A tragédia que matou 215 pessoas em um camping espanhol, em 1978
Há 45 anos, um trágico acidente destruiu um lugar idílico de férias na província espanhola de Tarragona. Em 11 de julho de 1978, um caminhão-tanque de gás líquido explodiu próximo ao acampamento 'Los Alfaques', deixando centenas de mortos. Mas como ocorreu essa tragédia?
O parque de campismo "Los Alfaques", na Costa Dourada da Espanha, era extremamente popular entre os turistas, pois ficava em frente ao mar e tinha fácil acesso pela estrada nacional 340.
Foto: Pixabay/ plataformah2oil
O local ficava numa área de apenas cerca de 50 metros de largura, entre a praia e a estrada, o que viria a ser desastroso.
Em 11 de julho de 1978, um caminhão-tanque utilizou a rodovia nacional para transportar sua carga. Em vez das 19 toneladas de gás propileno, ele tinha 23 toneladas a bordo, 4 a mais do que o permitido.
O caminhão-tanque de gás líquido estava a caminho de Puertollano e ainda tinha centenas de quilômetros pela frente. Mas o acidente aconteceu muito antes disso, perto da cidade de Sant Carles de la Ràpita.
Era uma tarde de verão, o acampamento estava lotado, com 700 visitantes. Na estrada, o tanque do caminhão vazava, devido a falhas de segurança.
O gás propileno vazou em grandes quantidades e incendiou-se nas chamas dos fogões a gás que estavam sendo usados pelos turistas naquele momento. Em pouco tempo, o acampamento estava em chamas. Conforme relatado pela revista Stern, o ar chegou a uma temperatura de 1.500ºC, descrito por uma testemunha como um "i n f e r n o flamejante".
Foto: foto de amostra, Unsplash / Will Truettner
Para piorar, o calor da queima do gás também causou a explosão dos botijões de gás dos trailers. A extensão da destruição foi inacreditável: enquanto algumas pessoas foram arremessadas ao mar, pela pressão das explosões, outras eram queimadas vivas.
Segundo a Deutschlandfunk, o jornalista e testemunha José Angel Odena relatou que algumas pessoas morreram no mar, devido ao calor extremo, e que as mãos de uma das vítimas queimaram em uma pedra, dentro do mar.
Os feridos, ainda vivos, caminhavam pela praça como zumbis em estado de choque. Uma testemunha relatou que parecia que tinha sido transportada para um filme de terror.
A tragédia teve dimensões impressionantes: 215 pessoas morreram, mais de 400 ficaram feridas, sendo 64 com ferimentos graves. De acordo com a revista Stern, os moradores foram os primeiros a chegar ao local, trazendo curativos e levando os feridos para hospitais.
Como os pronto-socorros ficaram sobrecarregados, outros países enviaram médicos e remédios para a província de Tarragona. O apoio veio da Cruz Vermelha da Alemanha, da Força Aérea do Bundeswehr e do clube automobilístico alemão ADAC, porque muitos alemães estavam entre as vítimas.
Alguns corpos estavam tão gravemente queimados que foram necessários vários dias para identificá-los. A nacionalidade das vítimas fatais: 80 franceses, 45 espanhóis, 38 belgas, 33 alemães, nove holandeses e cinco suíços.
Em investigações iniciadas posteriormente, verificou-se que a sobrecarga do caminhão teve um papel decisivo no acidente.
O tanque geralmente não deve ser totalmente cheio para que o gás tenha espaço para se expandir, especialmente nas temperaturas quentes do verão. No caso de Los Alfaques, isso não foi respeitado.
À medida que o gás se expandiu, o tanque não conseguiu suportar sua força e começou a vazar. Além disso, o tanque era feito de um aço sensível à fratura frágil, o que significa que não era flexível, podendo sofrer uma ruptura repentina.
No julgamento, que ocorreu quatro anos após o acidente, dois réus foram condenados: o diretor da refinaria da Enpetrol e o diretor da fabricante do tanque, Cisternas Reunidas. Ambos receberam penas de prisão em liberdade condicional de um ano cada.
Foto: Pixabay/falco
As famílias das vítimas e dos feridos sobreviventes já haviam recebido um acordo extrajudicial antes do julgamento, cujo valor ascendia a 1,1 bilhão de pesetas. Isso correspondia a cerca de 6,6 milhões de euros, no valor atual.
O trágico acidente teve consequências para os parâmetros de segurança internacional. Na Espanha, segundo a Deutschlandfunk, os caminhões com materiais perigosos não foram autorizadas a circularem nas ruas, por algum tempo, e, na Alemanha, foram introduzidos cursos de treinamento de motoristas.
Aqueles que sobreviveram ao que a revista Focus chamou de "uma das grandes catástrofes europeias do pós-guerra" nunca poderão esquecer as imagens daquela época, e alguns deles também estão fisicamente marcados, para sempre.
Os operadores do camping "Los Alfaques" fecharam as portas durante um ano, antes de reabri-lo. Hoje, o lugar é chamado de 'Camping Alfacs'. Além de incluir uma parede de memórias, está totalmente renovado e não lembra nada o acidente de 1978.
Foto: Instagram, @campingalfacs