O radical discurso de JD Vance contra a Europa

O vice-presidente dos EUA, JD Vance, repreendeu os líderes europeus de tal maneira, durante a Conferência de Segurança de Munique, que fez o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, definir seu discurso de "inaceitável".

O público de Vance ficou tão atordoado que sua piada sobre Elon Musk não conseguiu provocar nem uma risadinha.

Vance brincou que se a democracia dos EUA era forte o suficiente para sobreviver a anos de "repreensão de Greta Thunberg, vocês podem sobreviver a alguns meses de Elon Musk", relata o The Independent.

Evitando a questão urgente da Ucrânia, Vance lançou um ataque implacável à visão de democracia da Europa e ao que, de fato, os líderes europeus acreditavam que a OTAN estava defendendo.

Sinalizando “a ameaça interna”, seu primeiro ataque foi direcionado à Romênia e sua eleição presidencial, anulada em dezembro passado, depois que documentos desclassificados indicaram que ela havia sido alvo de uma campanha “altamente organizada” de interferência russa em favor do candidato de extrema direita Călin Georgescu.

Vance disse na conferência: “Se sua democracia pode ser destruída com alguns US$ 100.000 em publicidade digital de um país estrangeiro, então ela não era muito forte para começar.”

Sem parar para respirar, Vance passou a abordar uma questão que lhe é cara: o aborto. Não o direito de fazê-lo, mas o direito de protestar contra ele.

Assim, atacou a lei do Reino Unido que impede manifestações dentro de um determinado raio de uma clínica de aborto.

Vance insistiu que as “liberdades básicas dos britânicos religiosos, em particular” estavam ameaçadas, apesar do fato de as autoridades já terem pedido ao manifestante em questão para sair da área restrita quatro vezes.

Ganhando força, Vance disse aos líderes alemães que eles precisavam acabar com o cordão sanitário que protege o governo contra a colaboração com partidos de extrema esquerda ou extrema direita.

“A democracia repousa no princípio sagrado de que a voz do povo importa”, disse Vance. “Não há espaço para cordões sanitários. Ou você defende este princípio ou não defende”.

Depois de criticar Bruxelas e a Suécia por supostos comportamentos antidemocráticos, Vance acabou culpando os líderes europeus por convidarem massas de migrantes para seus países contra a vontade de seus cidadãos.

Isso, ele disse, resultou no atropelamento de carro em Munique, suspeito de ter sido cometido por um requerente de asilo afegão em 13 de fevereiro, que matou uma mãe e uma criança e feriu 37.

Mas, de acordo com a Europol, dos 120 ataques terroristas em sete estados-membros em 2023, apenas 14 foram cometidos por atores com perfil de migrante ou requerente de asilo. A maioria – 70 – foi cometida por separatistas.

Mas a mensagem de Vance foi alta e clara, equivalendo a uma redefinição radical das relações entre a UE e os EUA.

“Décadas do antigo relacionamento entre Europa e América estão terminando”, foi a conclusão do presidente Volodymyr Zelensky na conferência. “De agora em diante, as coisas serão diferentes, e a Europa precisa se ajustar a isso”.

O vice-presidente americano encerrou sua viagem à Alemanha, encontrando a líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel.

O chanceler Olaf Scholz respondeu mais tarde assim: “A AfD é um partido em cujas fileiras o nacional-socialismo e seus crimes monstruosos, crimes contra a humanidade, como os cometidos em Dachau, foram banalizados como apenas um 'grão de caca de pássaro na história da Alemanha'”, relata o The Guardian.