Nova Cronologia, a teoria da conspiração sobre a supremacia russa
Jesus nasceu na Crimeia do século XII e tudo o que sabemos sobre o antigo Oriente Médio foi inventado pelos jesuítas? Claro que não. No entanto, um matemático russo dedica sua vida à ideia de que a maior parte da história da humanidade é uma ficção criada pela Europa Ocidental.
A Nova Cronologia é uma teoria proposta pelo matemático russo Anatoly Fomenko, professor da Universidade Estadual de Moscou e membro da Academia Russa de Ciências. Em outras palavras, ele não é um teórico da conspiração comum. Ele é um teórico da conspiração credenciado.
Em sua obra de seis volumes 'História: Ficção ou Ciência?' Fomenko argumenta que a História começou em 800 dC. Para ele, tudo antes disso foi uma invenção.
“O objetivo deste projeto científico, que brevemente chamamos de 'nova cronologia', é a criação de métodos confiáveis e independentes de datação dos eventos antigos e medievais”, afirma Fomenko em seu texto 'Problemas de cronologia na Antiguidade'.
A História, como a conhecemos hoje, de acordo com Fomenko, foi falsificada pelo Vaticano, pelo Sacro Império Romano e pela Casa de Romanov em 1600. Para ele, não importa a distância, falta de comunicação, geopolítica ou a existência de outros registros!
As pessoas que concordam ou simpatizam com Fomenko apontam que a maior parte do que sabemos sobre a História ocidental medieval e antiga vem de um número limitado de fontes que podem ser imprecisas.
Além disso, Fomenko aposta que a história da Ásia e do Oriente Médio foi toda inventada pelos jesuítas no século XVIII. Dinastias chinesas, o califado de Córdoba... Tudo isso seria falso. E pessoas de culturas totalmente diferentes entraram no seu jogo.
As pirâmides, segundo a visão de Fomenko, foram erguidas pelos franceses durante a expedição de Napoleão ao Egito.
A arqueologia e a tecnologia, que usam a datação por carbono, é diferente das fontes literárias, mas também são dispensadas por Fomenko.
Fomenko argumenta que as Cruzadas medievais e a antiga Guerra de Troia são o mesmo acontecimento, em vez de estarem separados por vários séculos e um ou dois milênios.
Enquanto isso, na teoria do matemático, o antigo Templo de Salomão é, na verdade, a Hagia Sofia de Istambul. E o rei Salomão da Bíblia era o sultão otomano medieval Suleiman, o Magnífico.
Isso faz sentido já que, de acordo com Fomenko, o islamismo e o cristianismo ortodoxo eram originalmente a mesma religião, mas se separaram.
O Jesus Cristo histórico, de acordo com a teoria de Fomenko, foi uma mistura entre o imperador bizantino Andrônico I Commenos, o profeta Eliseu do Antigo Testamento, São Basílio de Cesareia e o papa Gregório VII.
Na teoria de Fomenko, Jesus nasceu em algum lugar na atual Crimeia (região da Ucrânia requisitada pela Rússia) e morreu na Colina de Josué, em Constantinopla, no século XII.
Fomenko tem plena convicção da existência de um vasto império turco-eslavo, chamado Horda Russa. Ele argumenta que essa civilização desempenhou um papel central em grande parte da história humana.
O Império Mongol, argumenta Fomenko, aconteceu, na verdade, nos anos 1300 e era russo, em vez de mongol.
O Antigo Império Romano? Esse também era a Horda Russa.
Quem introduziu a escrita entre os europeus e a agricultura na Índia? Bom, acredite ou não, Fomenko diz que foi a Horda Russa.
Cristóvão Colombo era um cossaco… da Horda Russa!
A Horda Russa, teria governado o território que atualmente pertence à Belarus, Polônia e Ucrânia, entre outros, o que significa que a cultura russa como entendemos não foi formada em torno de Kiev.
A Roma atual, afirma Fomenko, foi fundada há 600 anos e seu nome é um substituto para Reino de Israel, o Império Bizantino e, é claro, a Horda Russa.
Basicamente, toda conquista feita por uma civilização importante foi, segundo sua teoria, pela Horda Russa. Fomenko identifica os citas, os hunos, os godos e muitos outros povos como parte da mesma civilização eslava. Quem poderia acreditar nisso?
O estudioso Charles Halperin afirma, em seu trabalho acadêmico 'False Identity and Multiple Identities in Russian History', que um em cada quatro russos simpatiza com as teorias de Fomenko.
Até mesmo o grande mestre do xadrez, Garry Kasparov, admitiu que concorda com o questionamento da Nova Cronologia sobre evidências da Idade Média e da História Antiga.
No entanto, Kasparov não se vê como um “crente” de Fomenko e define suas teorias como “pseudo-história e criação de mitos”.
Halperin argumenta que a popularidade das teorias de Fomenko é uma versão bastante complexa e extrema de pensar em seus antepassados como mais importantes e gloriosos do que realmente foram.