A grave crise humanitária na maior reserva indígena do Brasil
Malária, desnutrição, desassistência médica, contaminação das águas, falta de segurança. Tudo isto é o que o povo indígena Yanomami tem enfrentado nos últimos anos, no Brasil, mas que, só agora, ganha a repercussão devida.
A situação é tão grave que o Ministério da Saúde, recém formado pelo governo Lula, decretou estado de emergência nesta que é a maior reserva indígena do país, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. Lá, vivem mais de 28 mil yanomamis.
Entre os anos 2018 a 2021, a atividade de garimpo cresceu de forma assustadora, neste território indígena. Passou de 1.200 para 3.272 hectares, segundo relatório do povo yanomami, citado pelo site Uol.
Como consequência, as águas foram contaminadas com mercúrio, postos de saúde das áreas invadidas foram queimados por garimpeiros ou fechados, devido à falta de segurança. Assim, muitos yanomamis morreram ou contraíram doenças evitáveis, devido à dificuldade de encontrar atendimento médico.
De acordo com o recém-criado Ministério dos Povos Indígenas, comandado pela líder indígena, Sônia Guajajara (no centro da foto), 570 crianças yanomamis morreram, nos últimos quatro anos, embora muitos outros casos podem estar subnotificados.
O Ministério de Saúde, por sua vez, relata que, após fazer um breve diagnóstico da situação, "casos de desnutrição e insegurança alimentar, principalmente entre as mais de 5 mil crianças da região, foram registrados".
Desta maneira, o governo já enviou uma força-tarefa de urgência ao território Yanomami, para levar alimentos e profissionais de saúde que possam atender à população.
Além de casos de desnutrição e de síndromes respiratórias, de acordo com um levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo, foram registrados, em 2022, mais de 11 mil casos de malária entre os yanomamis.
Pedidos de ajuda e denúncias de que havia negligência do governo Bolsonaro com relação aos yanomamis e a favor dos garimpeiros, foram inúmeras, durante o mandato do ex-presidente.
A ONU alertou para esta crise à "várias autoridades brasileiras, em diferentes momentos", confirma um comunicado do seu Alto Comissariado para Direitos Humanos. Michelle Bachelet, que liderava a entidade, na época, chegou, inclusive, a reuniu-se, em 2021, com a liderança yanomami.
Entretanto, o sofrimento dos yanomamis continuava, já que não eram ouvidos. O site The Intercept Brasil teve acesso a documentos enviados pela Hutukara Associação Yanomami à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), ao Ministério Público e ao Exército, ainda em 2021.
Neles, alertava-se sobre o perigo dos conflitos entre garimpeiros e yanomamis, pois poderiam “atingir a proporção de genocídio”. Ao todo, segundo o The Intercept Brasil, foram 21 pedidos de ajuda feitos pela Hutukara Associação Yanomami. E nada mudou.
No último dia 21 de janeiro, o presidente Luis Inácio Lula da Silva e vários de seus ministros viajaram à Roraima, para conhecer de perto a situação da reserva.
(Na foto, indígenas celebram a tomada de posse de Sônia Guajajara como ministra dos Povos Indígenas)
“Se alguém me contasse que o povo yanomami estava sendo tratado de maneira tão desumana, eu não acreditaria”, disse Lula em seu pronunciamento.
Além das medidas imediatas de ajuda aos yanomamis, o mandatário também anunciou: “É importante as pessoas saberem que esse país mudou de governo, que vai agir com rigor no combate ao garimpo”.
Já o ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu que a Polícia Federal investigue possíveis crimes de genocídio e omissão de socorro aos yanomamis.
No documento enviado ao comando da Polícia Federal, o ministro Flávio Dino, citou “os reiterados pedidos de ajuda contra a violência decorrente do garimpo ilegal, bem como a ausência de efetivas ações e serviços de saúde à disposição dos Yanomami”.