Tradições natalinas afetadas pelas mudanças climáticas

As alterações climáticas são uma realidade do presente. Calor extremo, inundações, crise de alimentos têm afetado a vida cotidiana de milhões de pessoas. E, no Natal, as consequências destes problemas são visíveis.

A Fox Weather informou que o verão (no hemisfério norte) foi o terceiro mais quente já registrado nos EUA. Oregon e Washington, estados de produção significativa de árvores de Natal, sofreram com inundações e calor. De acordo com a University of British Columbia, o Canadá passou por problemas semelhantes nos últimos dois anos.

As árvores de Natal levam cerca de nove anos para crescer, já que as mudas precisam de condições estáveis. Alguns agricultores que perderam a maior parte de sua produção decidiram não plantar mais, este ano.

O Natal é a época de maior turismo para algumas cidades que afirmam ser a terra do Papai Noel. Do Alasca à Finlândia, estes lugares estão esquentando, de acordo com o The Guardian. O jornal destacou um deles: Mora, uma vila sueca que teve inundações na primavera e incêndios florestais no verão.

"Consultei o Sr. Papai Noel e ele está muito preocupado com a mudança climática", disse Anders Rosén, gerente de comunicações de Mora, ao The Guardian. "Ele tem uma mensagem muito forte para os tomadores de decisão do mundo: 'Por favor, levem as mudanças climáticas a sério e tomem decisões para salvar o planeta'", acrescentou.

De acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos, a cobertura e a profundidade da neve no inverno estão diminuindo na maior parte do Hemisfério Norte. Isso pode arruinar a imagem de um Natal branco.

O Natal envolve, geralmente, reunir famílias e entes queridos em torno de uma mesa. No entanto, as mudanças climáticas afetam a produção da maioria dos ingredientes clássicos e bebidas que costumam ser consumidos nesta data.

O cultivo de amendoins, castanhas e nozes, por exemplo, requer muita irrigação e as secas afetam as plantações rapidamente. No Texas, houve uma queda na produção de frutos secos devido às secas.

Segundo a Reuters, a França teve sua menor colheita de uvas desde 1957, em 2021. A agência de notícias citou um estudo da Proceedings of the National Academy of Sciences que afirma que regiões vinícolas viáveis poderiam encolher em mais da metade se as temperaturas subirem 2 graus Celsius.

Segundo a AP, a Costa do Marfim produz quase metade da oferta mundial de cacau. Gana, país vizinho, também é um importante produtor dessa fruta, principal ingrediente do chocolate. Mas os últimos 12 anos foram os mais secos da África Ocidental, ameaçando a produção e o sustento de milhões de pessoas.

As mudanças climáticas também ameaçam outras tradições natalinas, de países do hemisfério sul que possuem um microclima ou onde é verão.

Os 'pasteles' porto-riquenhos são uma tradição essencial do Natal. Esses doces cozidos a vapor são feitos com banana. Entretanto, o furacão Fiona destruiu 80% das plantações da fruta na ilha, em setembro de 2022.

A Austrália também comemora o Natal no verão, então fazer um banquete altamente calórico não é uma boa ideia. Normalmente, alguns frios, como presunto e p e r u, são acompanhados por frutos do mar como ostras ou camarões. A Espanha também tem uma tradição notória de consumo destes alimentos. Mas a crescente demanda mundial por frutos do mar faz com que um terço dos estoques de peixes esteja superexplorado, de acordo com a ONU.

Há 123 anos, a National Audubon Society faz a contagem de pássaros de Natal. É a pesquisa de ciência cidadã mais antiga do mundo. Na última temporada, 2.621 aves foram contadas e 81.601 observadores participaram. Eles testemunharam os efeitos das mudanças climáticas e da gripe aviária nas populações.

Em alguns países, as mudanças climáticas não afetam tradições específicas, e sim toda a celebração. A BBC conversou com pessoas das Filipinas, Brasil e Porto Rico sobre como as enchentes e tempestades mudam a época.

De acordo com o Índice de Paz Global de 2019, as Filipinas são o país mais vulnerável do mundo a desastres causados pelas mudanças climáticas. Em 2020, o super tufão Goni atingiu o país pouco antes das férias. "As pessoas ficaram presas nos telhados e todas as estradas foram inundadas", disse a ativista Mitzi Jonelle Tan à BBC.

Eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes. Isso significa festividades com inundações, tufões ou até secas em muitos lugares do planeta. O hemisfério norte tem sofrido mais tempestades de inverno com nevascas ou tornados, como o que atingiu o sul dos EUA em 2022.

O Natal não é apenas vítima das alterações climáticas. Também é um grande contribuidor, devido ao alto consumo e desperdício ainda maior. De acordo com o Politico, somente no Reino Unido, o lixo contém papel de embrulho não-reciclável suficiente para dar a volta no equador nove vezes.

Mas o Natal pode ser mais sustentável, com apenas algumas mudanças. Reduzir o consumo é a primeira. Por exemplo, inspirar-se em tradições de dar/receber apenas 1 presente, em vez de um para cada convidado.

A WWF tem uma lista de dicas para contribuir com o meio ambiente, nesta época do ano. Uma delas é escolher presentes com menos embalagem ou até mesmo uma experiência (massagem, spa, passeio, entrada para espetáculo...). Também é importante ser consciente com a quantidade de roupas que compramos.

Mudar a forma como o Natal é comemorado pode parecer difícil ou desnecessário. No entanto, as gerações futuras também merecem ter a chance de celebrar tradições semelhantes. Aproveite as companhias e a alegria da época, não apenas a comida e os presentes!