Cérebros inteligentes demoram mais para resolver problemas, diz estudo
Será que as pessoas muito inteligentes pensam mais rápido do que o resto, na hora de tentar resolver problemas complicados?
Os pesquisadores do Instituto de Saúde de Berlim, Charité, em parceria com outros da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, Espanha, realizaram um estudo para obter a resposta.
“Queremos compreender como funcionam os processos de tomada de decisão do cérebro e por que as pessoas tomam decisões diferentes”, disse a professora Petra Ritter, chefe da Seção de Simulação Cerebral do Instituto de Saúde de Berlim, o Charité.
Apesar da antiga crença de que as pessoas inteligentes pensam mais rápido, o estudo em questão, publicado na revista Nature Communications, revelou que isso não é inteiramente verdadeiro.
Os pesquisadores desenvolveram um algoritmo de aprendizagem especializado para poderem construir modelos de redes cerebrais personalizadas.
Ao todos, participaram 650 pessoas no Projeto Conectoma Humano, patrocinado por dezesseis componentes do National Institutes of Health (EUA), dentro do plano de pesquisa em neurociência.
Ao usar estes modelos de redes cerebrais, os pesquisadores estudaram como as pessoas pensavam ao resolver diferentes problemas.
Surpreendentemente, as pessoas classificadas com uma inteligência superior demoraram mais tempo para resolver problemas difíceis do que as pessoas que não eram tão inteligentes.
“Com simulações, identificamos uma ligação mecanicista entre conectividade funcional, inteligência, velocidade de processamento e sincronia cerebral", explicaram os autores do estudo, em seu artigo.
A sincronia é muito importante, porque significa, essencialmente, que o cérebro humano forma redes funcionais enquanto pensa.
Isso explica por que as pessoas que são mais inteligentes demoram mais para resolver problemas difíceis, já que armazenam dados enquanto exploram outras opções.
“Em tarefas mais desafiadoras, é preciso armazenar o passo anterior na memória, enquanto explora outros caminhos de solução. Somente depois, poderá integrar as partes”, disse o autor principal do estudo, Michael Schriner, em um comunicado à imprensa.
“Este processo de coleta de evidências, às vezes, leva mais tempo, mas também pode chegar a melhores resultados”, continuou Schriner.
O autor acrescentou que o modelo de redes cerebrais pode mostrar todo o processo de tomada de decisão, até os grupos neurais granulares.
Os cérebros mais lentos revelaram-se mais sincronizados. Isso permitiu que seus lobos frontais fizessem uma pausa, abrindo a possibilidade de checar outras soluções para o problema.
Petra Ritter observou que quando a sincronização no cérebro é reduzida, os seus circuitos de tomada de decisão chegam a conclusões mais rapidamente.
Já os indivíduos com maior sincronização entre as regiões cerebrais puderam integrar melhor as evidências que haviam guardado em suas memórias.
As pessoas com inteligência mais baixa tiram conclusões precipitadas, pois não consideram todos os fatores envolvidos. Já as pessoas mais inteligentes dedicam o tempo necessário para considerar tudo o que sabem sobre o problema, antes de decidir sobre uma resposta ou outra.
“Intuitivamente, isto não é tão surpreendente. Se tivermos mais tempo e considerarmos mais evidências, investiremos mais na resolução do problema e encontraremos soluções melhores”, explicou Ritter.