Iceberg gigante vaga livremente no oceano: perigo ou benção?
Um dos maiores icebergs do mundo está, finalmente, livre, depois de passar mais de 30 anos preso na Antártida. Para onde se dirige e os perigos potenciais que representa têm sido estudados pelos cientistas.
O iceberg antártico A23a não é um típico pedaço de água congelada. Mede, aproximadamente, 4.000 quilômetros quadrados e pesa cerca de um trilhão (em escala americana) de toneladas.
De acordo com a Reuters, o iceberg separou-se, originalmente, da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártica Ocidental, em 1986, mas estava preso na área, desde então.
A base da A23a ficou presa no fundo do Mar de Weddell e o iceberg permaneceu nessa posição até recentemente. Imagens de satélite revelaram que o A23a está a mover-se em direção ao extremo norte da Antártica.
Foto: Wiki Commons por Rooiratel - Trabalho próprio, CC BY-SA 4.0
O glaciologista da British Antarctic Survey, Oliver Marsh, disse à Reuters que era raro ver um iceberg desse tamanho em movimento.
No dia 24 de novembro, a British Antarctic Survey publicou no Twitter uma série de imagens, feitas pelo Copernicus Sentinel-1, em que mostram o caminho que o A23a tem percorrido desde o seu lançamento, pela primeira vez, em mais de três décadas.
O A23a move-se ao longo da costa da Antártica e dirige-se ao extremo norte do continente.
Foto: Wiki Commons Por Twitter @BAS_News via imagens Copernicus Sentinel-1, Google Earth Engine
Sobre o motivo do desprendimento do A23a, Oliver Marsh disse à Reuters: “Com o tempo, provavelmente, diminuiu um pouco e ganhou flutuabilidade extra, que lhe permitiu levantar-se do fundo do oceano e ser empurrado pelas correntes oceânicas”.
Foto: Wiki Commons por Twitter @BAS_News
Andrew Fleming, especialista em sensoriamento remoto da British Antarctic Survey, explicou à BBC News que o A23a esteve à deriva nos últimos anos e que, agora, teria sido o momento de se libertar.
Foto: Wiki Commons por Twitter @BAS_News
“Discuti com alguns colegas sobre se havia alguma possível mudança nas temperaturas da água da plataforma que pudesse ter provocado isso, mas o consenso é que a hora tinha acabado de chegar”, disse Fleming à BBC.
Foto: Wiki Commons Por NASA Goddard Space Flight Center de Greenbelt, MD, EUA - Pequenos icebergs tabulares, CC BY 2.0
“Ele estava aterrado desde 1986, mas, eventualmente, diminuiria [em tamanho] o suficiente para perder aderência e começar a se mover”, explicou Fleming.
Os pesquisadores da British Antarctic Survey avistaram, pela primeira vez, o movimento do A23a, em 2020, e disseram que ele poderia encalhar, novamente, na Ilha Geórgia do Sul, o que seria um grande problema para a vida selvagem local.
O The Guardian relatou que milhões de animais como focas, pinguins e aves marinhas se reproduzem na Ilha Geórgia do Sul e se alimentam nas águas que a rodeiam. Se o A23a ficar preso perto da ilha, poderia cortar o acesso a esses criadouros e áreas de alimentação.
Segundo reportagem especializada da BBC, “eventualmente, todos os icebergs, por maiores que sejam, estão condenados a derreter e a murchar”. Mas isso não é, necessariamente, uma coisa ruim.
“À medida que estes grandes icebergs derretem, libertam o pó mineral que foi incorporado no seu gelo quando faziam parte dos glaciares que raspavam ao longo do leito rochoso”, explica o artigo. “Essa poeira é fonte de nutrientes para os organismos que formam a base das cadeias alimentares oceânicas".
Assim, a aventura da A23a apresenta riscos, mas também pode revelar-se uma bênção para o Atlântico Sul, mesmo que seja um triste lembrete de que a outrora poderosa camada de gelo da Antártida está em declínio, devido às alterações climáticas.