O que aconteceu com Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner?
Poucas horas depois de Yevgeny Prigozhin interromper sua rebelião, surgiram perguntas sobre o que aconteceu com o líder do Grupo Wagner e se seu motim de curta duração o transformou em um herói ucraniano.
No acordo fechado entre Prigozhin e o Kremlin, Prigozhin, supostamente, aceitou o exílio na Belarus, em troca de que seus soldados não fossem processados pela Rússia, segundo com a Associated Press.
As tropas do Grupo Wagner que ficaram fora da revolta deveriam receber contratos para lutar diretamente nas Forças Armadas russas. Desta maneira, de acordo com a Associated Press, estariam sob controle dos líderes militares que Prigozhin marchava para derrubar.
Não é de conhecimento público se Prigozhin foi autorizado a levar os soldados que se rebelaram com ele para a Belarus, nem se a unidade mercenária será dissolvida, depois que suas tropas remanescentes se juntarem às Forças Armadas russas.
“O que não sabemos, mas descobriremos nas próximas horas e dias, é quantos de seus combatentes foram com ele” disse o ex-chefe do Estado-Maior do Reino Unido, Lord Richard Dannatt, à Sky News.
Segundo o militar britânico, Prigozhin, com uma porção de homens, ainda poderia representar uma ameaça para a Ucrânia, dissipando assim o mito de que o fundador do Grupo Wagner foi um herói para Kiev.
Apesar de sua rebelião contra a Rússia, Prigozhin e seus mercenários, provavelmente, ainda são vistos como monstros que cometeram algumas das piores atrocidades durante a invasão da Ucrânia, embora apenas um punhado de evidências tenha sido divulgado.
Em abril de 2023, o ex-mercenário de Wagner, Alexey Savichev, admitiu ao The Guardian que participou da execução de prisioneiros de guerra ucranianos. Ele ainda disse que, junto a seus compatriotas, também torturaram soldados capturados.
“Disseram-nos para não fazer prisioneiros, apenas atirar neles, no local. Nós os matamos com nossas balas… É guerra e não me arrependo de nada do que fiz lá. Se pudesse, voltaria”, disse.
“Também torturamos soldados, não havia regras”, admitiu Savichev, cujo primeiro relato de sua experiência na Ucrânia foi publicado pelo Gulagu.net junto com o de Azamat Uldarov, outro integrante do Wagner, que admitiu haver matado civis e crianças ucranianos.
“Ela gritava, ela era uma criança pequena, tinha cinco ou seis anos e eu atirei nela, um tiro mortal. Eu não tinha permissão para deixar ninguém sair, entendeu?” teria dito Uldarov ao ativista russo de direitos humanos e fundador do Gulagu.net, Vladimir Ovechkin.
A suposta saída de Prigozhin de campo podeira significar uma uma vitória para a Ucrânia. O grupo Wagner poderia não continuar a existir como ferramenta tão eficaz para a guerra, de acordo com o analista Elliot Ackerman, do The Atlantic.
Ackerman argumentou, em um artigo publicado no dia 26 de junho, que as Forças Armadas russas haviam travado uma guerra baseada na estratégia de atrito, contando com os eficazes soldados, neste tipo de guerra, do Grupo Wagner.
“A perda do Grupo Wagner exige que Putin confie totalmente nas Forças Armadas russas. Isso reduz sua capacidade de isolar a população russa dos custos da guerra, diminuindo o espaço político para tal abordagem”, continuou Ackerman.
Embora não haja, até agora, uma confirmação sobre se Prigozhin chegou realmente à Belarus, sabe-se que o capitão mercenário ainda está vivo. Ele quebrou seu silêncio sobre o motim, dizendo que marchou em direção à Moscou apenas para evitar a destruição de Wagner e obter justiça para os mortos pela Rússia.
“O objetivo da marcha era impedir a destruição do PMC Wagner e fazer justiça com aqueles que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um grande número de erros durante a operação militar especial”, disse Prigozhin, segundo a CNN.
Prigozhin definiu sua marcha como um protesto e não como uma tentativa de derrubar o governo. Ele acrescentou que nenhum soldado foi morto e lamentou que algumas aeronaves que bombardeavam Wagner em sua marcha tivessem sido destruídas.
Putin, por sua vez, disse que as tropas do Grupo Wagner tomaram a “decisão certa” ao interromper sua marcha, acrescentando que a “rebelião armada teria sido reprimida de qualquer maneira”.