Não vacinados devem pagar mais impostos?
A proposta foi anunciada por François Legaut, primeiro-ministro da região autônoma de Quebec, no Canadá: quem não se vacinar terá de pagar uma taxa extra nos seus impostos. Se esta medida for implementada, será o primeiro lugar no mundo onde as pessoas antivacinas podem ser penalizadas fiscalmente. Na imagem, Montreal, a maior cidade de Quebec.
Imagem: Michael Descharles/Unsplash
É um debate aberto em muitos países: hospitais e Unidades de Terapia Intensiva estão lotados de pessoas que se recusaram a tomar a vacina e, portanto, contraem covid-19 sem qualquer proteção. E não são poucos os analistas ou mesmo pessoas comuns que opinam que tal comportamento merece a devida penalização: pagar algo a mais pelo serviço de saúde prestado.
Quem se opõe a essa ideia argumenta que, se puderem cobrar impostos dos antivacinas, cobrarão também taxas extra dos fumantes, dos que consomem muito açúcar ou daqueles que não se exercitam o suficiente.
Imagem: Ryoji Iwata/Unsplash
François Legaut, o primeiro-ministro de Quebec, argumenta (segundo o Toronto Star) que os não vacinados representam um "ônus significativo" para o sistema de saúde. Ele ainda acrescentou: "É uma questão de justiça com 90% da população que fez sacrifícios".
Não estar vacinado dificulta a vida de quem quer ter uma vida normal. O Passaporte Covid foi implantado em muitos países e sem ele muitas atividades são proibidas. Em Veneza, por exemplo, sair da ilha é uma delas.
Na Itália não vale mais apresentar somente PCR, é preciso apresentar o certificado de vacinação para andar de transporte público. Isto significa que quem quiser atravessar a lagoa (especialmente se mora em ilhas como Murano ou Lido) só poderá fazê-lo se tiver o seu próprio barco.
O líder antivacina veneziano Luigi Coró denunciou na mídia americana como é difícil viver em Veneza sem poder pegar um barco: "Os idosos não podem ir ao mercado de Rialto". O trajeto é longo e com muitas pontes no caminho, segundo Luigi Coró. Apenas 5% da população veneziana tem barco próprio.
Outra ameaça para quem não se vacina é perder o emprego. Algo que, novamente, traz dúvidas jurídicas em muitos países. Segundo The New York Times, as autoridades de Nova York deram aos profissionais de saúde um ultimato em setembro de 2021: ou se vacinam ou serão demitidos. A BBC informou que a United Airlines e o Google estavam dispostos a fazer o mesmo.
Biden queria que a demissão por não se vacinar fosse legal em empresas com mais de 100 trabalhadores. Mas a Suprema Corte disse não à sua proposta. Entretanto, admite que profissionais da área de saúde e de casas de repouso são obrigados a se vacinarem, e permite que sejam demitidos caso contrário.
Na Áustria, o governo foi mais longe: anunciou que, a partir do mês de fevereiro, a vacinação é obrigatória para maiores de 18 anos. Com excessão de alguns casos, quem não tiver o certificado pode pagar uma multa de 600 euros (cerca de R$ 3.680,00).
Já o presidente francês Emmanuele Macron manifestou-se agressivamente contra as pessoas que não querem receber o imunizante. Ele garantiu que queria "irritá-los". Embora a palavra que ele tenha usado poderia ser traduzida com um termo muito mais forte.
A maioria da população francesa parece apoiar medidas restritivas para os não-vacinados, mas algumas ordens do governo causaram indignação. Tanto que as escolas francesas convocaram greve devido às contínuas mudanças no protocolo Covid (aula semi-presencial, testes constantes, indecisão com o uso de máscaras etc).
O maior perigo enfrentado por alguns países é o radicalismo de uma facção do movimento antivacina com posições violentas. Na Alemanha, em dezembro de 2021, foi realizada uma operação policial com várias prisões, depois que o canal de televisão ZDF revelou repetidas ameaças de morte, vindas de um grupo de Telegram antivacina, contra o líder regional da Saxônia. A polícia descobriu que havia armas e um plano de ataque traçado.
Na direção oposta, o polêmico Donald Trump parece ter ido para o lado pró-vacina. O magnata americano sempre teve uma posição ambígua, mas, finalmente, admitiu em público que tomou a terceira dose. Ele fez isso num comício e os seus apoiadores o vaiaram.
Trump chegou a descrever como "covardes", segundo o Los Angeles Times em sua edição de 12 de janeiro, políticos que escondem ter tomado a dose de reforço da vacina.
Os antivacinas ainda têm Marjorie Taylor Greene, congressista republicana e árdua defensora de teorias da conspiração. Recentemente, ela foi expulsa do Twitter por postar mensagens afirmando que as vacinas estavam causando milhares de mortes.
Embora a liberdade individual deva ser respeitada, a batalha contra o movimento antivacina tem de ser levada a sério. Trata-se de uma ameaça real à sobrevivência da espécie humana. Vacinas salvam vidas. Não se vacinar é colocar em risco sua própria integridade física e a dos demais.