Seu aniversário diz muito sobre seu sucesso potencial
De acordo com um fenômeno chamado Efeito da Idade Relativa, a data de nascimento de uma pessoa pode afetar o sucesso dela, mais tarde, na vida.
Segundo essa teoria, se você nasceu entre janeiro e março, tem mais chances de ter sucesso do que quem nasceu entre outubro e dezembro do mesmo ano.
Isto porque as crianças nascidas nos primeiros meses do ano tem uma vantagem de muitos meses, no que se refere ao seu desenvolvimento escolar e esportivo.
No âmbito da educação formal, isso dá aos professores, treinadores e olheiros a falsa impressão de que estas crianças são mais talentosas, quando, na verdade, estão num momento evolutivo mais avançado.
Imagem: Desola Lanre Ologun/Unsplash
Como as crianças mais velhas conseguem cumprir a expectativa dos adultos mais facilmente, são também mais admiradas e acabam sentindo-se melhores e mais capazes, já que conseguem realizar aquilo que se espera delas.
Segundo o sociólogo canadense Malcolm Gladwell, isso também desencadeia uma bola de neve de privilégios. Como os adultos prestam mais atenção e dão mais oportunidades às crianças mais velhas, a distância entre as outras crianças aumenta.
Assim, explica Gladwell, o que começa como uma desvantagem ligeira e imperceptível torna-se um impedimento significativo para os mais novos, após anos de desfavorecimento no ambiente escolar.
Para compreender o problema, vamos analisar exemplos específicos, em que as crianças são colocadas entre pares nascidos no mesmo ano: educação e esporte.
Gladwell citou um estudo que comprovou que, estatisticamente, estudantes americanos nascidos nos primeiros meses do ano tendem a ter melhor desempenho.
Como são mais maduros, seus professores acreditam que são academicamente mais dotados do que os seus colegas e tendem a indicá-los para programas acadêmicos avançados, com mais facilidade.
Um estudo citado em um artigo do The Guardian também descobriu que a idade relativa afeta a popularidade do estudante.
Como os alunos passam boa parte do seu tempo em ambientes de ensino, seu desenvolvimento escolar afeta significativamente a opinião que têm de si mesmos. De fato, alguns estudos mostraram que crianças mais novas apresentam índices mais baixos de autoestima.
O The Guardian também citou pesquisas que mostram que as crianças mais novas em sala de aula têm menos probabilidade de frequentar a universidade do que os seus pares mais velhos.
Outra área em que o efeito da idade relativa é relevante é o esporte. As práticas competitivas tendem a categorizar as crianças por idade, usando o ano de nascimento.
Essa categorização dá às crianças nascidas nos primeiros meses do ano uma vantagem sobre as nascidas nos últimos. O desenvolvimento físico na infância é rápido e as crianças mais velhas podem ser maiores e mais fortes.
Desta forma, as crianças mais novas têm menos probabilidade de entrar em equipes esportivas ou de vencer competições individuais, contra crianças nascidas no mesmo ano.
Também dá aos treinadores a impressão de que as crianças mais velhas são mais talentosas e merecem mais oportunidades. O incentivo recebido, então, leva a criança a acreditar nisso e a tornar-se melhor.
As mudanças necessárias para evitar os aspectos negativos do efeito da idade relativa são complexas. Alterar os meses de diferença escolar não seria o suficiente.
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Por exemplo, no Brasil, usa-se o ano natural: todos os nascidos no mesmo ano competem por uma vaga no time. Já o futebol britânico tem um sistema setembro-agosto. Em ambos os casos, as crianças mais velhas dentro do corte vencem.
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Assim, para dar ao efeito da idade relativa menos poder sobre o futuro das crianças, precisamos de mudanças mais profundas nos sistemas de seleção esportivo e acadêmico.
Um fator essencial seria dar aos professores e a todos os profissionais envolvidos em educação e esporte juvenil uma formação adequada, com foco em respeitar o tempo de aprendizagem de cada um e dar incentivos e oportunidades de maneira mais homogênea.