Telefonemas interceptados revelam sofrimento de soldados russos
Durante meses, as autoridades ucranianas têm escutado conversas telefônicas privadas de soldados russos.
Estas conversas revelam seus verdadeiros pensamentos sobre a guerra, bem como a disfunção que parece dominar o exército de Vladimir Putin.
Um telefonema divulgado recentemente entre um soldado russo, conhecido apenas como Andrey, e sua mãe foi relatado por Daniel Boffey e Pjotr Sauer, no The Guardian.
A conversa ilustrava o quão ruim a situação ficou para aqueles que lutam no front.
"Ninguém nos alimenta nada, mãe", reclamou Andrey, acrescentando que o abastecimento era muito ruim, "para ser honesto". Ele disse também que estava "tirando água de poças" para usar como água potável.
Em maio de 2022, Putin assinou um decreto que proibia os soldados de usar smartphones ou qualquer dispositivo eletrônico.
A proibição era para evitar que, através destes dispositivos, fossem fornecidos dados de localização confidenciais ou transmitir material de áudio ou vídeo.
Mas a proibição de Putin não impediu que soldados como Andrey levassem telefones pessoais para o campo de batalha e fornecessem informações críticas às Forças Armadas da Ucrânia sobre o estado de ânimo das tropas russas.
“Onde estão os mísseis de que Putin se vangloriava?” Andrey perguntou. “Há um prédio alto bem na nossa frente. Nossos soldados não podem atingi-lo. Precisamos de um míssil de cruzeiro Caliber”, completa.
O desabafo de Andrey oferecem uma visão convincente das mentes dos soldados que questionam a invasão e a falta de suprimentos necessários para lutar com sucesso na guerra.
Outra conversa compartilhada com Boffey e Sauer entre um pai e os amigos de seu filho morto, Andrei, também revelou mais sobre o momento em que vivem dentro da Ucrânia.
Quando questionado pelo enlutado pai de Andrei sobre a condição dos soldados que sobreviveram à luta com as forças ucranianas, um soldado respondeu que não havia reforços nem qualquer comunicação.
“Eles disseram que não tínhamos permissão para recuar. Caso contrário, podemos ser fuzilados”, acrescentou o soldado.
Boffey e Sauer também compartilharam uma terceira conversa interceptada de outro soldado que estava pensando em se render enquanto falava com sua esposa.
“Estou em um saco de dormir, todo m o l h a d o, tossindo, geralmente cansado”, disse o soldado e acrescentou: “todos nós fomos autorizados a ser massacrados”.
Na verdade, milhares de soldados russos ligam para casa, do campo de batalha, explicando a seus entes queridos o que realmente está acontecendo nas planícies nevadas da vasta estepe da Ucrânia.
De fato, muitas tropas russas já questionavam a guerra quando a Rússia ainda controlava a iniciativa.
No final de setembro, o jornal estadunidense noticiou que um grupo de dezenas de soldados em Bucha usou 22 telefones para fazer centenas de ligações.
Esses telefonemas foram feitos ao longo do mês de março, período da fase inicial da guerra. Muitos registraram sua crescente raiva com a guerra e com o presidente Putin.
“Mãe, esta guerra é a decisão mais estúpida que nosso governo já tomou”, disse um soldado chamado Sergey de acordo com o The New York Times.
“Putin é um tolo”, acrescentou outro soldado. “Ele quer tomar Kiev. Mas não temos como fazer isso”, completou.