Russo Prêmio Nobel da Paz diz que estamos "à beira de uma catástrofe"
Biólogo de 71 anos, o russo Oleg Orlov passou grande parte da sua vida criticando fortemente o governo de seu país. Do seu longo ativismo nasceu a Memorial, uma rede de direitos humanos que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2022.
Em 2022, Orlov foi condenado a dois anos e dois meses de prisão por um artigo sobre o “novo fascismo russo”. Assim como outros presos políticos, ele nunca pediu perdão e foi libertado da prisão em agosto de 2024, no âmbito de uma troca de prisioneiros.
Em uma recente entrevista concedida à jornalista Irene Soave, do Corriere della Sera, o dissidente e fundador da Memorial, fez algumas declarações alarmantes sobre um possível futuro para o seu país.
Segundo Orlov, desde que Putin chegou ao poder, em 1º de janeiro de 2000, ficou claro para todos que estavam lidando com um ditador.
O vencedor do Prêmio Nobel cita dois momentos fundamentais destes 25 anos de Putin no poder: o discurso de Munique de 2007 (durante a conferência de segurança, em que expressou raiva pelos Estados Unidos e atenção para com a Ucrânia) e a invasão da Crimeia em 2014.
Oleg afirma que neste quarto de século de Putin, os russos “foram aniquilados. (...) As eleições tornaram-se uma farsa, a guerra leva familiares e amigos, a economia entrou em colapso… e o medo permanece". Ele também acrescentou: "Acho que não dá para entender a repressão, mas funciona: ninguém faz mais política se o preço é tão alto”.
Orlov revelou que ainda mantém contato com os prisioneiros russos libertados em agosto, por meio de chats, para coordenar manifestações e marchas. Eles trabalham “em uma série de medidas práticas que deverão ser tomadas caso Putin morra”.
“Uma anistia, uma nova lei eleitoral. É fundamental não ser vago, até porque já estamos à beira de uma catástrofe”, afirou durante a entrevista.
O maior receio do dissidente e biólogo russo é que uma era pós-Putin possa levar a um novo ditador, uma figura, apoiada silenciosamente, que continue a mesma política de poder e de guerra.
De acordo com Orlov, “a oposição pode não ter êxito mesmo que Putin morra". E continuou: "E vocês, queridos camaradas ocidentais, terão de lidar com uma nova guerra”.
Dos anos que passou na prisão, ele disse que saiu muito melhor do que esperava. Questionado por Soave sobre possíveis conselhos à jornalista italiana Cecilia Sala, atualmente detida em regime de solitária na prisão de Evin, em Teerã, Orlov, lamentando muito, lembrou que é importante não se desesperar já que nestes contextos “não ajuda”.