Como o açúcar afeta nosso cérebro?
Bolo de chocolate, torta de limão, sorvete e cereais adocidados. O açúcar está por todas as partes e é ingerido por milhões de pessoas, todos os dias. Mas, infelizmente, seu excesso faz mal à saúde.
O açúcar é um tipo de carboidrato que pode vir de diferentes fontes, como a cana-de-açúcar (sacarose), as frutas e o mel (frutose), a cevada (maltose) e o leite (lactose). Sua característica mais conhecida é o sabor adocicado.
Quando ingerimos um alimento rico em açúcar, temos uma sensação de bem-estar. Isso acontece porque o ingrediente ativa a liberação de dopamina no organismo, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer.
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O sabor doce característico do açúcar aciona receptores na língua, que envia sinais ao córtex frontal, a parte do cérebro responsável pela detecção de sabores. Então, é ativada uma rede de sinais elétricos que estimulam o sistema de recompensas do cérebro, onde é liberada a dopamina. Neste momento, sentimos prazer!
A cientista nutricional, Nicole Avena, explica à Chef AJ: "Nosso cérebro está treinado para fazer coisas que garantam nossa sobrevivência. Por isso, quando comemos, nosso sistema de recompensa é ativado, liberando a dopamina, que encoraja-nos a repetir tais ações".
Quanto mais dopamina for liberada, maiores as chances de que repitamos esse comportamento.
Quando comemos um prato saudável de comida, a dopamina também é liberada, mas em doses mais baixas. Além disso, ingerir o mesmo alimento por um longo período de tempo faz com que a liberação de dopamina diminua.
Por outro lado, se somos expostos a um novo sabor, os níveis de dopamina voltam a subir. Este equilíbrio acontece para garantir que comamos alimentos variados, aumentando as chances de conseguir todos nutrientes necessários.
O mesmo não acontece com o açúcar. Em um experimento, a neurocientista Nicole Avena, que pesquisa o tema há mais de 15 anos, observou que a ingestão de açúcar libera grandes quantidades de dopamina, e que a exposição repetida ao açúcar não diminui sua liberação.
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Avena revelou ao canal Mind Pump: "Quando medimos as respostas do cérebro enquanto um indivíduo bebía milkshake de chocolate, o resultado era muito parecido ao que observamos quando há comsumo de álcool ou nicotina".
De acordo com a publicação da National Geographic, um estudo revelou que o açúcar aumenta os níveis de dopamina em 135 ou 140%, um número preocupante, já que se assemelha aos níveis da ingestão de álcool.
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O neurologista e neurocirurgião, Jorge Pagura, disse à revista Super Interessante: “A sensação agradável provocada pela comida açucarada estimula o centro de recompensa do cérebro, em um processo parecido com o do vício e da relação s e x u a l”.
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Tudo isso para dizer que, sim, o açúcar pode ser altamente viciante. O problema surge quando a ingestão de açúcar é exagerado, acionando o sistema de recompensa de maneira repetitiva. Quando isso ocorre, o indivíduo começa a sentir sintomas indesejados, como perda de controle, ansiedade e aumento da tolerância para o açúcar.
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Além disso, uma pessoa viciada em açúcar quer repetir a dose inúmeras vezes, o que acarreta no consumo de uma quantidade calórica muito acima da que ela necessita.
As consequências geradas pelo ato de "comer demais" são graves. Um dos maiores problemas sanitários da modernidade são justamente o excesso de peso e a obesidade.
No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), atualmente, mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso, o que representa 96 milhões de pessoas.
Já a obesidade atinge 25,9% da população, chegando a 41,2 milhões de pessoas, segundo a Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Em 2020, 15,9% das crianças menores de 5 anos apresentavam excesso de peso e, dessas, 7,4% eram obesas, segundo Índice de Massa Corporal (IMC) para idade.
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Dito isso, devemos estar atentos a um detalhe importante: o açúcar não está presente somente nos docinhos de aniversários infantis. O grande vilão da obesidade são os alimentos e bebidas ultraprocessados, que usam o açúcar e a gordura como seus principais ingredientes.
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A revista National Geographic citou a fala da investigadora Alexandra DiFeliceantonio,
diretora do Centro de Investigação de Comportamentos de Saúde, na Virginia, EUA: “Durante muito tempo comemos versões caseiras de bolos e pizzas. Só com o aumento da produção dos alimentos ultraprocessados, na década de 1980, é que houve um aumento de doenças e mortalidade relacionadas à alimentação”.
Refrigerantes, iogurtes açucarados, alimentos congelados e fast food são produtos cada vez mais baratos, além de receberem um investimento milionário em publicidade.
Desse jeito, fica difícil resistir a um belo donut recheado ou a um iogurte de frutas vermelhas. Baratos e atraentes, são consumidos por cada vez mais pessoas.
Evite alimentos ultraprocessados ou doces que levem açúcar em excesso, mas comer o bolo da vovó aos finais de semana não está proibido. O segredo é manter uma alimentação equilibrada e natural!
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