.
No entanto, a equipe descobriu que os cérebros dos adolescentes no período pós-pandemia apresentaram um afinamento acelerado, associado a maiores índices de depressão e ansiedade.
Os pesquisadores também compararam o impacto cerebral por gênero e descobriram que, durante o confinamento, o cérebro das meninas desenvolveram-se mais rapidamente que o dos meninos.
O estudo concluiu que, nesse período, o cérebro das adolescentes envelheceu 4,2 anos em média, enquanto o dos meninos envelheceu 1,4. O córtex das meninas afinou quase três vezes mais rápido.
"Uma menina que chegou ao laboratório aos 11 anos e retornou aos 14, agora, apresenta um cérebro semelhante ao de uma jovem de 18 anos", disse Patricia K. Kuhl, coautora do estudo, em entrevista ao New York Times.
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Os autores atribuíram o afinamento acelerado do córtex nas meninas à privação social. O Dr. Kuhl explicou ao jornal que elas tendem a depender mais das interações sociais e das conversas com as amigas para seu desenvolvimento.
A equipe observou um afinamento acelerado em todo o cérebro das meninas, enquanto, nos meninos, esse processo ocorreu apenas em áreas específicas. Por outro lado, os pesquisadores enfatizaram que o desenvolvimento acelerado não deve ser interpretado como patológico, pois não indica danos cerebrais.
O estudo da Universidade de Washington é o primeiro a apresentar evidências físicas quanto à saúde mental e ao desenvolvimento em crianças e adolescentes.
No entanto, alguns pesquisadores permanecem céticos quanto à eficácia do estudo. Bradley S. Peterson, psiquiatra pediátrico do Children's Hospital em Los Angeles, afirmou que o artigo apresenta diversas falhas.
O Dr. Peterson, que não participou do estudo, apontou como principal preocupação o fato de que os dados de antes e depois não foram coletados dos mesmos indivíduos, comprometendo a análise da evolução cerebral.
Ele também ressaltou que os pesquisadores não apresentaram evidências suficientes para afirmar que o isolamento social foi a causa do amadurecimento acelerado, sem considerar outros fatores da pandemia, como estresse ou o aumento do tempo de tela ('ecrã', em Portugal).
De qualquer forma, o especialista concordou que, se o desenvolvimento acelerado realmente ocorreu, foi apenas uma adaptação do cérebro às complexas circunstâncias da pandemia, e não um sinal de dano cerebral.
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