De pandemia a endemia: qual a diferença?
Desde o começo de 2020, a pandemia causada por um coronavírus de origem desconhecida mudou nossas vidas para sempre. Agora, há científicos esperançosos de que estejamos prestes a evoluir a uma fase endêmica.
No momento, a erradicação da covid-19 não parece uma meta realista. Para isso, seria necessária uma "vacina esterilizante", que evitasse qualquer possibilidade de contágio.
Neste momento, a Organização Mundial da Saúde considera o planeta em estado de pandemia. Uma pandemia ocorre quando uma doença espalha-se de forma massiva no mundo inteiro. Não se trata de um foco isolado ou vários focos específicos e controláveis.
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Endemia consiste na propagação da doença em grupos específicos ou durante determinados períodos. Como, por exemplo, a gripe normal que ressurge a cada inverno.
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Medidas excepcionais não costumam ser usadas contra doenças endêmicas (fechamento de fronteiras, confinamento etc.). Geralmente, há um monitoramento do número de casos e atenção médica adequada.
A tese mais otimista de alguns médicos é a seguinte: a covid-19, mediante a vacinação em massa ou pelo efeito de ter passado a infecção, não é mais uma doença grave. Poderíamos voltar ao antigo normal (embora mantendo certas precauções).
Em uma entrevista à BBC, Julian Hiscox, presidente da área de Infecções e Saúde Global da Universidade de Liverpool, disse: "É o começo do fim, pelo menos no Reino Unido. Acredito que a vida em 2022 será quase como era antes da pandemia”.
Também para a BBC, Elizabetta Groppelli, virologista da St George's University, em Londres, diz: "A endemicidade estava escrita no vírus. Estou muito otimista. Em breve, estaremos em uma situação em que o vírus estará circulando, mas só nos preocuparemos com pessoas de risco".
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As ondas sucessivas, caso atinjamos o estado de endemia, serão substituídas por números estáveis e momentos de maior contágio sem colapsar hospitais.
O governo espanhol é um dos que defende, na União Europeia, começar a lidar com a covid-19 como uma doença endêmica. O médico de cuidados primários, Albert Planes, que assinou um artigo a favor do retorno à antiga normalidade, resumiu em entrevista ao eldiario.es: "Quem tem coriza ou febre baixa deve ficar em casa, não ir ao médico".
Entretanto, a Organização Mundial da Saúde não acredita que já seja o momento de levantar o alerta que o estado de pandemia acarreta.
Embora a gravidade da covid-19 tenha diminuído, devido à proteção proporcionada pelas vacinas, ainda é uma doença perigosa: se evoluir a uma pneumonia, pode causar a morte ou efeitos muito adversos. Isso sem contar com a “covid persistente”.
Infectar-se pode não nos levar ao hospital, mas a chamada "covid persistente" já foi classificada pela OMS como um somatório de consequências, às vezes incapacitantes, que ocorrem em alguns pacientes. Cansaço, dor e outros sintomas permanecem por um tempo indeterminado.
Embora não haja estudos conclusivos, as vacinas protegeriam também contra a covid persistente. No entanto, o grande número de infecções causadas pela variante ômicron desencadeou a doença especialmente em menores.
A revista Nature informou, no verão de 2021 que, de acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido, “9,8% das crianças de 2 a 11 anos e 13% das crianças de 12 a 16 anos relataram, pelo menos, um sintoma persistente por cinco semanas após um diagnóstico positivo. Portanto, pegar covid pode não ser tão "rotineiro" quanto ter um resfriado.
Mas a principal fonte de instabilidade são os não vacinados: mesmo que sejam minoria, se pegarem covid pela primeira vez, é provável que desenvolvam uma forma grave da doença e isso afetará o sistema de saúde. Para que a covid seja endêmica, 100% da população deve ser vacinada. Ou aproximar-nos desse objetivo.
Espera-se que, tomando como exemplo a ômicron, não surjam mais mutações do vírus que suponham uma maior letalidade ou gravidade. No entanto, pessoas não vacinadas ou não infectadas anteriormente, sem qualquer defesa contra o vírus, podem desenvolvê-las.