As misteriosas mortes de oligarcas russos
As circunstâncias da morte de vários executivos russos de alto nível têm algo de misterioso. Envolvem vínculos com o Kremlim, depressão, problemas financeiros e disputas comerciais.
Uma das mais recentes (conhecida) é a de Ivan Pechorin, gerente geral da Corporação de Desenvolvimento do Extremo Oriente e Ártico da Rússia (ERDC). Trata-se de uma agência de cooperação público-privada, encarregada de fornecer às empresas, que operam em áreas remotas do território russo, as infra-estruturas de transporte, engenharia e energia que necessitam. Portanto, é fortemente ligada ao Kremlin e a Putin.
Ivan Pechorin morreu no dia 10 de setembro, ao cair de uma embarcação que entrou no Mar do Japão, perto de Vladivostok. Conforme relatado pelo Daily Mail, a busca por seu corpo levou mais de um dia. A última vez que ele foi visto em público foi no Fórum Econômico do Leste, em Vladivostok, uma cúpula presidida por Putin.
"A morte de Ivan é uma perda irreparável para amigos e colegas, uma grande perda para a empresa", diz o comunicado da ERDC. Ivan Pechorin era, de fato, considerado o homem-chave do Kremlin no Ártico.
Doze dias antes da morte de Ivan Pechorin, houve a de Ravil Maganov Ravil Maganov, de 67 anos. Ele era o presidente do conselho de administração da Lukoil, a segunda maior empresa petrolífera russa e uma das mais importantes do mundo.
A polícia informou à Tass, agência de notícias russa, que Maganov estava internado no Hospital Clínico Central de Moscou devido a um ataque cardíaco e que teria tirado a própria vida, atirando-se pela janela do sexto andar.
Segundo o site russo Mash, além do problema cardíaco, Ravil também havia sido diagnosticado com depressão.
No entanto, o comunicado de imprensa divulgado pela petrolífera Lukoil não fez referência à causa de sua morte, apenas informou que Ravil Maganov faleceu após uma doença grave.
É curioso notar que, em março de 2022, Lukoil foi o primeiro grupo empresarial russo a declarar-se publicamente contra a guerra na Ucrânia. Em 20 de abril, seu presidente e principal acionista, Vagit Alekperov (foto), renunciou ao cargo, após ser colocado na lista de personalidades russas sancionadas pelo Reino Unido.
A verdade é que o número de oligarcas russos que morreram de forma suspeita cresce a cada mês. No início de julho, o Daily Mail noticiou o falecimento do empresário Yuriy Voronov, morto a tiros, em sua casa, perto de São Petersburgo. Voronov era ligado à Gazprom, uma importante empresa estatal russa de energia. Segundo o mesmo jornal britânico, investigadores atribuíram sua morte a uma disputa entre parceiros de negócio.
Já o empresário Subbotin, ligado a Lukoil, sofreu um ataque cardíaco, após passar por uma sessão terapêutica com um xamã, junto com sua esposa. Aparentemente, o tratamento era feito com frequencia pelo casal, de acordo com a agência russa Tass.
A sessão de cura foi feita com veneno de sapo, introduzido no corpo através de cortes e feridas, feitos especialmente para isso. O objetivo? Fortalecer o sistema imunológico.
Foto de Elena Mozhvilo no Unsplash
Segundo o jornal Moscow Times, Alexander Subbotin foi o oitavo oligarca russo encontrado sem vida sob circunstâncias suspeitas, desde o início de 2022. A notícia foi posteriormente confirmada pela Tass e outros meios de comunicação internacionais.
Foto de Pasha Chusovitin no Unsplash
A família Subbotin era intimamente ligada à gigante petrolífera Lukoil. Além de Alexander, seu irmão, Valery (ma foto, à esquerda), também ocupou cargos importantes na empresa, antes de renunciar ao cargo de vice-presidente de compra e venda e do conselho de administração da empresa.
