Tradwives, o novo movimento que escandaliza o feminismo
Cabelo perfeitamente penteado, maquiagem impecável, vestidos floridos e soltos, um aspirador de pó na mão e muito orgulho de servir a seu marido. Assim era o modelo de mulher, há décadas atrás.
Acontece que o perfil está de volta. Trata-se do movimento Tradwife, que se espalha em várias partes do mundo. Estee Williams (na imagem) é talvez o maior expoente dele, nos Estados Unidos, onde já era conhecido.
Foto: Captura de tela de um vídeo de Estee Williams
O termo Tradwife é uma abreviatura de esposa tradicional. Este conceito refere-se a um protótipo de mulher: a dona de casa dos anos 50 e 60 nos Estados Unidos, conforme detalha o meio de comunicação JP+. Enquanto a esposa cuida da casa, o marido sai para trabalhar.
Em seus vídeos no Tik Tok, cujo perfil é seguido por quase 200 mil pessoas, Estee Williams mostra seu dia a dia: a rotina de beleza, os afazeres domésticos, a ida às compras e como ela se prepara para receber o marido.
Foto: Captura de tela da conta Tik Tok de Estee Williams
Na Espanha esta tendência tem se refletido principalmente nos vídeos virais de Rocío Bueno, conhecido como RoRo, no Tik Tok.
“Hoje Pablo [seu namorado] vai jogar futebol à tarde e sei que, depois, ele sempre fica com muita fome, então vou preparar um lanche para ele levar”, diz ela em um de seus vídeos.
Foto: Captura de tela de um vídeo Tik Tok de RoRo
A maior parte do conteúdo de seu perfil, que já reúne mais de 5,7 milhões de seguidores, tem a mesma ideia: “Pablo adora”, “Pablo gosta”, “Pablo gostou”.
Esta espanhola de 22 anos também aparece preparando refeições para os amigos de seu marido ou costurando um vestido para sair para jantar com ele.
Foto: Captura de tela da conta Tik Tok de RoRo
No entanto, em entrevista ao programa de TV 'Espejo Público', RoRo disse que tem uma carreira profissional própria e que o que faz é porque gosta de cozinhar: “Não vivo para ele, não sou uma mulher submissa”.
Foto: captura de tela da entrevista no Espejo Público
Para a frente feminista, este movimento é “misógino e supremacista”, além de comprometer os ganhos obtidos durante anos de luta pelos direitos das mulheres.
Num artigo publicado em 2020 na revista Frontiers, a socióloga Nancy Love descreve o fenômeno da seguinte forma: “Tradwives são um grupo de mães blogueiras nacionalistas brancas que promovem as virtudes de ficar em casa, submeter-se à liderança masculina e ter muitos filhos. Essas mulheres exaltam uma fantasia escapista dos anos 1950 de castidade, casamento, maternidade."
Diante das críticas, RoRo disse no podcast do jornalista Juan Ramón Lucas: “Se por feminista entendemos direitos iguais entre homens e mulheres (...) apoio a liberdade das mulheres de fazer o que quiserem, mas elas (feministas) não estão me apoiando para fazer o que quero.”
A americana Estee Williams, por sua vez, afirma, em um de seus vídeos: “Ser dona de casa e ter valores tradicionais não nos torna pessoas más. Hoje, as mulheres deveriam ter a opção de serem donas de casa ou não, sem serem julgadas e nem rejeitadas.”
Dois especialistas da Universidade Massey acompanharam, nas redes sociais, 36 mulheres que se consideravam tradwives, durante 10 meses.
A conclusão a que chegaram é que estas “mulheres utilizam a radicalização ideológica, a sua influência nas redes sociais e uma compreensão sofisticada das plataformas para ‘comercializar’ e difundir a ideologia de direita”, lê-se no estudo publicado no site da Global Network of Extremism and Technology.
De fato, muitas destas mulheres não escondem a sua ideologia política. Numa das suas últimas publicações, Estee Williams apoiou abertamente Donald Trump na sua corrida à Casa Branca. “Orgulho de ser americana”, escreveu em seu perfil, citando o republicano.
“Usando a sua posição de influência para perpetuar perspetivas controversas sobre a submissão da esposa, o direito ao aborto, o controle da natalidade, o racismo e a comunidade LGBTQIAP+, as tradwives contribuem ativamente para mudanças sociais em direção a uma vida mais conservadora e tradicional”, concluem os especialistas.
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