Rússia usa mísseis com peças americanas na Ucrânia
O grupo investigativo Conflict Armament Research, criado em 2011 com o objetivo de documentar as armas utilizadas nos conflitos e rastrear suas cadeias de abastecimento, fez uma importante descoberta, recentemente.
Crédito da foto: Instagram @carinthefield
A descoberta tem relação com os mísseis balísticos norte-coreanos lançados pela Rússia contra a Ucrânia, em janeiro e fevereiro de 2024.
Nos restos destes mísseis, recuperados de ataques a Kharkivbal, foram encontradas 290 peças não fabricadas na Rússia.
Crédito da foto: Pesquisa de Armamento de Conflito
Além disso, ficou constatado que a maioria do material recuperado havia sido fabricado nos últimos três anos.
O foco principal da Conflict Armament Research (CAR) é compreender melhor o comércio ilegal de armas, a fim de mitigar o fluxo de “armas convencionais para utilizadores não autorizados”.
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Crédito da foto: Instagram @carinthefield
De acordo com o relatório da CAR, os restos de mísseis, provavelmente, pertenciam a um KN-23 ou KN-24. Os componentes de fabricação ocidental eram feitos de 50 modelos únicos.
As peças vieram de 26 empresas, sediadas em oito países: China, Alemanha, Japão, Holanda, Singapura, Suíça, Taiwan e Estados Unidos. Destas peças, 75% era de origem estadunidense.
Do total, 16% dos componentes estavam vinculados a empresas da União Europeia, enquanto 9%, a empresas incorporadas na Ásia. Além disso, das peças com códigos de data identificáveis, 75% foram produzidas entre 2021 e 2023.
“Com base nessas datas de produção, a CAR pôde concluir que o míssil recuperado em Kharkiv não poderia ter sido montado antes de março de 2023”, destacou o relatório do grupo.
Isso mostrou que a Coreia do Norte foi capaz de fabricar armas avançadas, integrando a elas componentes modernos, ainda em 2023, apesar das conhecidas sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Outro fator importante informado pela CAR é que, apesar das sanções à Coreia do Norte, o país conseguiu transferir as armas produzidas internamente para a Federação Russa, após a invasão em larga escala da Ucrânia, em 2023.
Como se não bastasse, a descoberta de componentes sancionados em armas norte-coreanas sugere que o país desenvolveu uma “robusta rede de aquisição, capaz de contornar regimes de sanções, que estão em vigor há quase duas décadas”.
“O fato de a Coreia do Norte conseguir isso não é nenhuma surpresa. Acho que ninguém imaginava que o regime de sanções seria capaz de impedir o fluxo de componentes comuns”, disse Martyn Williams, do '38 North', um projeto da Coreia do Norte com sede em Washington, à Reuters.
“No entanto, existem componentes muito mais especializados que não estão a um clique de distância na internet. Isso sim seria preocupante”, acrescentou Williams.
A CAR não nomeou as empresas específicas que teriam fabricado tais componentes, mas informou que enviaria pedidos para rastreá-las.
Esta não é a primeira vez que a CAR faz uma revelação deste tipo. Em novembro de 2022, o grupo descobriu que 82% das peças dos drones fabricados no Irã foram produzidas nos Estados Unidos.
Foram documentados mais de 500 componentes que abrangem mais de 200 modelos exclusivos de quatro drones diferentes. Eles foram identificados como produtos fabricados por empresas na Ásia, Europa e Estados Unidos.
"Mais de 70 fabricantes sediados em 13 países diferentes produziram esses componentes, sendo que 82% deles foram fabricados por empresas sediadas nos Estados Unidos", acrescentou o relatório da CAR.
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