Segundo a CNN, cinco de oito empresários russos mortos, desde janeiro de 2022, estão ligados à gigante russa de energia Gazprom.
Pouco antes da morte de Alexander Subbotin, faleceu Andrei Krukovsky, de 37 anos, em 5 de maio de 2022. Ele era o gerente de um resort de esqui, de propriedade da Gazprom, em Krasnaya Polyana, um destino popular entre os milionários russos. Na foto, podemos ver Dmitry Medvedev (à direita) com Vladimir Putin, durante as férias, neste mesmo resort, no sul da Rússia.
Krukovsky teria morrido depois de cair de um penhasco, em Sochi. A agência de notícias russa, Tass, twittou: "O diretor geral do resort Krasnaya Polyana, Andrei Krukovsky, morreu em uma queda a caminho da Fortaleza de Achipsin. Além dele, faleceram outros dois oligarcas russos, Vladislav Avayev e Sergei Protosenya. Suas mortes aconteceram com apenas cinco dias de intervalo, uma em Moscou, outra na costa espanhola, em Lloret del Mar."
Em 21 de abril, o corpo de Vladislav Avayev, ex-funcionário do Kremlin e vice-presidente do Gazprombank, foi encontrado sem vida em seu luxuoso apartamento, em Moscou. Além do corpo e da arma, estavam Yelena, sua esposa, e Maria, a filha de 13 anos do casal, também sem vida.
Em Lloret del Mar, na Espanha, a polícia encontrou um cenário semelhante. O corpo de Sergej Protosenja estava pendurado em uma árvore. Sua esposa e sua filha, de 18 anos, também foram encontradas mortas no resort espanhol, massacradas com um machado.
Fedor, o filho primogênito do ex-presidente da Novatek, não parece convencido com a hipótese da polícia catalã de que o bilionário russo tenha tirado a própria vida, depois de matar sua esposa e filha. Em entrevista ao Daily Mail, o jovem, de 22 anos, disse: "Meu pai não era um assassino, ele amava minha mãe e minha irmã Maria. Não sei o que aconteceu, mas sei que meu pai não as machucou."
Em 28 de fevereiro de 2022, Mikhail Watford, um bilionário russo, de ascendência ucraniana, foi encontrado morto em circunstâncias suspeitas, aos 66 anos. A morte ocorreu na Inglaterra, na garagem de sua casa, no interior de Surrey. A polícia britânica descartou a hipótese de um assassinato, e a revista The Sun informou que um amigo da família disse que o estado mental de Watford havia sido seriamente abalado pela guerra na Ucrânia.
Três dias antes da morte de Mikhail Watford, outro alto executivo da Gazprom, Alexander Tyulakov, morreu misteriosamente. De acordo com os investigadores, publicado pelo jornal russo Novaya Gazeta, o magnata teria cometido s u i c í d i o, na garagem de sua casa, em Leninsky, perto de Leningrado.
Pouco mais de um mês antes, outro membro da elite empresarial russa também foi encontrado sem vida. Leonid Shulman era chefe da divisão de transportes da Gazprom. A agência de notícias estatal russa, Ria Novosti, também informou que havia um bilhete no local, o que teria levado os investigadores a revisar a hipótese de s u i c í d i o.
O empresário e proprietário da MedStom, empresa de suprimentos médicos, morreu perto de Nizhny Novgorod, em 23 de março. Segundo relatos, foram encontradas lacerações em seu corpo, assim como nos corpos de sua esposa e seus dois filhos, de 4 e 10 anos de idade. De acordo com vários jornais, a MedStorm está à beira da falência, devido às sanções ocidentais decorrentes da guerra na Ucrânia.
Rússia, Espanha e Reino Unido foram os palcos dessas mortes, cujas circunstâncias são, no mínimo, suspeitas. Em alguns casos, as hipóteses levantadas pelos investigadores não convencem os familiares próximos das vítimas. Parece que além da trágica guerra na Ucrânia, a Rússia também enfrenta uma crise interna entre suas elites empresariais.