Lobos mutantes de Chernobyl poderiam ajudar no combate ao câncer
Chernobyl é uma cidade fantasma na Ucrânia, fortemente ligada ao horror e à tragédia. No entanto, mesmo entre as ruínas do pesadelo nuclear, há vida que floresce e se desenvolve em meio às adversidades.
Quatro décadas após a explosão do reator, a Zona de Exclusão de Chernobyl (CEZ) cobre aproximadamente 1.600 quilômetros quadrados, em torno dos restos da usina nuclear e da cidade, que estão abandonadas.
Siga-nos aqui e verá, a cada dia, conteúdos que lhe interessam!
Segundo a Popular Mechanics, a área tornou-se o local ideal para os cientistas estudarem como a flora e a fauna se desenvolvem depois da exposição à radiação extrema.
Embora muitos considerem Chernobyl como um deserto nuclear, a realidade é que seu ecossistema foi compelido a evoluir e adaptar-se diante de condições únicas.
Pesquisadores da Universidade de Princeton estudaram os lobos que viviam na CEZ e, para sua surpresa, descobriram que os animais prosperavam, em comparação com as matilhas que viviam nas proximidades.
Os predadores caçavam herbívoros, que, por sua vez, alimentavam-se de plantas cheias de radiação, que cresciam em solo contaminado. Surpreendentemente, em vez de adoecerem, os lobos passaram por mutações rápidas, garantindo sua sobrevivência.
Imagem: alex_brov/Unsplash
“Os lobos cinzentos são uma ótima oportunidade para compreender os impactos da exposição crônica e multigeracional à radiação ionizante, devido ao papel que desempenham em seus ecossistemas”, explica o biólogo evolucionista de Princeton, Shane Campbell-Staton, à NPR.
Imagem: olegivanovpht/Unsplash
O câncer é uma das maiores consequências do desastre de Chernobyl. De acordo com a NPR, houve pelo menos 1.800 casos documentados de câncer de tireoide em crianças da região, após a radiação ter sido liberada no meio ambiente.
Os humanos não foram os únicos afetados. A população de cães em Chernobyl também apresentou taxas mais altas de câncer nos arredores da àrea afetada, o que os cientistas presumem ter ocorrido também com os lobos cinzentos que habitavam a região.
Imagem: blreak14/Unsplash
No entanto, como destaca a Popular Mechanics, os investigadores de Princeton acreditam que ocorreu uma rápida seleção natural, em que lobos com genes resistentes ao câncer conseguiram sobreviver, passando seus genes para a geração seguinte.
Outra vantagem foi a ausência de seres humanos dentro da Zona de Exclusão de Chernobyl (CEZ), o que permitiu que os lobos crescessem livremente nas florestas ao redor do desastre.
"Começamos a colaborar com biólogos especializados em câncer e empresas de oncologia para que nos ajudassem a interpretar esses dados", comentou Shane Campbell-Staton, biólogo evolutivo da Universidade de Princeton, à NPR.
O biólogo espera que a pesquisa realizada nos lobos de Chernobyl possa oferecer novas alternativas terapêuticas para lidar com o câncer.
No entanto, fazer pesquisa na Ucrânia trouxe problemas para a equipe da Universidade de Princeton (EUA), desde que a Rússia invadiu o país, em 2022, e o estudo teve de ser interrompido.
"Com a guerra na região, não podemos voltar a campo para fazer perguntas diretamente", disse a bióloga de Princeton, Cara Love, à NPR. "O que acontece na região agora é, obviamente, mais importante do que a pesquisa, por isso penso que as prioridades estão onde deveriam estar."
Até que a guerra termine na Ucrânia, permanecerá o mistério dos lobos de Chernobyl e como eles sobreviveram às adversidades da radiação.