Putin e Biden negociam um acordo de paz?
Nas últimas semanas, multiplicaram-se as informações sobre um possível empenho por parte dos Estados Unidos para que a Rússia chegue a um acordo com a Ucrânia, com relação à guerra.
O fato é que, no último dia 14 de novembro, houve um encontro em Ankara (capital da Turquia) entre William Burns (foto), diretor da CIA, e o diretor de espionagem russo, Serguéi Naryshkin.
Segundo The New York Times, na ocasião, os homólogos discutiram a amplificação dos "esforços da administração para intensificar suas comunicações" com a Rússia. Foi uma agenda inconcreta que deu lugar a especulações.
A Casa Branca, entretanto, negou que exista uma negociação deste tipo em andamento. Mas, nos últimos tempos, sim que houve um aumento de diálogo com o Kremlin por parte da administração de Biden.
Recentemente, o The Washington Post lançou a seguinte manchete: "EUA pede em privado à Ucrânia que se abra a negociações com a Rússia".
Depois disso, outros meios de comunicação sugeriram que uma conversa multipartidária incipiente poderia estar em andamento entre os países em guerra.
A agência Tass citou uma entrevista de Maria Zajárova (foto) na TV. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia garantiu que foram mantidos "contatos pontuais" com Washington: "Estamos abertos a qualquer tipo de diálogo".
Esta revelação confirmou que existe algum tipo de diálogo entre o Kremlin e a Casa Branca. De fato, segundo The Washington Post, Jake Sullivan, conselheiro sênior de segurança nacional de Joe Biden, falou várias vezes, nos últimos meses, com pelo menos dois altos funcionários do governo russo.
O próprio Jake Sullivan confirmou, pouco depois, que os contatos com o Kremlin são mantidos, segundo a BBC, "no interesse" dos Estados Unidos.
No entanto, oficialmente (e, acima de tudo, diante da opinião pública ucraniana) Zelensky se opõe absolutamente a qualquer negociação com a Rússia. Mas não há forma de comunicação entre a Rússia e a Ucrânia? Ambas as nações não se falam?
A verdade é que, já em março de 2022, houve uma reunião com delegações de alto nível da Ucrânia e da Rússia (na foto, os membros da delegação ucraniana vestem trajes de guerra) para chegar a um acordo sobre a exportação de grãos. A reunião foi realizada na Turquia.
Recep Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia, é um líder que tenta agir como mediador. Seu país tem excelentes relações comerciais e políticas com a Rússia e, ao mesmo tempo, é membro da OTAN e aliado do Ocidente.
Desde o início do conflito, negociações relacionadas à guerra costumam ser feitas em solo turco. Erdogan ganha, assim, um imenso prestígio internacional que, talvez, faria esquecer seus modos autocráticos.
Mas o curso da guerra, com a Rússia em retirada e a Ucrânia sentindo-se forte, poderia significar que os ucranianos têm pouco desejo de negociar um acordo de paz. Especialmente se isso significar ceder território à Rússia.
Prova disso foi a rejeição da opinião pública ucraniana quando Elon Musk disse (em um tweet, é claro) que talvez a Ucrânia pudesse alcançar a paz cedendo a Crimeia. Por declarações como essa, o New York Times chamou Musk de "agente do caos" no mundo.
Mas a Europa está angustiada devido às restrições energéticas e consequências econômicas da guerra na Ucrânia.
Líderes como Macron, da França, e Scholz, da Alemanha, insistem que um diálogo seja aberto. De fato, no mês de maio, eles telefonaram para Putin e pediram que entrasse em contato direto com Zelensky.
Segundo a BBC, Putin disse sim ao possível diálogo. Mas sem especificar muito mais. Mas, na época, a posição da Rússia na guerra era muito mais forte, mantinha territórios conquistados e ainda conseguia avançar.
Por sua vez, ainda segundo a BBC, a proposta de diálogo direto feita por Macron e Scholz foi rejeitada por Zelensky, embora não completamente.
O presidente ucraniano disse que não se sente "ansioso" para conversar com Putin, mas admitiu que para colocar um fim definitivo ao conflito, uma hora ou outra, eles terão que conversar.
Ao que tudo indica, não existem, no momento, negociações abertas mesmo com estes contatos pontuais. E, como escreveram Rajan Menon e Daniel R. DePetris no Politico, uma solução, através do diálogo, não parece ser contemplada a curto prazo.
Rajan Menon e Daniel R. DePetris lembram no Politico que "nos últimos 200 anos, as guerras duraram pouco mais de três meses em média". Já passamos dessa marca. A barreira inicial de medo e sofrimento foi superada, muitos se acostumaram com a guerra e os envolvidos estão dispostos a continuar.
Neste momento, de acordo com a análise publicada no Politico, nenhum dos concorrentes tem qualquer incentivo para entrar em acordo.
Enquanto a Ucrânia alcança sucessos militares, a Rússia espera esmagá-la, com a chegada do inverno, destruindo sua infraestrutura para que a população fique sem eletricidade e água potável.
"Para que a diplomacia seja viável, a Rússia e a Ucrânia (ou pelo menos uma delas) devem chegar ao ponto de acreditar que conversar é melhor do que lutar. Não estamos perto deste ponto", argumentam Rajan Menon e Daniel R. DePetris.