Supermedicação em idosos: um problema real
Apesar dos benefícios dos medicamentos modernos, o excesso de prescrição coloca milhões de idosos em situação se risco. Um relatório divulgado em 2019, pelo Lown Institute ('Medication Overload - America's Other Drug Problem'), conta detalhes sobre a terrível epidemia da polifarmácia, nos Estados Unidos. Afinal, o que é isso?
A polifarmácia é definida como o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos. E mais de 40% dos adultos idosos faz uso dela. São três vezes mais a quantidade de vinte anos atrás, de acordo com o CDC.
Se incluirmos os medicamentos e os suplementos vendidos sem receita médica, podemos dizer que quase 20% dos idosos tomam dez ou mais fármacos, ao mesmo tempo. Alguns chegam até a mais de duas dúzias de medicamentos diferentes, de acordo com uma pesquisa da Slone Epidemiology Center.
Todos os dias, 750 pessoas com 65 anos ou mais são hospitalizadas, nos EUA, por um efeito adverso de um ou mais medicamentos, segundo o Lown Institute. Na última década, os idosos procuraram tratamento médico para combatê-los, mais de 35 milhões de vezes.
O Lown Institute estima que, se nada for feito, a sobrecarga de medicamentos levará a 150 mil mortes prematuras, na próxima década, e reduzirá a qualidade de vida de milhões de idosos.
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Além disso, haverá 4,6 milhões de hospitalizações por sintomas adversos graves, relacionados à sobrecarga de medicamentos, e 74 milhões de consultas ambulatoriais, a um custo total de, pelo menos, 60 bilhões de dólares.
Para pacientes mais velhos, os medicamentos inapropriados prescritos mais comumente são: inibidores da bomba de prótons, como Nexium e Prilosec, benzodiazepínicos, como Xanax e Ativan, e antidepressivos tricíclicos. Tudo isso, de acordo com uma análise de dados do Medicare.
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Michael Schoenbaum, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde, disse ao New York Times que fraturas e quedas já são um perigo comum para pessoas idosas. Os acidentes podem se tornar ainda mais recorrentes, porque os “benzos” causam tonturas. Este tipo de medicamento também está associado a acidentes automobilísticos, já que provocam sonolência e fadiga.
De acordo com o Dr. Donovan Maust, psiquiatra do Veterans Affairs Ann Arbor Health Care System, o fármaco citado anteriormente também provoca efeitos negativos na memória e em outras funções cognitivas. Alguns estudos mostraram, inclusive, uma associação deste remédio com demência e Alzheimer, embora especialistas considerem que as evidências, até o momento, são inconclusivas, de acordo com o New York Times.
Embora tenham um efeito calmante, são altamente viciantes, de acordo com os American Addiction Centers. Sua retirada pode durar até um ano ou mais, por isso, não devem ser usados por mais de um mês.
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Keith Humphreys, pesquisador da Universidade de Stanford, disse ao The New York Times que muitas pessoas tomam benzodiazepínicos por anos. Descrevê-las como “dependentes” normalmente causa um sentimento de raiva, por conta do estigma negativo em torno a problemas do vício.
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Cerca de 12,6% dos adultos estadunidenses tomam benzodiazepínicos e seu uso indevido é feito por quase 20% dos pacientes, de acordo com o PubMed. Comprar o fármaco sem prescrição é o tipo mais comum de uso indevido.
Por exemplo: tomar a dose incorreta do fármaco, tomá-lo fora de hora, esquecer uma dose, interromper seu uso antes do previsto ou tomá-lo por outros motivos que não aquele pelo qual foi prescrito.
É comum os idosos irem a médicos diferentes, que receitam remédios distintos. Isso pode fazer com que tomem a pílula errada, ou a dose errada e na hora errada. Os pacientes muitas vezes não sabem quais medicamentos são essenciais, assim, podem deixar de tomar um medicamento necessário, enquanto aderem fielmente a um fármaco menos vital, de acordo com o JAMA Internal Medicine.
Dr. Ariel Green, geriatra e pesquisador do centro Johns Hopkins, disse ao The New York Times que as prescrições estão sendo reescritas, ano após ano, sem que ninguém explore por que foram inicialmente necessárias. Seria urgente rever este método de renovação das receitas médicas, para avaliar se o medicamento permanece eficaz.
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A maioria dos idosos diz que está disposta a reduzir seus medicamentos, de acordo com um estudo de 2018, publicado no JAMA Internal Medicine, mas, paradoxalmente, também acredita que todos os seus medicamentos são necessários.
O plano de ação do Lown Institute oferece recomendações em várias áreas. A principal seria aumentar a conscientização sobre a sobrecarga de medicamentos entre os pacientes e a comunidade de saúde, bem como os agentes políticos.
Os médicos precisam saber quais medicamentos seus pacientes já tomam, e conhecer quais as diretrizes da prática clínica, para poder suprir as necessidades de pacientes mais velhos, segundo o Lown Institute.
Os médicos precisam receber ferramentas para realizar uma atualização eficaz da prescrição. É preciso avaliar a carga de medicamentos de seus pacientes e atualizá-la.
Além disso, é fundamental sensibilizar os profissionas da saúde sobre os perigos da sobrecarga de medicamentos. Eles precisam saber como evitar o excesso de prescrição, sendo capazes de desprescrever, quando o paciente estiver sobrecarregado.
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De acordo com o Lown Institute, a grande influência da indústria farmacêutica ajudou a persuadir pacientes e prescritores a usar uma pílula para cada doença.
Um grupo de líderes de saúde, médicos, tomadores de decisão e pesquisadores acadêmicos trabalha para promover o conhecimento e a desprescrição de medicamentos que podem não ser mais benéficos e, inclusive, causar danos.
Esta instituição, nos EUA, especializada em pacientes idosos, também adotou uma estratégia de desprescrição, já que os pacientes mais velhos, com transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade ou depressão, geralmente tomam benzodiazepínicos.
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