Correspondentes de guerra que morreram ao documentar a história
A guerra na Ucrânia trouxe à tona a importância do papel dos correspondentes e também o quão arriscado é seu trabalho.
A morte de Brent Renaud, jornalista norte-americano, baleado em 13 de março de 2022, em Irpin, e as de Oleksandra Kurshynova e Pierre Zakrzewski, em 15 de março, em Horenka, foram trágicas e inquietantes.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, até 5 de dezembro de 2022, 64 jornalistas e trabalhadores da mídia morreram durante a cobertura de conflitos.
Houve, assim, um aumento no número de mortes de jornalistas, em comparação a 2021, que, segundo dados da Federação Internacional de Jornalistas-IFJ, foram 45.
De acordo com o ministro da cultura ucraniana, até junho de 2022, pelo menos 32 jornalistas foram mortos na guerra iniciada pela Rússia.
A organização francesa RSF (Reporters sans Frontiéres - Repórteres Sem Fronteiras) deixou um importante comunicado em seu site oficial.
"A RSF reitera seu apelo às autoridades russas e ucranianas para que cumpram suas obrigações internacionais e garantam a segurança dos repórteres em campo", diz.
Jeanne Cavalier, chefe da RFS para a Europa O r i e n t a l e Ásia Central, disse: “Os jornalistas são os alvos principais, como vimos na Crimeia, desde sua anexação, em 2014, e nos territórios controlados por separatistas apoiados pelo Kremlin na região de Donbass ”.
Cerca de 40 anos atrás, ser correspondente de guerra significava, para muitos, chegar ao mais alto nível da profissão ou seu verdadeiro sentido.
Nos últimos anos, porém, a figura do correspondente de guerra ficou, em sua maioria, reservada a meios de comunicação capazes de suportar os custos. Portanto, os jornalistas da linha de frente são, hoje, principalmente, freelancers.
Novas formas de comunicação e inovações digitais permitiram que muitos reconsiderassem dirigir-se a zonas tão perigosas.
Durante a apresentação do livro 'The War Correspondent', Scott Anderson, conta que, nos anos 80, em El Salvador, ter a palavra 'TV' escrita em seu veículo poderia salvar sua vida. Mas apenas alguns anos depois, na Bósnia, admitir que estava com a imprensa era virar um alvo.
Isso nos leva a pensar o quão vulnerável é a proteção fornecida por um crachá de imprensa.
O CPJ (Committee to Protect Journalists), uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos para a proteção dos jornalistas e da liberdade de imprensa, reuniu um conjunto de recomendações para trabalhadores de notícias em zonas de guerra.
A organização recomenda um curso preparatório, comunicação contínua com os colegas, dispor de equipamento adequado, mas, sobretudo insiste na necessidade de conhecimento da região e das forças envolvidas.
De acordo com um relatório da Repórteres Sem Fronteiras, mais de 300 jornalistas morreram na guerra civil de dez anos na Síria.
Foto: Um comboio de jornalistas escoltados pela polícia, atacados por pessoas pró-Talibã, perto da fronteira afegã, em 10 de outubro de 2001.
Este repórter do Wall Street Journal foi morto no Paquistão em fevereiro de 2002, após ser sequestrado no final de janeiro do mesmo ano. Segundo a CNN, Khalid Sheikh Mohammed é o responsável por sua morte, além de suspeito de haver sido um dos mentores do ataque de 2011 às Torres Gêmeas.
Esta repórter russa foi morta, em plena luz do dia, em Moscou, no ano 2006. Ela era conhecida por suas reportagens sobre corrupção e v i o l a ç õ e s dos direitos humanos, na Chechênia, como também por suas críticas ferozes à política do Kremlin.
Simone Camilli, videojornalista italiano, morreu, em 2014, devido a uma explosão no norte da Faixa de Gaza. Foi o primeiro correspondente internacional a perder a vida no conflito de Gaza naquele ano.
Correspondente de guerra do The Sunday Times, Colvin foi morta durante os confrontos da Guerra Civil Síria, em 2012. Ela havia sobrevivido a uma explosão de granada no Sri Lanka, em 2001, que a fez perder a visão de um olho.
James Foley foi sequestrado no nordeste da Síria, em novembro de 2012. Dois anos depois, apareceu um vídeo de sua decapitação. O Estado Islâmico confessou ser responsável de sua morte.
David Gilkey, fotojornalista americano, e Zabihullah Tamanna, jornalista freelance afegão, foram mortos durante uma emboscada na província de Helmand, no Afeganistão, em 2016.
O jornalista espanhol Julio Fuentes (fotos) e a jornalista italiana do Corriere della Sera foram mortos, em 2001, em Sarobi, no Afeganistão. Dois cidadãos afegãos foram acusados e condenados por suas mortes.
Andrea Rocchelli, fotojornalista italiano, foi morto pela Guarda Nacional Ucraniana, durante o conflito na guerra de Dombass, em maio de 2014. Com ele, estava o ativista de direitos humanos, repórter e intérprete Andrei Mironov, definido pelo Washington Post como "o intérprete que tentou salvar Rússia”. A última fotografia de Rocchelli foi precisamente a do atentado de que foi vítima. Mostrava as condições problemáticas da população.
(Foto: Andrei Mironov- Wikipedia: licença Creative Commons)
Baleado por soldados iugoslavos, durante uma emboscada em Kosovo, o jornalista Gabriel Grüner e seu colega Volker Krämer, da revista Stern, foram os primeiros a serem assassinados em um país da OTAN, durante uma guerra.
(Na foto, centenas de jornalistas aguardam a retomada das negociações sobre a retirada militar sérvia do Kosovo, em 1999, em Kumanovo)
Esses dois jornalistas austríacos foram mortos por um míssil do Exército do Povo Iugoslavo, durante a Guerra de Independência da Eslovênia, em 1991.
Na foto, tropas eslovenas cruzam os campos para juntarem-se ao resto do exército territorial, ao redor do aeroporto de Ljubljana, após a independência.
Este jornalista croata perdeu a vida, assim como centenas de pessoas, em 1991, durante o cerco da cidade croata de Vukovar. Seu corpo só foi encontrado em 1997.
Na imagem, o filho de Siniša Glavašević reflete sobre o legado de seu pai.
Além dos jornalistas que perdem a vida em zonas de guerra, existem os milhares que recebem ameaças, todos os dias.
Em 2021, a comissão do Prêmio Nobel sentiu a necessidade de destacar a importância da liberdade de expressão. Assim, os homenageados foram os repórteres Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia.
Segundo o Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF, quase 500 jornalistas estão presos em todo o mundo (dados de 2021).