Por que as crianças de Singapura são as melhores em matemática?
O Relatório PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é o teste educacional mais importante do mundo. Foi criado em 2000 e é aplicado nas escolas ao redor do mundo a cada três anos. Estes são os resultados da oitava edição, divulgada em dezembro de 2023.
Os testes avaliaram 690 mil alunos entre 15 e 16 anos, de 81 países, nas áreas de matemática, leitura e ciências.
No Brasil, os resultados pioraram, em comparação com a última publicação, feita em 2018. Mais uma vez, a pontuação ficou abaixo da média mundial, nas três disciplinas, segundo relatou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em matemática, apenas 27% dos alunos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência, significativamente abaixo da média da OCDE, que é de 69%, informou a swissinfo.ch.
O resultado dos países da União Europeia também pioraram, baixando 14 pontos em leitura, em comparação com o último relatório, 6 pontos em ciências e 20 em matemática.
Na Noruega, a disciplina baixou 33 pontos, em comparação com o último relatório, e na Islândia, foram menos 36 pontos. Nos EUA, também houve uma queda de 13 pontos. O Chile, que foi o primeiro classificado na América Latina, piorou 6 pontos em matemática.
A queda significativa na pontuação dos testes pode ser consequência da pandemia de covid-19, que afetou o sistema educacional durante três anos. Mas por que matemática obteve os piores resultados?
Diferente do que aconteceu em países ocidentais, algumas dezenas de países asiáticos conseguiram, apesar do contexto, melhorar os seus resultados.
É o caso de Singapura, que subiu 6 pontos em matemática (575), ficando novamente em primeiro lugar nos três testes: matemática, leitura e ciências. Eles são seguidos por Taiwan, Japão e Coreia, que também melhoraram sua pontuação.
Historicamente, o país asiático sempre teve bons resultados em matemática. Nesta última avaliação, a diferença entre o primeiro e o segundo colocados foi de 39 pontos.
Singapura tem apenas 5,4 milhões de habitantes e é um dos lugares mais ricos do mundo, mas isto não explica sua excelente pontuação.
As autoridades de Singapura acreditam que a educação matemática é crucial para a educação. Desde cedo, as crianças aprendem a desenvolver processos matemáticos complexos, que envolvem raciocínio, comunicação e modelagem.
A abordagem do ensino da matemática neste país é conhecida como 'Método de Singapura', ou 'Mastery Approach'.
O método foi desenvolvido pelo Ministério da Educação de Singapura, para as escolas públicas do país.
Nas últimas décadas, o 'Método de Singapura' mostrou-se extremamente eficiente e foi amplamente adotado e adaptado para todos.
Sua abordagem privilegia uma compreensão mais profunda do que foi estudado, sem que haja a necessidade de memorização no processo de aprendizagem.
Existem dois pilares básicos no método matemático de Singapura: a 'Abordagem CPA' (Concreta, Pictórica e Abstrata) e a 'Noção de Domínio'.
A 'Abordagem CPA' não é exclusiva da matemática de Singapura. Foi desenvolvido pelo psicólogo estadunidense Jerome Bruner, na década de 1960.
Esta abordagem perte do princípio de que crianças e adultos acham a matemática difícil, porque é abstrata. Por isso, introduz conceitos de forma tangível e só então avança para tópicos mais complexos.
“Na matemática de Singapura, as crianças sempre aprendem com exercícios práticos”, explicou Ariel Lindorff, médico e professor de Educação na Universidade de Oxford, à BBC.
"Elas podem usar cubos de adição e juntá-los, podem desenhar, usar imagens de flores, pessoas ou animais. A ideia é usar elementos que sejam mais fáceis de manusear e imaginar do que apenas números", disse o Dr. Lindorff.
As crianças somente avançam para a fase abstrata de aprendizagem depois de compreender o raciocício concreto e pictórico do problema matemático.
A 'Abordagem CPA' fornece, portanto, uma forma de compreender a matemática através de representações. Algo que não depende de memorização.
O outro pilar do método de Singapura é a noção de 'domínio': todos os alunos da turma avançam juntos, sem deixar ninguém para trás.
Como uns entendem mais rápido que outros, em vez de que todo o grupo avance ou pare, alguns ampliam ainda mais o tema, enquanto outros trabalham na sua compreensão, até terem certeza de que todos o dominam.
O método já é utilizado em outros países, como Estados Unidos, Canadá, Israel e Reino Unido, mas os resultados não são os mesmos. Lindorff acredita que “o sucesso de Singapura está relacionado à sua cultura, contexto e história educacional”.
Os professores em Singapura têm perspectivas de carreira mais promissoras. Além disso, a atitude das crianças em relação à matemática também é diferente: em vez de resolver as questões apenas para aprovar os exames, seu enfoque é resolver os problemas para a vida.