Presidente aliado de Putin defendeu Zelensky?
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, é um aliado de longa data de Vladimir Putin, razão pela qual suas recentes declarações, supostamente em defesa do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, chamaram a atenção.
Um vídeo de Lukashenko falando sobre Zelensky começou a circular nas redes sociais, no dia 7 de outubro, e acabou sendo postado no X, por Anton Gerashchenko, conselheiro do ex-ministro de Assuntos Internos da Ucrânia.
“Nós, os russos e os jornalistas dizemos que Zelensky é isto e aquilo, um mendigo, agindo de forma desrespeitosa e desonesta. E devo dizer que Zelensky está a agir de forma absolutamente adequada”, diz Lukashenko.
Entretanto, tratava-se apenas de uma parte do vídeo original do discurso do presidente da Belarus, em uma entrevista coletiva. Posteriormente, a versão completa foi divulgada e revelou mais sobre seus pensamentos relacionados à guerra na Ucrânia.
De acordo com a Newsweek, Lukashenko sugeriu que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode haver sido planejada já em 2014, mesmo ano em que Moscou anexou a Crimeia e começou a ajudar os rebeldes nos oblasts o r i e n t a i s da Ucrânia.
Lukashenko explicou que a Ucrânia já estava a preparar a região de Bakhmut para a defesa contra uma invasão russa, bem como outras partes da região de Donbass, tudo a pedido dos Estados Unidos.
Lukashenko acusou os Estados Unidos de se oferecerem para financiar a guerra, se os ucranianos lutassem até ao último homem. Eles receberiam dinheiro, armas e tudo que precisassem.
Lukashenko continuou a acusar os EUA e o Ocidente de não cumprirem a sua parte no acordo que fizeram com Zelensky, já que estariam a enviar à Ucrânia apenas equipamento mais antigo.
“Ele está a lutar até o último ucraniano. Entretanto, seus aliados não cumprem o que prometeram a tempo”, disse Lukashenko, segundo uma tradução da Agência Telegráfica Bielorrussa (BelTA), estatal.
“O Ocidente (os europeus em particular) não honra os compromissos. É por isso que Volodymyr [Zelensky] lhes diz: 'Por que vocês não tem cumprido o que prometeram?' Ele faz exigências, a coisa certa”, acrescentou Lukashenko.
Os comentários de Lukashenko foram, certamente, mais uma tentativa de desacreditar o Ocidente do que um elogio ao líder ucraniano pela forma como conduz a guerra contra a invasão russa.
O tenente-coronel Daniel Davis, membro do centro estadunidense de pesquisa Defense Priorities, falou sobre o assunto à Newsweek: “Minha interpretação de toda aquela declaração de Lukashenko é que ele está, de certa forma, a repetir uma ideia de Moscou”.
“Basicamente, ele garante que a Ucrânia e o Ocidente sempre tiveram um acordo secreto para lutar e não para fazer a paz”, continuou o tenente-coronel Davis.
Davis explicou que Lukashenko quis dizer que o presidente ucraniano estava a desempenhar corretamente o papel que lhe foi atribuído pelos Estados Unidos e pelo Ocidente.
“Acho que Lukashenko tenta fazer com que Zelensky, a América e o Ocidente sejam mal vistos, ao insinuar que desejávamos conflito o tempo todo e que, agora, Zelensky está furioso porque sente que o Ocidente o deixou na mão”, completou o tenente.
“Na minha opinião, esta é apenas mais uma versão da campanha de desinformação que a Rússia e a Belarus promovem rotineiramente”, concluiu o tenente-coronel. Ainda assim, as declarações de Lukashenko forneceram uma informação valiosa: a de que Rússia tinha um plano de invasão desde 2014.