De Shakira a Bob Dylan: por que os artistas estão vendendo suas músicas?
As grandes canções da história do pop viraram produtos de altíssimo valor para especular. Investidores e fundos competem para apoderar-se dos direitos das peças musicais mais importantes do mundo.
Por sua vez, os artistas também veem neste negócio uma saída para manter suas rendas. Shakira, por exemplo, está incluída em uma longa lista de gente que vendeu seu catálogo musical por muito (muito) dinheiro.
A quantia pela qual Shakira vendeu suas canções é secreta. Mas, para termos uma ideia de quanto custa um bom catálogo, eis o valor que a Red Hot Chili Peppers cobrou por suas músicas: 140 milhões de dólares.
Assim como Shakira, a Red Hot Chili Peppers vendeu sua obra para o Hipgnosis Songs Fund, um fundo que possui as canções de 50 grandes artistas e continua a expandir sua participação no setor.
O Hipgnosis Songs Fund detém ainda os direitos de Neil Young e Blondie (foto), além de outros artistas como 50 Cent, Enrique Iglesias, Kaiser Chiefs, The B52s e Timbaland.
O proprietário do Hipgnosis Songs Fund é o canadense Merck Mercuriadis. Aos 19 anos, ele começou a trabalhar na sede da Virgin, em Toronto e, atualmente, possui os direitos de mais de 60 mil canções. Isso significa que ele lucra, principalmente, com cada centavo gerado quando esses temas são reproduzidos no Spotify, anúncios, séries, filmes, etc.
Imagem: Por Jill Furmanovsky / rockarchive, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=98136160
Mas o Hipgnosis Songs Fund não é o único em busca de catálogos de estrelas do pop. De acordo com o Financial Times, o fundo de capital de risco Shamrock Capital comprou as canções de Taylor Swift por 300 milhões de dólares.
Já Bob Dylan vendeu todas as suas criações para a Universal por uma quantia estimada, segundo o The New York Times, em 300 milhões de dólares. O mercado pagou o mesmo valor para Taylor Swift.
David Crosby, uma estrela icônica dos anos 1960, cujas canções com a banda Crosby, Still, Nash & Young são hinos da era hippie, também vendeu seu catálogo. Neste caso, para o Iconic Artist Group.
O fato é que a pandemia acelerou o processo de venda de músicas. Impossibilitados de fazerem shows, os músicos viram suas rendas diminuirem, de forma que preferiram renunciar aos lucros de seus trabalhos em troca de um boa quantia de dinheiro.
Para outros artistas, a decisão representa também sua aposentadoria do trabalho artístico. Paul Simon, por exemplo despediu-se definitivamente do palco e decidiu vender suas canções para a Sony.
A aquisição dos direitos de publicação de canções de estrelas do rock e do pop não é um fenômeno novo. Em 2006, Courtney Love optou por vender metade da obra de Kurt Cobain para a Primary Wave Music Publishing.
A Primary Wave Music Publishing possui outros catálogos importantes, de forma parcial ou total: Def Leppard, Chicago, Katrina & The Waves, Steve Earle ou Steven Tyler (foto).
No caso dos Beach Boys, a venda vai além das músicas. A mítica boy band vendeu seu catálogo para o Iconic Artist Group, bem como o nome e os direitos de exploração de sua marca.
As canções podem ser negociadas na bolsa de valores como se fossem empresas e, inclusive, em mercados de matérias-primas como o petróleo. O preço pode variar e cada catálogo é vendido ou revendido, visando o lucro.
Imagem: Nick Chong / Unsplash
Vem à memória aquele momento histórico em que Michael Jackson, em 1985, comprou os direitos das músicas dos Beatles por 47 milhões de dólares. Uma quantia que na época era considerada imensa e, hoje, parece escassa.
Atualmente, viver da música é difícil. As vendas de discos não dão tanto dinheiro como antes. E o que o Spotify, YouTube ou outras plataformas semelhantes oferecem é só uma pequena quantia, caso o trabalho não alcance milhões de reproduções.
Imagem: Austin Neill / Unsplash
Da mesma forma que as gravadoras ficam com um percentual dos lucros das turnês dos seus artistas, os contratos poderão instituir que as músicas sejam de quem investe em um artista emergente.
Imagem: Naioa Shizuru / Unsplash
O importante é que a música não pare. E que, depois da pandemia, os shows voltem e os artistas recuperem suas fontes de renda para poder pagar suas mansões ou seus apartamentos modestos, a depender de seu lugar no estrelato.