O dia em que mercenários cubanos eliminaram seu próprio comandante russo na Ucrânia
Apesar dos milhares de soldados que a Rússia conseguiu recrutar para compor suas tropas na Ucrânia, é de conhecimento geral que o país também contrata mercenários de diferentes países para este trabalho. E em Cuba encontrou interessados.
A TVP World relata que, de acordo com fontes ucranianas, mercenários cubanos estão a lutar ao lado do 428º Regimento de Rifles Motorizados da Rússia, na área de Pokrovsk, em Donetsk.
O fato é que estes mesmos mercenários cubanos executaram seu comandante russo, que os submetia a maus-tratos contínuos e humilhantes, incluindo espancamentos e retenção de pagamento.
Diante do ocorrido, os altos escalões do Kremlin, supostamente, realocaram os mercenários cubanos na região de Rostov, dentro da Federação Russa, no lugar de aplicar-lhes uma punição maior.
O comando do 428º Regimento de Fuzileiros Motorizados da Rússia implorou ao Estado-Maior que trocasse os mercenários cubanos por soldados russos, mas isso não tem sido fácil.
A vida de um mercenário cubano que luta pela Rússia na Ucrânia é sacrificada, como mostra um vídeo divulgado em abril de 2024 pelo The Daily Mail.
Imagem: O Daily Mail
“Esta é uma mensagem para todos os soldados cubanos que estão aqui na Ucrânia”, avisa o homem, vestido com uma máscara de esqui e falando em espanhol. E continua: “Já estou aqui na guerra há algum tempo e não estamos sendo pagos”.
Imagem: The Daily Mail
“Muitos dos meus amigos já foram mortos em combate e não nos pagam o que disseram que pagariam”, acrescenta o mercenário cubano no vídeo.
Imagem: The Daily Mail
Este não é o único problema que os militares russos tiveram com soldados mercenários, desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
O Grupo Wagner, uma empresa militar privada que o The Guardian alegou ter feito o trabalho sujo do Kremlin durante muitos anos, rebelou-se contra Putin, em junho de 2023.
Entre outras coisas, o comandante do Wagner, Evgeny Prigozhin, exigiu a demissão do Ministro de Defesa da Rússia. Ele chegou, inclusive, a afirmar que a invasão russa à Ucrânia foi fundada numa mentira.
A rebelião do Wagner foi, finalmente, neutralizada pelas tropas russas, mas revelou as fissuras de sua relação com o Kremlin.
Poucos meses depois, o comandante do Wagner, Evgeny Prigozhin, morreu em um acidente de avião, junto com o segundo chefe mais importante do grupo.
Com os mercenários cubanos a situação é ainda mais dramática, apesar da proximidade política entre Moscou e Havana.
Em setembro de 2023, muitos meios de comunicação, incluindo a Al Jazeera, informaram que o governo cubano havia detido 17 pessoas envolvidas numa rede de tráfico de seres humanos.
O governo cubano, chefiado por Miguel Díaz-Canel, nega envolvimento neste esquema que recrutava homens da ilha para lutar na Ucrânia.
Segundo a Reuters, os mercenários cubanos assinam um contrato de um ano, onde recebem o equivalente a 2.000 dólares americanos, ao aderirem, e um pouco mais como salário mensal, além de 15 dias de férias, após seis meses de trabalho.
Com um salário que chega a ser cerca de 100 vezes superior ao que ganha um trabalhador cubano médio, não são poucos os homens desempregados que se sentem tentados a juntar-se às tropas russas.
Para tornar o acordo ainda mais agradável, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou, em 2022, um decreto que permite aos cidadãos estrangeiros passar por um processo rápido de cidadania, caso se inscrevam no serviço militar.
Embora tenha prometido muitas vantagens a quem tivesse disposto a lutar pelos russos, Putin parece não cumprir sua palavra.