O plano da Ucrânia para quando a Crimeia for recuperada
Recentemente, o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, anunciou um plano de 12 etapas para a desocupação da Crimeia, anexada pela Rússia, durante 8 anos.
Durante meses, funcionários de todos os níveis do governo da Ucrânia falaram sobre a necessidade de retomar a Península da Crimeia. De fato, a região foi transformada em um objetivo oficial de guerra, de acordo com a France 24.
"Começou com a Crimeia e terminará com a Crimeia", disse, segundo a Newsweek, o presidente Volodymyr Zelensky, citando a frase do jornalista e ativista daquela região, Nariman Dzhelyal, preso pelo governo russo.
Entretanto, muitos observadores e analistas políticos questionaram como a reintegração da Crimeia funcionaria no caso de que fosse concretizada.
Uma tradução de Roman Petrenko para o Ukrainska Pravda explica o plano, que ainda aguarda discussão pública.
O primeiro ponto é a concepção de um monumento em homenagem aos guardas de fronteira que resistiram, corajosamente, às tropas russas, na Ilha das Cobras.
Aqueles que colaboraram com a Rússia ou cometeram traição, antes ou depois da anexação, serão investigados para determinar seu nível de responsabilidade e poderão ser impedidos de votar nas eleições ou apresentarem candidatura política.
Quaisquer policiais, juízes, promotores ou funcionários públicos empregados pelo governo ucraniano e que trabalharam nas mesmas funções para a Rússia serão investigados pelos tribunais ucranianos para avaliar sua responsabilidade criminal.
Estas pessoas poderão perder sua pensão do Estado e serão proibidas de serem empregadas por qualquer órgão público, de acordo com o plano de 12 etapas.
Este ponto pode ser complicado, pois determina que a Rússia ou o Estado legal que suceder à atual nação extradite todos os traidores e criminosos de guerra que cometeram crimes na Crimeia, independentemente de terem ou não cidadania ucraniana.
Este ponto parece indicar que, se a Ucrânia retomar a Crimeia, significaria que a Rússia teria se rendido, sob condições desfavoráveis, ou todo o país entrou em colapso e foi substituído, ambos os quais são resultados altamente improváveis.
Propagandistas, jornalistas e personalidades da mídia que tenham colaborado, de alguma forma, ou ajudado a incitar a violência contra ucranianos ou outras nacionalidades na Crimeia serão investigados e entregues à polícia internacional, se necessário.
Qualquer cidadão russo que se mudou para a Crimeia, ilegalmente, durante a ocupação, e ainda resida lá, após sua retomada, será solicitado a ir embora, dentro de um prazo razoável, determinado por lei.
Qualquer transação não coberta pela lei ucraniana, desde o início da ocupação, será considerada nula e sem efeito, incluindo as imobiliárias. O plano de Danilov afirma que a lei ucraniana cobria a Crimeia nos últimos nove anos, então os direitos de propriedade permanecem “com os cidadãos da Ucrânia”.
O oitavo ponto do plano prevê o desmantelamento da Ponte Kerch para “garantir total liberdade de navegação no âmbito do programa de compensação de danos”.
As autoridades ucranianas implementarão um programa para remover a propaganda russa da consciência dos residentes da Península da Crimeia, usando métodos semelhantes aos empregados pelos Aliados contra a Alemanha nazista, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Haverá uma série de projetos de obras públicas para restaurar as cidades ucranianas destruídas, e os corpos daqueles que foram submetidos à violência russa serão exumados e devidamente enterrados, para fornecer mais evidências dos crimes da Rússia na Ucrânia.
As autoridades ucranianas planejam criar um banco de dados abrangente de todos os crimes russos cometidos contra aqueles que resistiram à ocupação da Crimeia. Os direitos dos cidadãos ucranianos e tártaros da Crimeia também seriam restaurados, de acordo com o plano.
Quaisquer ucranianos, tártaros da Crimeia ou cidadãos da Ucrânia detidos pela Rússia por motivos políticos serão libertados. Aqueles que enfrentaram perseguição também serão indenizados por “danos morais causados”, embora o plano não tenha fornecido detalhes sobre qual país compensaria os prejudicados.
O ponto final de Danilov pede a renomeação de Sevastopol para neutralizar o significado ideológico que o nome tem sobre a população russa. O plano sugere que o novo nome da cidade poderia ser o equivalente, em português, a 'Objeto nº 6', pelo menos até que a Verkhovna Rada da Ucrânia pudesse escolher um mais apropriado.
Embora possa parecer difícil, o plano pretende atingir um equilíbrio entre punição e desocupação, como chave para a futura paz da península, caso a Ucrânia consiga tê-la de volta.
Mikhail Razvozhayev é o atual chefe de Sevastopol, nomeado pelo Kremlin, e chamou o plano de desocupação da Ucrânia de "doente", em entrevista recente à Agência de Notícias Russa (TASS). "Seria errado tratar com seriedade os comentários de pessoas doentes. Eles devem ser curados, e é isso que nossos militares estão a fazer agora", disse.