Munições de urânio empobrecido na Ucrânia: o que são e por que enfurecem Putin?
Recentemente, a ministra da Defesa do Reino Unido, Annabel Goldie, confirmou que seu país fornecerá às Forças Armadas ucranianas projéteis contendo urânio empobrecido.
Após um encontro com o presidente chinês Xi Jinping, Putin foi informado sobre a declaração de Annabel Goldie e disse que haverá consequências, se o Reino Unido levar este plano adiante.
"Gostaria de observar que, se tudo isso acontecer, a Rússia terá que responder de acordo", explicou Putin, segundo a CBS News. "O Ocidente coletivo já começou a usar armas com componente nuclear", acrescentou.
Entretanto, projéteis de urânio empobrecido e dispositivos nucleares não devem ser comparados, como Putin fez.
De acordo com a Associated Press, as munições de urânio empobrecido foram desenvolvidas, pela primeira vez, pelos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, com o objetivo específico de destruir tanques T-72, os mesmos que a Ucrânia enfrenta.
Em 2000, David Hambling, do The Guardian, explorou as propriedades únicas das munições de urânio empobrecido e as chamou de “arma preferida dos destruidores de tanques”.
O urânio empobrecido é um metal extremamente duro e denso, o que o torna mais importante do que a velocidade do projétil, para romper a blindagem espessa de um tanque.
“A penetração da blindagem é aumentada pela concentração da força de um projétil na menor área possível, de modo que os projéteis tendem a parecer dardos gigantes. Quanto mais denso o projétil, mais forte o impacto para um determinado tamanho”. escreveu Hambling.
Foto de Aick, Trabalho próprio, Wiki Commons
De acordo com a Associated Press, o urânio empobrecido é o material que resta, após o processo de enriquecimento do metal pesado, necessário para produzir armas nucleares. Assim, como subproduto, não possui as propriedades do urânio enriquecido.
No entanto, o urânio empobrecido ainda retém parte de sua radioatividade, embora não é considerado uma arma nuclear, de acordo com a professora de estudos de defesa do King's College London, Dra. Marina Miron, em entrevista à BBC News.
"Os projéteis de urânio empobrecido não foram feitos para envenenar pessoas. São usados por causa de sua capacidade de perfurar armaduras".
De fato, em 2007, um relatório das Nações Unidas sobre o uso de urânio empobrecido não encontrou “nenhuma patologia clinicamente significativa relacionada à exposição à radiação de urânio empobrecido”.
Entretanto, a Agência Internacional de Energia Atômica acredita que, sim, podem existir riscos associados ao manuseio de armas de urânio empobrecido. Um estudo realizado em 2019 relaciona as armas a defeitos congênitos, em Nasiriyah, no Iraque.
Além disso, segundo a Euronews, cerca de 400 oficiais militares morreram na Itália, e outros 8 mil ficaram gravemente doentes, após sua exposição a projéteis de urânio empobrecido, durante os bombardeios da OTAN, em 1999, na Iugoslávia.
"Se os projéteis de urânio empobrecido caírem no solo poderiam contaminá-lo. É por isso que os EUA e seus aliados da Otan provocaram polêmica quando os usaram em Kosovo", disse a Dra. Miron.
Cerca de 30 mil munições de urânio empobrecido foram disparados durante o conflito nos Bálcãs, de acordo com um relatório do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Mas uma meta-análise posterior mostrou que a munição não teve impacto na saúde das pessoas em Kosovo.
Apesar de tudo, Putin ainda vê o uso de projéteis de urânio empobrecido pela Ucrânia como uma ameaça nuclear, mas talvez seu desconforto tenha mais a ver com a forma que estas armas poderiam mudar o campo de batalha.