A grande seca que assola a Espanha atualmente
A Espanha passa por um dos piores episódios de seca, em muitos anos. Quase não nevou durante o inverno e a primavera não trouxe as chuvas habituais. Os reservatórios e pântanos estão secos. Colheitas serão perdidas e há lugares que podem sofrer cortes no abastecimento de água à população.
A Catalunha é uma das regiões mais afetadas. Lá, é possível ver imagens como esta do rio Sau, completamente seco. As restrições de água já começaram na agricultura e na indústria, mas podem estender-se ao consumo humano e afetar a importantíssima cidade de Barcelona.
O diretor da Agência Catalã de Água, Samuel Reyes, disse à BBC: "Este é o pior período que tivemos em 100 anos".
No ano de 2022, pouquíssima chuva caiu e, em 2023, ainda menos. Segundo a Agência Meteorológica Espanhola, em toda a Espanha choveu 24% menos que a média habitual.
Segundo a Agência Catalã de Águas, as reservas de água naquele território estão em 25%. Um limite abaixo do qual apenas más notícias podem ser esperadas.
Na Andaluzia, região do sul da Espanha, a seca também é mais do que preocupante. Assim são os riachos que deveriam ter dado água à Lagoa Fuente de Piedra, onde todos os anos os flamingos aparecem. Em 2023, dos 8.000 que costumam parar lá, apenas uma centena foi vista em poças, tentando sobreviver às altas temperaturas.
Mas, além do efeito no ecossistema, deve-se levar em conta o impacto econômico: segundo o jornal El País, após consultar organizações agrícolas, 60% dos cultivos de sequeiro na Espanha já foram perdidos. Este é um drama para milhares de camponeses, mas também para a sociedade como um todo, já que fará subir o preço dos cereais e outros produtos.
Em Granada (na imagem), muitos pedem à Virgen de las Angustias que traga água do céu. Trata-se de uma velha tradição católica deste país castigado desde tempos imemoriais por secas periódicas, sobretudo no litoral mediterrâneo e no sul.
Na cidade andaluza Jerez de la Frontera, procissões para pedir chuva reúne centenas de fiéis.
A seca dramática afeta também o norte da península, como pode-se observar na foto. Em Corvera de Toranzo, em Cantábria, o rio Pas apresenta este aspecto, em plena primavera. Foi preciso, inclusive, tomar medidas drásticas para que os peixes desse rio não morressem.
Como já foi feito em outros rios e reservatórios, os peixes foram recolhidos com baldes para evitar que morressem ao sol, na falta de água.
Os animais foram transferidos para corpos d'água próximos, onde poderiam sobreviver. Muitos outros espécimes pereceram.
E esta é mais uma imagem do norte da Espanha. A albufeira de Yesa, em Navarra, de grande capacidade e importância, encontra-se com cerca de 50% da sua capacidade.
Soma-se a isso o calor extremo que pode afetar até mesmo o turismo, que não costuma viajar para sofrer temperaturas devastadoras. Em abril, em Córdoba (na imagem), foi batido um recorde de temperatura para a época: 38,8º Celsius.
O custo da seca em termos de Produto Interno Bruto da Espanha é, segundo analistas como Mariano Guindal do La Vanguardia, cerca de 60 bilhões de euros.
O Parque Doñana, reserva paradisíaca da biosfera que cobre áreas das províncias andaluzas de Huelva, Cádiz e Sevilha -na imagem-) tem sido alvo de polêmica política. O governo regional da Andaluzia pretende legalizar poços para cultivos irrigados, que extrairiam água do parque ou de seus arredores. Isso disparou alarmes até da União Europeia.
Certos tipos de agricultura, em tempos em que a água é cada vez mais escassa, são muito caros do ponto de vista ecológico. Mas, ao mesmo tempo, que alternativa dar a quem vive desta atividade? Na foto, estufas de morango em Huelva, perto de Doñana.
É claro que, salvo surpresa, não choverá mais abundantemente na Espanha. O verão está prestes a chegar e o país terá que esperar até setembro para ver se a situação melhora.