Porto construído pelos EUA no Ártico pode causar caos mundial
No Alasca, uma pequena cidade com 3.500 habitantes poderá ser o cenário de uma luta internacional pelo domínio do primeiro porto de águas profundas do Ártico.
Serão necessários cerca de 600 milhões de dólares para construir uma expansão, que provavelmente estará operacional até 2030.
O porto receberá navios de até 4 mil passageiros, como as linhas de cruzeiro. Além disso, aportaram nele navios de carga, que vão abastecer pequenas cidades do Alasca, e embarcações militares.
A presença militar dos EUA na pequena cidade de Nome deve impedir o estabelecimento de navios russos e chineses no Ártico.
A previsão é de que a área possa se tornar uma importante rota estratégica e comercial para economias maiores, nos próximos anos.
O terrítório do Ártico, de 8.700 quilômetros quadrados, não pertence a nenhum país. No entanto, Rússia, Canadá, Noruega, Dinamarca e Estados Unidos possuem algumas áreas na região.
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Em outubro de 2022, o governo Biden revelou uma "Estratégia Nacional para a Região do Ártico", que prevê rotas estratégicas para a próxima década.
Segundo uma análise do jornal Politico, a guerra na Ucrânia intensificou o interesse pelo Ártico. Os esforços dos Estados Unidos, no entanto, podem ser ineficazes, devido à falta de experiência do país.
O problema não é novo. Em 2019, o contra-almirante da Marinha, David W. Titley, disse à CNN que os EUA sabem que suas ações são demasiado lentas.
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Em entrevista à CNN, o almirante observou: "Acho que finalmente começamos a prestar a devida atenção. O Ártico foi ignorado nos últimos anos, mas nossos rivais já têm planos sérios para ele."
Durante o Fórum Econômico de São Petersburgo, em junho de 2022, Igor Sechin, um oligarca próximo a Putin e CEO de uma empresa petrolífera, chamou o Ártico de "arca de Noé", pois seria capaz de salvar a economia russa.
A China também está muito interessada em projetos russos, na Rota do Mar do Norte, e considera o Ártico crucial para sua política comercial. Ela a chama de "Rota da Seda Polar".
Neste momento, a Rússia domina a área. De acordo com o arctic-russia.ru, um portal de investimentos russo, o Ártico "representa um quinto das receitas orçamentárias federais".
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A Rússia sempre demonstrou grande interesse pelo Ártico, principalmente por questões geográficas, já que o litoral mais extenso do país, na região da Sibéria, tem vista para o Ártico.
Por outro lado, as águas do Ártico são navegáveis apenas alguns meses do ano, geralmente de junho a novembro. No inverno e na primavera, o gelo o torna intransitável.
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Igor Sechin, oligarca russo, vê o Ártico como um meio de contrabalançar as sanções à economia russa. Ele também sabe que o Ártico poderá ser crucial para o comércio mundial.
A região é rica em recursos naturais, ainda inexplorados, além de ser uma rota comercial mais rápida.
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De acordo com as últimas estimativas, a rota comercial do Ártico, chamada Rota do Mar do Norte, levaria 40% de tempo menos do que as rotas tradicionais.
Assim, a viagem fica mais barata, usando menos combustível do que a rota do Canal de Suez, por exemplo.
A rota marítima do Ártico também aumentaria a possibilidade de explorar as reservas de gás e petróleo da região, garantindo seu transporte entre portos asiáticos e ocidentais.
Segundo dados do arctic-russia.ru, o tráfego de cargas pela Rota do Mar do Norte foi de 31,5 milhões de toneladas, até 2019. No entanto, estima-se que, até 2035, o volume possa chegar a impressionantes 160 milhões de toneladas.
O Ártico é uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas. Com o aquecimento global, suas águas permanecem cada vez menos tempo congeladas.
No Mar de Barents, ao norte da Noruega e da Rússia, as temperaturas sobem 7 vezes mais rápido do que a média mundial, de acordo com um estudo do Instituto Meteorológico Finlandês.
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Isso significa que o gelo do Ártico derrete cada vez mais rápido, com consequências terríveis para o planeta, mas com chances de abrir novas rotas marinhas, o ano todo.
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Portanto, a Rússia quer explorar o Mar de Barents e aumentar o transporte naval na região, controlando a nova rota. Mas Putin não é o único interessado.
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"O que acontece no Norte é essencial e tem um efeito direto na segurança de outros lugares", disse o contra-almirante Rune Andersen, da Marinha e Guarda Costeira norueguesa, ao jornal Politico.
Diante dessas questões econômicas e políticas, os ativistas ambientais acreditam que as preocupações com a Rota do Mar do Norte desviam o foco de um problema muito mais crucial para a humanidade: o derretimento do gelo do Ártico.