O mundo poderia sofrer um apocalipse zumbi?
O conceito morto-vivo fascina a humanidade. Nas últimas décadas, o sucesso de séries de TV, como 'The Walking Dead', ou filmes como 'Extermínio' ('28 Dias Depois', em Portugal) e 'Zumbilândia' ('Bem-vindo a Zombieland', em Portugal) são apenas uma prova disso.
Mas qual seria a probabilidade real de hipotéticos zumbis causarem um apocalipse na Terra?
Antes de saber se são reais ou não, vamos conhecer melhor a história dos mortos-vivos. De acordo com History.com, a primeira civilização a preocupar-se com estes seres provavelmente foram os antigos gregos.
Arqueólogos descobriram túmulos gregos antigos que continham esqueletos humanos enterrados com objetos pesados e rochas em cima. Acredita-se que isso poderia ser uma estratégia para manter os mortos presos ao subsolo.
Mais tarde, nos séculos XVII e XVIII, o conceito "zumbi" começou a tomar a forma como a conhecemos hoje. De acordo com History.com, isto ocorreu pela primeira vez no Haití.
Naquela época, um grande número de pessoas da África foram levadas, pelos franceses, para Saint-Dominque, atual Haití. As terríveis condições a que eram submetidas fizeram com que acreditassem que, uma vez mortas, voltariam a viver livres no seu continente de origem.
Mas, com o tempo, as lendas evoluíram para a prática do vodu. Muitos acreditavam que um praticante desta religião, conhecido como Bokor, poderia ressuscitar os mortos e até enfeitiçá-los, para que realizassem tarefas malignas. Na verdade, o termo moderno para zumbi vem da palavra Kongo nzambi, que significa "espírito de uma pessoa morta".
No entanto, depois do primeiro filme sobre o assunto, 'White Zombie', em 1932, e do clássico cult, 'Night of the Living Dead', a ideia de "zumbis" foi sedimentada na cultura pop, em todo o mundo.
Quando falamos de temas que envolvem lendas e religiões, é realmente difícil comprovar sua veracidade. Mas há algo real e perigoso, que tem grandes semelhanças com os zumbis.
Uma pessoa poderia, por exemplo, deslocar-se de um lugar a outro, em um estado catatônico, focado apenas em comida. Acredite ou não, isso acontece! Embora não seja um morto, as características destas pessoas assemelham-se as de um zumbi.
O neuropatologista da Universidade de Boston, Peter Cummings, é um importante consultor da Zombie Research Society. Cummings diz que a síndrome de Klüver-Bucy é uma das doenças que mais se aproximam aos traços típicos de zumbis.
Em entrevista ao Global News, Cumming falou sobre a síndrome: "O paciente afetado apresenta sintomas díficeis de lidar, como a hiperoralidade [o desejo de colocar objetos inadequados na boca], a incapacidade de reconhecer objetos, falta de atenção, demência e um estado catatônico. Eles também podem ser bastante violentos."
Cummings também falou de outra condição rara, que faz com que os pacientes atuem como zumbis: a encefalite letárgica. Ele disse que ocorreu um surto dessa doença em 1918, relacionado com a epidemia de gripe espanhola. Os pacientes tinham alucinações, entravam em estupor e, eventualmente, tornavam-se catatônicos.
Segundo Cummings, se os pacientes fossem estimulados, por exemplo, com tapinhas no ombro, aqueles que padeciam de encefalite letárgica sairiam de seu estado catatônico e ficariam "furiosos".
Em sua entrevista ao Global News, Cummings alertou que: "Existem coisas que afetam o cérebro e que chegam a alterar o comportamento do indivíduo. O paciente, então, passa a fazer coisas socialmente inaceitáveis".
Por outro lado, alguns especialistas acreditam que os vírus poderiam transformar humanos em zumbis. Dr. Ben Neuman, professor de virologia da Universidade de Reading, disse ao Yahoo: "Existem parasitas que estão muito próximos da fazer dos zumbis uma realidade."
"Os vírus são particularmente estranhos, eles estão trancados no porão da Mãe Natureza. Há mais vírus por aí do que jamais descobriremos, e aposto que em algum lugar da natureza, algo b i z a r r o estará acontecendo", explicou.
Dr. Neuman citou o exemplo de uma doença comum, capaz de desencadear comportamento semelhantes aos do zumbi: "A raiva muda completamente a maneira como um cão se comporta. Além de causar convulsões, parece levá-lo à loucura".
Outro fator desencadeante de um comportamento similar ao de um zumbi são as toxinas. De acordo com a Harvard Health Publishing, o etnobotânico Wade Davis, da Universidade de Harvard, descobriu uma explicação médica para as "mortes vivas", no país do Haiti, na década de 1980.
O cientista observou que uma neurotoxina encontrada em baiacus e outros animais "cria uma aparência de morto", mas o efeito é apenas temporário. Na foto: Dois "zumbis" haitianos. Clairvius Narcisse e Francina, também conhecida como Ti Femme, foram declarados mortos e enterrados, mas voltaram para casa, vários anos depois, vivos e bem.
Um artigo na Harvard Health Publishing afirma que "para lançar qualquer tipo de cenário apocalíptico (zumbi), deve haver um agente infeccioso e uma rota eficiente de transmissão". Não é o caso das toxinas e doenças abordadas aqui, pois não são contagiosas o suficiente para isso.
No entanto, a Harvard Health Publishing afirmou que existe um agente capaz de causar algo devastador: "Os príons são proteínas de formato estranho que causam dobras anormais em proteínas do cérebro. Essencialmente, eles transformam os centros do pensamento superior do cérebro em um mingau esponjoso".
Foto: Por Tulemo - Wikimedia Commons
Os príons causam a doença conhecida como kuru, que tornou-se famosa quando uma tribo c a n i b a l, conhecida como Fore People, na Nova Guiné, foi infectada. Os membros da tribo contraíram a doença porque estavam comendo cérebros humanos.
Os sintomas do kuru incluem: má coordenação, mudanças de personalidade, perda de fala e feridas abertas. No entanto, para que um apocalipse zumbi dessa natureza ocorra, os humanos teriam que desenvolver um gosto especial por cérebros de sua mesma espécie.
Zumbis humanos reais provavelmente não existem, a menos que estejam escondidos em algum lugar. No entanto, cientistas e médicos não descartam a possibilidade de haver uma pandemia com infectados que apresentem sintomas semelhantes aos de zumbis.
Dr. Steven Schlozman, professor de psiquiatria na Harvard Medical School, disse à Harvard Health Publishing: "Um apocalipse zumbi real não deveria estar no topo da nossa lista de preocupações. O que eu sempre digo é que somos humanos, então temos muitas maneiras de acabar com nossa espécie, sem a necessidade dos zumbis".