O que é a Igreja da Unificação que o Japão quer proibir, após morte de ex-primeiro ministro?
O governo japonês solicitou a um tribunal que destituísse a Igreja da Unificação, popularmente conhecida como Moonies, de seu status religioso e dos benefícios decorrentes dele.
O The Guardian informou que, se o tribunal distrital de Tóquio aceitar o pedido, a igreja perderia as suas isenções fiscais e manteria os registros públicos de suas doações.
A decisão foi tomada pelo primeiro-ministro Fumio Kishida. Seu gabinete fez o pedido formal, após uma longa investigação sobre como a igreja pressiona os seus membros a doarem grandes quantias de dinheiro.
O catalisador da investigação foi o assassinato do ex-primeiro-ministro japonês, Shinzō Abe, em 8 de julho de 2022, por Tetsuya Yamagami, durante um comício político em Tóquio.
Na ocasião, o assassino argumentou que a Igreja da Unificação foi a fonte da ruína financeira de sua família. Sua mãe juntou-se aos Moonites na década de 1990 e continuou a doar para a igreja, mesmo depois de perder o negócio da família e declarar falência.
O The Guardian destacou que Abe, embora não fosse membro, havia enviado mensagens de apoio em eventos ligados à igreja.
Originária da Coreia do Sul, a Igreja da Unificação estabeleceu a sua filial japonesa no final da década de 1950, onde encontrou pontos em comum com os políticos japoneses de direita: o ódio ao comunismo e ao sindicalismo.
Segundo o The Guardian, um desses políticos foi o primeiro-ministro Nobusake Kishi, que supostamente teria ajudado a Igreja da Unificação, no Japão.
Nobusake Kishi é o avô materno de ex-primeiro-ministro japonês assassinado: Shinzō Abe.
Existem várias razões pelas quais a Igreja da Unificação alcançou tamanho poder no século XX.
Na foto: Casamento em massa no Madison Square Garden, Nova York, em 1982.
A Igreja, formalmente chamada de Federação das Famílias para a Paz e a Unificação Mundial, foi fundada por Sun Myung Moon, em 1954.
Ela é conhecida por seus casamentos em massa e pelos ensinamentos b i z a r r o s sobre as controvérsias do Cristianismo, envolvendo o fundador da Igreja, o Reverendo Moon.
Imagem: @hudsoncrafted/Unsplash
A Enciclopédia Britânica explica que Moon nasceu em terras onde, hoje, fica a Coreia do Norte, em 1920, e foi criado dentro da Igreja Presbiteriana, da qual acabou expulso, devido à heresia.
Segundo o Business Insider, quando tinha 15 anos, Moon teve uma visão, na qual Jesus dizia para ele concluir sua missão na Terra.
Segundo Moon, o propósito da criação é experimentar a alegria do amor. Neste sentido, Adão e Eva abusaram do amor através da fornicação.
Imagem: @_calvincraig/Unsplash
A teoria de Moon argumenta que Cristo errou ao não se casar e, portanto, não completou os planos de Deus.
Imagem: @litschigraphie/Unsplash
Neste caso, quem concluiria o plano de Deus? Ora, Reverendo Moon, é claro!
A Guerra da Coreia, na década de 1950, moldou profundamente a perspectiva política de Moon. De acordo com o Business Insider, ele foi um fervoroso anticomunista e apoiou causas conservadoras, ao longo de sua vida.
A Igreja da Unificação rapidamente cresceu e ultrapassou as fronteiras da península da Coreia, em direção ao Japão e ao Ocidente.
Sun Myung Moon mudou-se para os Estados Unidos na década de 1970, onde sua seita continuou a crescer em número de membros, imóveis e influência.
Durante o escândalo Watergate, Moon pediu aos seus seguidores que apoiassem o presidente dos EUA, Richard Nixon, o que lhe rendeu uma visita oficial à Casa Branca e muita atenção da mídia.
Quando a Igreja da Unificação começou a receber críticas negativas do The New York Times e do The Washington Post, Moon simplesmente decidiu fundar seu próprio jornal: The Washington Times.
The Washington Times tornou-se um dos jornais conservadores mais importantes dos Estados Unidos e tinha Ronald Reagan como um suposto leitor assíduo.
A década de 1980 foi o apogeu da Igreja da Unificação. Havia reportagens no The Washington Post afirmando que o ministério de Moon possuía tudo, desde revistas no Japão, até barcos de pesca em Massachusetts e bancos no Uruguai.
Mas o plano não poderia durar para sempre. Em 1982, Moon foi condenado por fraude fiscal e conspiração. Ele acabou condenado a 18 meses de prisão e multado em 15 mil dólares. Depois de 13 meses, foi libertado por bom comportamento.
De acordo com o The Guardian, o declínio continuou até a década de 1990. A Igreja tinha cada vez menos crentes e sua má reputação aumentava. Em 1992, Bill Clinton foi eleito e, assim, Moon não teria mais amigos na Casa Branca.
O Reverendo Moon faleceu em 3 de setembro de 2012. Embora não tivesse mais tanto poder como no passado, ainda era o chefe de um império empresarial, além de possuir centenas de crentes leais.
A viúva de Moon, Hak Ja Han (foto), o sucedeu na liderança da Igreja da Unificação e seus filhos cuidaram da maior parte das tarefas administrativas.
Seu filho mais novo, Sean Moon, fundou a Igreja do Santuário da Paz Mundial e da Unificação, também conhecida como Ministério da Vara de Ferro. O detalhe é que a “barra de ferro” era, na verdade, fuzis semiautomáticos.
O jovem Sean Moon e outros membros da Igreja do Santuário participaram do Ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Segundo consta, ele e seus seguidores vivem em um complexo em Waco, no Texas.